Finanças
Bolsa fecha nos 95 mil pontos com cenário externo; menor patamar desde junho
Aversão ao risco gerou um movimento de sell-off nas big techs americanas
O Ibovespa não conseguiu segurar a recuperação nesta quarta-feira (23). O índice fechou em queda de 1,60% aos 95.734 pontos. Este foi o menor patamar da bolsa desde o dia 30 de junho, quando o índice chegou aos 95.055 pontos.
As bolsas americanas também encerraram o dia no negativo, repercutindo a desaceleração econômica no mês de setembro. O índice S&P 500 recuou 2,37%, enquanto Dow Jones cedeu 1,92% e Nasdaq caiu 3,02%.
Com forte aversão ao risco, as big techs foram alvo de vendas. Um forte movimento de sell-off afetou ações de companhias como Amazon, Netflix e Apple.
Pesou no desempenho em Wall Street o resultado do PMI de serviços. O IHS Markit apresentou queda de 54,6 pontos em setembro, contra 54,8 pontos em agosto. A queda simboliza uma desaceleração da retomada econômica. Já o IHS de manufatura subiu 0,4 pontos, ficando em 53,5 pontos em setembro.
O aumento de casos de covid-19 na Europa também impactou no movimento das bolsas americanas, reforçando a fala de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed) de que será necessário mais estímulos econômicos para recuperar os EUA.
Para Nicolas Merola, analista da Inversa, a segunda onda de infecções na Europa continua sendo o vetor principal que afeta os mercados globais. Setores pressionados durante a crise, podem sofrer novamente impactos. “Hoje o pregão deu continuidade a este vetor de desvalorização. Além da preocupação com o teto de gastos que permanece em alta”, avalia.
Como ativo de segurança, o dólar se valorizou ante o real. O dólar comercial fechou em alta de 2,15%, cotado a R$5,5869. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a R$ 5,588.
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No cenário interno, as ações da Petrobras impactaram no desempenho do índice. Os papéis preferenciais (PETR4) desvalorizaram 2,74%, enquanto as ações ordinárias (PETR3) recuaram 2,44%.
Apesar da alta do petróleo no mercado internacional, as ações da companhia cedem diante do desconforto de investidores em relação à suspensão de venda de refinaria da empresa pelo STJ, que gera insegurança jurídica. As privatizações estão sendo analisadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após as Mesas do Senado e da Câmara dos Deputados pedirem que esses desinvestimentos sejam previamente avaliados no Congresso. O petróleo Brent para novembro fechou em alta de 0,11%, a US$ 41,77 o barril. E o petróleo WTI subiu 0,32%, a US$ 33,93 o barril para o mesmo período.
Apesar da forte alta das ações da Vale (VALE3) que valorizaram 2,23%, não foi possível impedir o Ibovespa de voltar ao campo negativo.
Preocupa também os investidores as conversas reservadas entre o governo e parlamentares sobre a criação de um tributo para transações digitais, nos modelos da extinta CPMF.
O assunto ainda pode acentuar a já tumultuada relação entre o governo e o Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sempre se manifestou contrário à criação de tributo.
A alta de 0,45% do IPCA-15 em setembro, que veio acima da mediana, reforçou que o Banco Central não tem mais espaço para cortar a Selic. Há risco de um possível aumento de juros.
Destaques da bolsa
Entre as maiores altas do dia subiu a Localiza (RENT3), com valorização de 13,97%. As ações dispararam com notícia de que a companhia vai incorporar as ações da Unidas, criando um negócio consolidado com receita líquida de R$ 14,8 bilhões. Os acionistas da Localiza passam a deter 76,85% da companhia e os acionistas da Unidas ficariam com 23,15%.
Subiu também o IRB Brasil (IRBR3) com alta de 9,57%. A ação disparou após a resseguradora divulgar prejuízo líquido de R$ 62,4 milhões em julho. A companhia teria um lucro de R$ 36 milhões sem a descontinuação dos negócios.
A terceira maior alta do dia foi da Vale (VALE3) que valorizou 2,23%, apesar da queda do minério de ferro negociado em Qingdão (China), a US$ 114,40 a tonelada.
Entre os destaques negativos a Braskem (BRKM5) cedeu 6,18%. Recuaram também a Totvs (TOTS3) e a PetroRio (PRIO3) com queda de 4,54% e 4,52%, respectivamente.
Bolsas americanas
As bolsas de Nova York não mostraram sinal único no início do dia, mas pioraram ao longo do pregão e fecharam nesta quarta-feira (23), com recuos consideráveis. A disseminação da covid-19 e seus riscos para a atividade, discursos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) insistindo na necessidade de mais apoio fiscal e notícias de empresas pesaram, com as gigantes do setor de tecnologia bastante pressionadas.
O índice Dow Jones fechou em queda de 1,92%, em 26.763,13 pontos, o S&P 500 caiu 2,37%, a 3.236,92 pontos, e o Nasdaq recuou 3,02%, a 10.632,99 pontos. O Nasdaq está em território de correção, caracterizado por queda de ao menos 10% em relação a um pico recente.
Certa realização de lucros foi em parte responsável pelo movimento de hoje, mas este se aprofundou à tarde, em quadro de menor apetite por risco entre investidores. Entre os setores, energia e tecnologia estiveram entre as maiores baixas. Tesla foi uma ação em foco, após evento com anúncios que não empolgaram o mercado, com baixa de 10,34%. Entre gigantes dos setores de tecnologia e serviços de comunicação, Apple caiu 4,19%, Amazon recuou 4,13% e Microsoft, 3,29%. Entre outros papéis importantes, Boeing fechou em baixa de 3,58% e, entre os bancos, Citigroup perdeu 3,33% e JPMorgan, 1,62%, em meio à notícia de que este pode ter de pagar multa elevada nos EUA.
Agentes como o Bank of America destacaram ainda o aumento da disseminação da covid-19 no país. Entre os dirigentes do Fed, o presidente Jerome Powell voltou a mostrar compromisso no apoio à atividade, mas foram renovados os pedidos de mais auxílio fiscal. Com o Congresso de olho nas eleições e, agora, na vaga a preencher na Suprema Corte, analistas dizem que ficou mais difícil avançar com a nova rodada de estímulos.
Antes do fechamento, o presidente americano, Donald Trump, acusou a oposição democrata de preparar uma “fraude” na disputa eleitoral e comentou que ela pode terminar na Suprema Corte. Trump não detalhou sua hipótese, mas em meio às declarações os índices acionários pioraram na reta final do pregão.
*Com Estadão Conteúdo