Finanças
Colapso do SVB não deve afetar ‘bancões’ brasileiros, dizem analistas
Especialistas esperam impacto operacional pequeno, já que há poucas operações com bancos médios de fora.
O colapso do banco americano Silicon Valley Bank (SVB), que teve sua falência decretada na última semana após não conseguir mais saldar dívidas em meio ao aumento da taxa de juros nos Estados Unidos, gera incertezas sobre os impactos para o setor bancário brasileiro. Afinal, a crise imobiliária americana de 2008, que culminou na quebra do Lehman Brothers, afetou o mundo todo. Mas analistas avaliam que, desta vez, a situação não deve afetar diretamente os bancos do país, especialmente os maiores.
Entre os motivos apontados pelos especialistas para a perspectiva de que os “bancões” brasileiros não sejam tão impactados é o alcance de suas operações.
“O impacto operacional seria muito pequeno, porque os bancos brasileiros, como Itaú e Bradesco, têm poucas operações com bancos médios lá de fora e que têm uma exposição maior em startups”
Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research
Nesse sentido, Daniela Lopes, da Nord Research, explica que essa não é uma crise sistêmica igual a 2008. “Pois, na época, todo o sistema financeiro se interligava”, compara. Ao mesmo tempo, ela alerta que, com certeza, podemos ver mais “esqueletos no armário”.
Ricardo Veles, diretor financeiro da Futurum Capital, faz um contraponto. Ele diz que todos os bancos, em maior ou menor grau, estão expostos ao risco sistêmico que é gerado em decorrência da quebra de um banco com grande relevância global.
Ao mesmo tempo, ele lembra que, diferentemente de outros países, o Brasil, por intermédio do Banco Central, tem um controle mais rígido quanto à emissão de crédito. A autoridade não permite, por exemplo, que um ativo seja objeto de lastro para tomada de empréstimo por mais de uma instituição.
“Dada a regulação sobre os bancos, o investimento de instituições brasileiras tende a ser mais conservador se compararmos com outros bancos que não passam por crivo semelhante para suas atividades”, explica.
Para o especialista, mesmo diante de um cenário ainda não definido, as ações dos bancos brasileiros no momento são ativos menos voláteis se comparadas aos pares internacionais.
De olho nas ações
Para Larissa Quaresma, da Empiricus, dentro do universo de ações, os grandes bancos brasileiros continuam sendo considerados “um investimento seguro”.
Ao fazer referência as fintechs financeiras, que por muito tempo foram vistas como substitutas dos bancos tradicionais, Daniela, da Nord, acrescenta que o mercado retoma agora a “preferência por bancões“.
Entre as indicações da especialista está a ação do Itaú. O banco é o escolhido pela casa em função da “retomada na distribuição de capital por parte da companhia, além de um conservadorismo nas linhas de crédito e estabilização (sem perder mercado) em seguros e serviços”.
Quaresma, da Empiricus, também tem preferencia pelo Itaú (ITUB4), “que tem um balanço forte e carteira de crédito conservadora com garantias, principalmente para pessoas físicas”.
O papel ITUB4 é recomendado por diversas outras casas. A ação preferencial do Itaú é o segundo ativo mais indicado por analistas para o mês de março, de acordo com levantamento feito pelo InvestNews com 13 carteiras recomendadas por bancos e corretoras.
Outro papel que está na lista da Nord é o do BTG Pactual (BPAC11), por ter “presença maior no mercado institucional, o que mantém seus resultados acima de bancos mais concentrados no varejo, além de manter o ano de 2023 com foco em alta renda e banco digital”, avalia.
SVB x bancos brasileiros
Quaresma explica que o SVB investia grande parte dos ativos próprios em títulos “‘mantidos até o vencimento” – ou seja, sem marcação a mercado – que é a atualização diária do preço de um ativo de acordo com a variação do mercado – para investidores que carregam o investimento até o prazo final.
Porém, depois de sofrer resgates de correntistas, na maioria startups, o banco foi obrigado a vender títulos antes do vencimento, o que levou a realização de prejuízos. “Foi aí que o mercado começou a prestar a atenção. Os correntistas entraram em pânico e passaram a sacar mais ainda dinheiro, o que gerou a quebra do banco”, diz.
Larissa afirma que, ao fazer uma análise dos grandes bancos brasileiros para entender como os ativos próprios estão investidos, é possível notar que o percentual de “mantidos até o vencimento” é pequeno.
“No caso do SVB era de 50%. No Brasil, o Itaú, que é mais alto, tem cerca de 20%. Mas são investimentos muito conservadores, como títulos do Tesouro e debêntures de grandes empresas”, explica.
Larissa alerta ainda que o banco americano tinha diversos ativos arriscados que precisariam ser mantidos até vencimento, como os lastreados em hipotecas de pessoas físicas residenciais, “que tiveram uma marcação a mercado brutal”.
Juros elevados podem piorar cenário?
Se os especialistas alertam que a subida de juros nos Estados Unidos foi um dos fatores que levou à falência do banco SVB, no Brasil as taxas de juros afetam os resultados de tesouraria dos bancos brasileiros, de acordo com a analista da Empirucus. A Selic está em 13,75% ao ano.
Além disso, a analista explica que as taxas de juros têm dois efeitos opostos sobre os bancos. De um lado, há um aumento do spread de crédito (diferença entre a taxa paga pelo cliente na hora de pedir dinheiro emprestado e o que o banco remunera para o investidor), já que os bancos conseguem gerar receitas de juros maiores. Ao mesmo tempo, o avanço nos juros gera um maior nível inadimplência, cenário que impacta de maneira diferente as instituições.
“Nos bancos que têm carteira de crédito mais agressiva, o efeito da inadimplência está sendo maior do que o efeito de melhoria no spread. É o que estamos vendo com Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11)”, avalia Quaresma.
As receitas com os investimentos, indicador bastante importante dos balanços dos bancos e que compõem a “margem com o mercado”, é outro ponto importante.
Para a analista da Empiricus, os bancos que têm se “perdido” nessa estratégia são Santander e Bradesco, que tem tido “prejuízos na ordem de R$ 500 milhões por trimestre em tesouraria, ou seja, estão perdendo dinheiro nos investimentos de carteira própria”.
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