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Crise no Equador x Ibovespa: investidor não vê região como ‘bloco único’

Avaliação é de especialistas, que não enxergam possibilidade de contágio no mercado brasileiro.

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Apesar de a dissolução da Assembleia Nacional ter gerado fortes tensões políticas no Equador, o efeito nos mercados financeiros não foi sentido localmente e nem no Brasil. Para especialistas ouvidos pelo InvestNews, apesar de as incertezas terem origem em um país da mesma região, investidores estrangeiros não enxergam mais a América Latina como um “bloco único”. Além disso, na avaliação deles, o Brasil já teria mostrado sua relevância de forma mais consolidada. 

Nesta quarta-feira (17), o presidente do Equador, Guillermo Lasso, dissolveu a assembleia por decreto, antecipando eleições legislativas e presidenciais, um dia depois de apresentar sua defesa em um processo de impeachment. Mesmo em meio às turbulências políticas, o Ecuador General Index, indicador da bolsa de valores equatoriana, tinha queda de menos de 1% ao final da tarde. 

Presidente do Equador, Gullermo Lasso, presta depoimento na Assembleia Nacional do país em Quito 16/05/2023 REUTERS/Karen Toro

No Brasil, o Ibovespa subiu 1,17%, impulsionado por commodities e com o mercado de olho no arcabouço fiscal e discussões sobre o teto da dívida dos Estados Unidos – ou seja, alheio ao noticiário no Equador. 

“Não vemos nenhum impacto nos mercados da região, muito menos no Brasil. O investidor global que enxerga a América Latina como bloco único já não investe assim há algum tempo, e mesmo essa visão de a América Latina ser um bloco único também não existe mais”. 

Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos

Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research, concorda e acrescenta que “já temos países problemáticos nas proximidades e, quando saem novas notícias negativas sobre eles, normalmente não faz preço no Brasil”. 

Na mesma linha, Rodrigo Correa, estrategista-chefe e sócio da Nomos, concorda que é pouco provável que “ecos equatorianos ressoem em mercados brasileiros”, e cita problemas de outros vizinhos que não fizeram preço da bolsa brasileira. 

“Na Argentina, o presidente Alberto Fernandez perdeu as rédeas econômicas do país, que se encontra em mais uma crise econômica brutal. Com isso, não irá nem tentar a reeleição; Na Colômbia, Gustavo Petro pediu a renúncia de todo seu gabinete, com dificuldades de enfrentar partidos de oposição.”

Sobre a ausência de impacto na bolsa brasileira, Correa cita a relevância do mercado do país, dizendo que, “na média, o Brasil é aproximadamente metade do mercado latino.” Ele acrescenta que, apesar das incertezas políticas frequentes, a democracia brasileira também já demonstrou sua força aos investidores estrangeiros. 

“Ainda que nosso cenário político tenha sido manchete com frequência no noticiário global, temos mostrado, eleição após eleição, que a democracia aqui está consolidada, ainda que polarizada.”

Rodrigo Correa, estrategista-chefe e sócio da Nomos

Já Felipe Pontes, sócio-fundador da L4 Capital, por sua vez, não descarta a possibilidade de alguma volatilidade no mercado a depender dos desdobramentos da crise no Equador. 

“O que está acontecendo no Equador traz incerteza política. Risco é a incerteza que importa. Essa incerteza pode levar a uma maior volatilidade dos mercados financeiros da América do Sul, pois os investidores podem ficar cautelosos ao investir em mercados que são vistos como instáveis”, afirma Pontes.

Para ele, “pode haver uma diminuição do investimento direto estrangeiro, já que os investidores podem estar cautelosos com a região como um todo devido à instabilidade no Equador”.

Entenda a crise no Equador

A dissolução da assembleia impede o impeachment do presidente Guillermo Lasso em meio a um escândalo envolvendo acusações de corrupção.

Opositores posam para foto antes do depoimento do presidente equatoriano Guillermo Lasso na Assembleia Nacional, como parte do processo de impeachment contra ele por suposta corrupção, em Quito 16/05/2023 REUTERS/Karen Toro

Ele nega as acusações de que fez vista grossa a um suposto caso de corrupção relacionado a um contrato da empresa estatal de transporte de petróleo Flopec, dizendo que seu governo fez alterações no documento assinado anos antes de sua posse para beneficiar o Estado, a conselho da controladoria do Equador.

A maioria dos parlamentares apoiou uma resolução dizendo que Lasso permitiu que o contrato corrupto continuasse, embora um comitê de supervisão do Congresso, que ouviu depoimentos de parlamentares da oposição, autoridades e o advogado de Lasso, não tenha recomendado o impeachment em seu relatório.

Cerca de 92 votos da legislatura de 137 membros seriam necessários para remover Lasso do cargo. A votação para continuar o processo recebeu 88.

A Constituição do país consagra a chamada “morte de mão dupla” – permitindo que Lasso convoque eleições tanto para seu cargo quanto para a assembleia sob certas circunstâncias, inclusive se ações do Legislativo estiverem bloqueando o funcionamento do governo.

Lasso invocou a medida citando a grave crise política no Equador. Ele permanecerá no cargo por até seis meses, governando por decreto, enquanto as autoridades eleitorais nacionais marcam a data das eleições.

O tribunal eleitoral do Equador deve decidir sobre uma data para novas eleições dentro de sete dias após a dissolução da assembleia.

(* com informações da Reuters)

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