Finanças

Crise bancária será sentida por anos, diz CEO do JPMorgan

Jamie Dimon defende que as autoridades americanas não deveriam ‘exagerar’ com mais regras.

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Na visão do CEO do JPMorgan Chase, os erros do Silicon Valley Bank foram incentivados pela regulamentação dos EUA, não foram checados pelo Federal Reserve e estavam “escondidos à vista de todos”, até que Wall Street e correntistas se alarmaram.

Essa é a avaliação de Jamie Dimon sobre a crise bancária nos EUA que derrubou os mercados no mês passado e que, para o executivo, “ainda não acabou” e será sentida por anos. Dimon disse que as autoridades americanas não deveriam “exagerar” com mais regras.

Em sua longa carta anual aos acionistas divulgada nesta terça-feira, Dimon descreveu as aspirações do JPMorgan de usar inteligência artificial e o ChatGPT, avaliou a geopolítica e forneceu atualizações sobre as atividades do banco em Ohio. Desta vez, muitos de seus comentários mais contundentes atacaram a regulamentação, incluindo regras de capital que levaram os bancos a acumular ativos de retornos baixos que perderam valor quando as taxas de juros dispararam.

“Ironicamente, os bancos foram incentivados a possuir títulos do governo muito seguros, porque eram considerados altamente líquidos pelos reguladores e tinham requisitos de capital muito baixos”, disse Dimon.

“Pior ainda”, acrescentou, o Federal Reserve não testou os bancos sobre o que aconteceria se os juros subissem.

Quando correntistas sem seguro do Silicon Valley Bank perceberam que o banco estava perdendo dinheiro ao vender títulos para fazer frente aos saques, correram para retirar seus recursos. Os reguladores então intervieram e assumiram o controle.

“Isso não é para absolver a administração do banco – é apenas para deixar claro que este não foi o melhor momento para muitos players”, afirmou. “Todos esses fatores de colisão tornaram-se extremamente importantes quando o mercado, as agências de rating e os correntistas se concentraram neles.”

Dimon, 67, está à frente do JPMorgan desde 2005 e agora é o único CEO de um grande banco remanescente da crise financeira de 2008 ainda no comando. Como o líder mais proeminente do setor, sua carta anual é analisada por banqueiros, traders e investidores por suas opiniões, mas também por sinais do que está por vir no negócio.

Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase. Crédito: Marco Bello/Bloomberg

A inteligência artificial é “extraordinária” e será crucial para o futuro do JPMorgan, escreveu Dimon. O banco já tem mais de 300 casos de uso para a tecnologia e explora maneiras de promover melhorias e capacitar os funcionários, inclusive com o ChatGPT, a popular ferramenta de processamento de linguagem natural.

Embora a IA possa ser útil em áreas como marketing e detecção de riscos, é essencial para evitar fraudes e se defender contra ataques a bancos e mercados, disse Dimon. “Porque você pode ter certeza de que os bandidos também a usarão”, destacou.

‘Capitalista do livre mercado’

Em uma seção que revela o novo propósito declarado do JPMorgan — “tornar os sonhos possíveis para todos, em todos os lugares, todos os dias” — Dimon escreveu que “para que ninguém pense que me tornei um pouco ‘soft’, tenha certeza de que seu CEO é um patriota ativo, capitalista da livre iniciativa e do livre mercado”.

O executivo também pediu aos governos que considerem o uso do domínio eminente para acelerar os investimentos em energia renovável e combustíveis fósseis.

“Simplesmente não estamos obtendo os investimentos adequados com rapidez suficiente para iniciativas de rede, energia solar, eólica e dutos”, disse, pedindo às autoridades que facilitem a obtenção de licenças. “A janela de ação para evitar os impactos mais caros da mudança climática global está se fechando.”

O JPMorgan busca aliviar o impacto das regras que exigem maior nível de capital, de olho em linhas de negócios que exigem pouco ou nenhum, disse Dimon. Isso pode incluir a expansão na análise de trading ou até mesmo viagens. O banco agora estuda com mais rigor os clientes com os quais faz negócios, acrescentou.

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