Finanças
Com inflação em alta, retorno de Fiagros negociados na B3 supera 17% em 6 meses
Pouco mais de 1 ano após começarem a ser listados, fundos do agronegócio possuem 94% de pessoas físicas entre investidores.
O Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) negociado na B3, bolsa de valores brasileira, que teve o melhor desempenho nos últimos 6 meses foi o VGIA11, da BTG Pactual, com rentabilidade de 17,97% no período. O fundo investe, principalmente, em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e ativos de liquidez.
O levantamento realizado pela provedora de dados financeiros Economatica, a pedido do InvestNews, mostra a evolução dos Fiagros, com mais de seis meses de negociação, entre 22 de fevereiro a 22 de agosto deste ano. (Veja abaixo a lista completa)
Os Fiagros começaram a ser listados e negociados na B3 há pouco mais de um ano. Atualmente, estão listados na B3 24 fundos do tipo, mas apenas 21 são negociados no momento.
“A rentabilidade dos últimos 6 meses está bem acima da média por dois fatores. Alta demanda, que beneficia alguns contratos que detêm participação em empresas do setor (Fiagro-FIP), e logo influenciando o bom rendimento do setor. E também muitos contratos, em especial os Fiagros-FIDC, que investem em ativos creditórios da agroindústria com o contrato atrelado ao IPCA+ [que acompanha a inflação]”, afirma Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos.
De acordo com Alves, o cenário atípico da rentabilidade não deve perdurar. “Como a inflação foi muito alta nos últimos meses, a rentabilidade dos Fiagros foi muito acima da média, o que não necessariamente deve se repetir com o arrefecimento da inflação.”
O Fiagro FGAA11, por exemplo, que começou a ser negociado em 12 de janeiro deste ano, aparece na segunda colocação do ranking fornecido pela Economatica, com retorno de 17,54% em seis meses.
A carteira do fundo é composta por ativos de “papel”, principalmente, por Certificados de Recebíveis do Agronegócio e Imobiliários (CRAs e CRIs) e Letras de Crédito do Agronegócio e Imobiliário (LCAs e LCIs).
Na terceira posição, ficou o EGAF11 da Eco Gestão de Ativos Ltda, com retorno de 14,84%. Em maio, o fundo possuía quase 98% da carteira alocada em CRAs.
A lanterninha de todos os Fiagros negociados na B3 ficou com o BBGO11, da BB DTVM S.A, com desempenho negativo de 6,87%. O fundo investe em títulos de crédito ou valores mobiliários vinculados ao agronegócio.
De acordo com especialistas ouvidos pelo InvestNews, um dos motivos para os Fiagros Vgia e Fga terem tido rentabilidade acima de 17% pode ser o rápido giro de carteira, que permite o ganho de capital por meio da compra de papeis primários (quando acontece na oferta inicial das cotas) e venda no mercado secundário (de investidor para investidor) com taxa mais comprimida. Além disso, o tamanho do caixa do fundo também interfere.
Já um dos motivos para rentabilidade negativa do BBGO11 foi o lançamento de um IPO (oferta inicial) que demorou para originar os papéis para investir dentro do fundo, já que, após o lançamento, é necessário pagar taxas como de emissão, que é de cerca de 4% ao ano, além dos custos da gestão e administração do fundo.
Pessoas físicas são maioria dos investidores
A bolsa de valores brasileira possuía 80.276 investidores em Fiagros até julho deste ano. Desse montante, a maioria é de pessoas físicas, totalizando 79.791 investidores.
O número de investidores em Fiagros negociados na B3 aumentou 15% de junho para junho. Naquele mês, os investidores somavam 69.400.
O motivo de 94,8% dos investidores de Fiagros serem pessoas físicas pode ser explicado pelo perfil das ofertas que estão sendo lançadas inicialmente, que em sua maioria estão sendo “cetipadas”, com negociação permitida só via mercado de balcão (operações fora da bolsa).
“É preciso vender para um terceiro que pode ser com ágio ou deságio, em um movimento meio que ‘no escuro’, pois depende de cotação. É o tipo de movimento que o investidor institucional e estrangeiro normalmente opta por não fazer em caso de emissão primária, pois ficará com uma liquidez e poder de negociação relativamente limitado, por isso também esse tipo de fundo tem feito muito sucesso com o investidor pessoa física, em especial pelos bons rendimentos”, explicou Idean Alves.
Neste ano, de janeiro a julho, o volume total dos fundos captados pelos Fiagros foi de R$ 4 bilhões.
Já o montante negociado somente nos Fiagros negociados na B3 foi de R$ 934 milhões. E o número de negócios realizados no período foi de 74,8 milhões.
O que é um Fiagro
Fiagro é o nome dado ao papel que permite investir no agronegócio e pode ser investido em terras ou crédito. Funciona como os fundos imobiliários (FIIs), mas serve para financiar atividades do setor.
Esse tipo de fundo permite que pessoas físicas e jurídicas invistam no agronegócio brasileiro, contribuindo para a oferta de crédito no setor. Os Fiagros começaram a ser negociados em agosto de 2021 na B3.
Eles são geridos por instituições do mercado financeiro, como bancos e distribuidoras de títulos e valores mobiliários, assim como já acontece com fundos de investimentos e imobiliários. Ao todo, 33 Fiagros estão em funcionamento no Brasil, sendo que 24 estão listados na bolsa de valores.
Existem três tipos de Fiagros:
- Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (Fiagro-FIDC);
- Fundo de Investimento Imobiliário (Fiagro-FII);
- Fundo de Investimento em Participações (Fiagro-FIP).
Os rendimentos recebidos pelo Fiagro, obtidos com venda ou locação de imóveis rurais, por exemplo, são distribuídos periodicamente aos seus cotistas, normalmente na forma de distribuição mensal dos rendimentos. E para darem mais rentabilidade, dependem da qualidade e natureza produtiva do imóvel, pois parte do contrato pode estar atrelada à produção.
“Ganha o agronegócio brasileiro, assim como o investidor, que encontrou uma forma de participar de um dos setores que mais crescem no Brasil. Com ticket médio muito baixo, é possível participar desse crescimento, com boa liquidez, de forma isenta nos lucros, e com distribuição regular de dividendos”, diz Alves.
O tamanho do fundo é relevante também para o retorno ao investidor, pois fundos menores costumam entregar uma rentabilidade maior até pela oferta e número de cotas menor.
No caso da aplicação do Fiagro em títulos e valores mobiliários, a renda se origina dos rendimentos distribuídos por esses ativos ou ainda pela diferença entre o seu preço de compra e de venda (ganho de capital).
Também é importante avaliar também qual será o indexador que vai servir de referência para alocação de capital, como, por exemplo, IPCA ou CDI, a depender da taxa, e do prazo dos vencimentos.
Representatividade ainda é pequena
Segundo especialistas, os Fiagros ainda são desconhecidos e possuem uma representatividade pequena nas carteiras.
“Eles têm uma rentabilidade adequada para a classe de ativos. Mas acho que todos os gestores pegaram um período, principalmente até janeiro, muito difícil para a captação. Os Fiagros foram muito comparados com fundos imobiliários. Eles poderiam ter uma representatividade muito maior nas carteiras”, afirmou André Ito, gestor da MAV capital.
Para Idean Alves, da Ação Brasil Investimentos, o Fiagro é pouco conhecido pelos investidores se comparado aos fundos imobiliários de tijolo, de papel e de galpões logísticos.
“Primeiro pela oferta hoje ainda ser muito baixa e, segundo, pelo fato de muitos deles estarem sendo lançados com negociação no mercado de balcão”, acrescenta Alves
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