O mercado tem vivido dias de receio por uma crise bancária. A segunda maior falência de um banco na história norte-americana (a primeira aconteceu na crise financeira de 2008) está completando uma semana nesta sexta-feira (10), após reguladores financeiros dos Estados Unidos fecharem o Silicon Valley Bank (SVB). A quebra gerou receios sobre o setor bancário no mundo todo, e foi seguida por outra crise dias depois, desta vez com a despencada das ações do Credit Suisse.
Nesta sexta-feira (17), o SVB entrou com pedido de recuperação judicial nos termos do Chapter 11 com objetivo de buscar compradores para seus ativos. Até então, as medidas feitas por reguladores visando aumentar a confiança no setor bancário norte-americano não foram suficientes para afastar a possibilidade de um contágio em outras instituições.
Relembre abaixo como começou essa crise e entenda os principais acontecimentos.
SVB
O banco, fundado há 40 anos na Califórnia, construiu um nicho de atuação durante o boom da tecnologia, superando gigantes de Wall Street para financiar a enxurrada de empresas de tecnologia que nasciam no Vale do Silício. O SVB era também credor de empresas de capital de risco e private equities alavancadas.
Mas seu relacionamento de longa data com startups ficou completamente comprometido quando o mundo da tecnologia foi afetado com o aumento nas taxas de juros – o que aumentou os custos de financiamento do banco. Com isso, startups e demais empresas de tecnologia passaram a ter dificuldade de crédito para investir no crescimento dos negócios.
Tentando sacar seus depósitos no SVB, muitas startups não conseguiam, já que boa parte desses recursos estavam investidos em títulos do Tesouro dos EUA de longo prazo. Mas estes papéis perderam valor com a alta dos juros.
Apesar disso, o banco teve que vender US$ 21 bilhões em títulos, o que levou a uma corrida bancária por pedidos de resgate. A tentativa de levantar quase US$ 2 bilhões em capital com a venda de suas ações fez a capitalização de mercado do SVB cair de um pico de mais de US$ 44 bilhões há menos de dois anos para US$ 6,3 bilhões na quinta-feira (9), quando o colapso do SVB começou e suas ações caíram 60,4%.
O Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, divulgou na segunda-feira (13) uma linha de empréstimos e emergência para bancos dos EUA para tentar conter uma possível contaminação no sistema bancário americano após colapso do SVB. O auxílio divulgado será de até 90% dos valores mantidos nas contas do SVB.
A maioria dos clientes não tinha cobertura do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), similar ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) brasileiro que garante depósitos de até US$ 250 mil.
Credit Suisse
Já do lado europeu, o Banco Central da Suíça concedeu empréstimo de US$ 54 bilhões ao Credit Suisse. A preocupação em torno do banco suíço cresceu depois que seu maior acionista, o Saudi National Bank, declarou que não poderia fornecer mais ajuda financeira ao banco citando questões regulatórias.
Em 2008, os papéis valiam cerca de 80 francos suíços. Na quinta-feira (16), eram cotados a 2 francos.
O Credit Suisse vem lutando para se recuperar de uma série de escândalos nos últimos anos, o que reacendeu temores de uma ameaça mais ampla ao sistema financeiro, principalmente após a quebra de três bancos nos Estados Unidos nos últimos dias, entre eles o SVB.
O Credit Suisse tentou acalmar na última quarta-feira os clientes brasileiros, ressaltando que a estrutura de capital do banco continua sólida e procurando afastar comparações com norte-americano SVB.
Brasil
As taxas dos contratos futuros de juros registraram alta no Brasil, já que agentes do mercado avaliaram que a crise bancária norte-americana poderia abrir espaço para juros não tão altos nos EUA, e quem sabe, encerrar o ciclo de alta para a próxima reunião que acontece na semana que vem. Isso também contribuiria para um corte mais rápido na taxa básica de juros brasileira, a Selic.
Analisando os contratos futuros, na quinta-feira, 16, a taxa DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2024 estava em 13,035%, ante 12,966% do ajuste anterior.
Uma política fiscal mais amena nos Estados Unidos pode vir a contribuir para que o Brasil siga o mesmo caminho.
Cronologia
Veja abaixo a linha de tempo com os principais acontecimentos envolvendo a 2ª maior crise bancária da história dos EUA.
Dia | Acontecimento |
9/3 | SVB vende US$ 1,75 bilhão de suas ações para amenizar os efeitos da fuga de depósitos de seus clientes que lutam contra a falta de financiamento de venture capital. As ações do SVB caíram 60%. |
10/03 | SVB garante a seus clientes que os depósitos estão seguros depois que a instituição anunciou o aumento de capital via venda de ações um dia antes. Mas medida eliminou mais de US$ 80 bilhões no valor de mercado do setor bancário dos EUA. Neste dias as ações do SVB caíram mais 41%. |
10/03 | Reguladores bancários da Califórnia fecharam o SVB Financial Group, colocando o banco em recuperação judicial e liquidando seus ativos. O rápido movimento se deu para proteger os correntistas e conter preocupações com o setor. |
11/03 | A stablecoin USD Coin (USDC) perdeu sua paridade com o dólar e caiu para uma mínima histórica depois que a Circle, empresa por trás da moeda digital, revelou exposição ao Silicon Valley Bank. A companhia disse ter 3,3 bilhões de dólares em reservas da USDC no SVB. |
13/03 | Autoridades americanas lançaram medidas de emergência para reforçar a confiança no sistema bancário após a falência do SVB. Reguladores anunciaram que os clientes do banco falido terão acesso a todos os seus depósitos. Biden se pronuncia e promete nova regulamentação mais rígida. |
13/03 | O HSBC anunciou a compra do braço do Silicon Valley Bank no Reino Unido pelo valor simbólico de 1 libra. O resgate do SVB UK foi bem recebido pelo governo britânico, reguladores e start-ups de tecnologia. |
13/03 | Executivos do SVB são processados por fraude. Ministros das Finanças da Europa e o comissário de Economia da UE minimizaram o risco de contágio do colapso do SVB. O FED lança linha de empréstimos para os bancos dos EuA no intuito de frear a contaminação do colapso do SVB. |
14/03 | Colapso do SVB afeta as ações de bancos globais. Indicador de risco de crédito no sistema bancário da zona do euro atingiu seu nível mais alto desde meados de julho. Para banqueiros, SVB é vítima de inflação e juros em alta. EUA monitora bancos menores; consumidores norte-americanos fazem enxurrada de depósitos em grandes bancos americanos. |
14/03 | As taxas dos contratos futuros de juros registraram alta no Brasil já que agentes do mercado avaliaram que a crise bancária norte-americana poderia abrir espaço para juros não tão altos nos EUA, o que também contribuiria para um corte mais rápido da Selic. Na ocasião, o resultado foi uma queda das taxas dos DIs. |
15/03 | Creditt Suisse lidera queda entre ações de bancos europeus (-30%). Suíça fica sob pressão para intervir no Credit. |
16/03 | Credit Suisse busca acalmar clientes no Brasil, quando suas ações desabaram na Europa, ressaltando que a estrutura de capital do banco continua sólida. O banco conseguiu US$ 54 bilhões em linha de crédito junto ao BC suíço. |
16/03 | A Secretária do Tesouro dos EUA diz que sistema bancário americano continua sólido. No Brasil, as taxas dos contratos futuros de juros voltaram a avançar. A taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2024 estava em 13,035%, ante 12,966% do ajuste anterior. |
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