Finanças
Dividendos: 4 dicas para gerar renda investindo em ações
2020 foi um ano atípico para as companhias, mas isso não significa que as boas pagadoras de dividendos abandonaram a prática; veja como usufruir.
Provavelmente você já ouviu que investir em empresas que são boas pagadoras de dividendos é um bom negócio para o longo prazo. Estas companhias podem ajudar na construção de uma renda extra ou até para reinvestir e multiplicar o patrimônio, sem precisar tirar mais dinheiro do bolso. Embora muitas empresas de capital aberto tenham passado por dificuldades em 2020, gerar renda com dividendos ainda é possível, segundo especialistas consultados pelo InvestNews
E o que são dividendos? São um pedacinho do lucro que algumas empresas de capital aberto distribuem entre seus acionistas.
Para que uma companhia consiga sobreviver, crescer, pagar todas as suas contas e ainda ter um dinheiro sobrando para distribuir dividendos aos acionistas, ela precisa ser uma empresa forte, bem consolidada, e que atue em setores resilientes a crises.
Investir em companhias que pagam bons dividendos pode ser muito útil para garantir sua aposentadoria, exemplifica Louise Barsi, sócia fundadora do projeto Ações Garantem o Futuro. É a conhecida “carteira previdenciária”, cujo tempo de aplicação, para quem escolhe a estratégia, é de longuíssimo prazo.
Nos últimos meses, com a taxa Selic em patamares muito baixos (juros de 2% ao ano), investir em boas pagadoras de dividendos se tornou uma alternativa mais atrativa para que investidores tenham retornos superiores aos da renda fixa. Aplicações que remuneram 100% do CDI entregam apenas algo em torno de 1,94% ao ano. Ações consideradas boas pagadoras de dividendos podem dar um retorno superior no longo prazo.
Todas as empresas pagam dividendos?
Segundo o artigo 202 da Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/76), todas as companhias de capital aberto têm a obrigação de distribuir no mínimo 25% do seu lucro líquido em dividendos. Contudo, Louise explica que elas podem se omitir de realizar este pagamento desde que deixem claro no seu estatuto social que não terão uma política de distribuição de lucros.
“Empresas que se omitem e não colocam essa informação no estatuto são obrigadas a destinar 25% do seu lucro em dividendos ou até 50% após ajustes”, destaca.
Como escolher? Veja em 4 pontos:
1 – Olhe para o setor
Para Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, a primeira coisa que o investidor precisa analisar ao escolher uma ação que pague dividendos é o setor do qual a companhia faz parte.
Setores como energia elétrica, saneamento básico e setor bancário são tradicionalmente conhecidos como bons pagadores, muitos deles têm receitas previsíveis e um fluxo de caixa forte para remunerar os acionistas todo ano “É importante olhar para o setor como um todo e não apenas a companhia”, explica Madruga.
Além destes, é possível encontrar boas oportunidades também em setores que trabalham com concessões de rodoviárias, em razão dos contratos de longo prazo (de 20 a 30 anos) que as companhias gerenciam. Mineradoras como a Vale (VALE3) também remuneram bem seus acionistas.
2 – Considere o pay out
Louise Barsi destaca como segundo fator importante o pay out, que nada mais é do que a porcentagem que a companhia vai destinar do seu lucro para pagar aos seus acionistas. “Tem transmissoras de energia que distribuem 80% ou 90% do seu lucro contábil em dividendos, porque têm um caixa muito mais forte do que elas lucram”, afirma.
3 – Preste atenção ao dividend yield
O terceiro ponto que deve ser observado é o dividend yield (DY), ou o rendimento do dividendo. Este termo faz alusão ao dividendo pago por ação nos últimos doze meses dividido pelo preço da ação.
Para calcular o dividend yield de uma companhia, você deve seguir a fórmula:
DY = (Dividendos pagos por ação/valor unitário da ação) x 100%
Suponhamos que uma companhia paga R$ 1 de dividendo por ação, mas o preço do papel é R$ 10. Então o cálculo do dividend yield seria (1/10) x 100%. Ou seja, 0,1 x 100% = 10%. A companhia tem um dividend yield de 10%.
Os especialistas afirmam que é muito importante ficar de olho na evolução do dividend yield das companhias nos últimos anos, para entender se a porcentagem de pagamento de dividendos subiu por causa de uma oportunidade ou até mesmo se o preço da companhia desvalorizou. “Quanto maior o dividend yield da companhia está é mais atrativa, mas é importante avaliar que seja algo sustentável e de longo prazo. E que o valor não tenha subido por algum problema recorrente”, destaca Louise.
Para entender melhor como de fato é a distribuição de dividendos de uma companhia, a dica dos especialistas é olhar para o horizonte dos últimos cinco anos.
4 – Estratégia é muito importante
O quarto fator a ser considerado é a estratégia. Muitas companhias consideradas boas pagadoras de dividendos não necessariamente acompanham o desempenho do Ibovespa. É dizer que a bolsa pode ter ganhos exponenciais e a sua carteira de dividendos pode não subir da mesma forma ou até mesmo desvalorizar.
Louise explica que isso ocorre porque companhias que pagam dividendos são na sua maioria empresas maduras do mercado, com crescimento tímido. Estas ações são pouco voláteis e não acompanham as oscilações do Ibovespa.
Por último, é importante conhecer a política de pagamentos de cada companhia. Algumas empresas distribuem dividendos de forma anual, semestre e até trimestral ou mensalmente. E resta ao investidor avaliar o que faz mais sentido para a sua carteira.
Ciladas
Louise Barsi destaca algumas ciladas que os investidores devem ficar atentos na hora de escolher ações que paguem dividendos:
- Nem sempre um dividend yield alto é um bom sinal. Muitas vezes, a companhia pode ter feito desinvestimentos e teve uma receita extra.
- Algumas companhias podem distribuir propositalmente parte do seu caixa para atrair acionistas, processo conhecido como queimar caixa. Um exemplo disso foi a Oi (OIBR3): muito investidor comprou no passado na esperança de receber um dividendo alto e o valor da ação da companhia despencou.
Também é importante entender que nem sempre boas pagadoras de dividendos são sinônimo de sucesso na gestão. É o caso do IRB Brasil (IRBR3), que por muito tempo foi a preferida dos investidores quando o assunto era dividendos, mas que atravessava por problemas de governança. Outro exemplo é a varejista Magazine Luiza (MGLU3), que apesar de ser uma boa companhia, durante muitos anos optou por não pagar dividendos, mas isso não significava que a empresa estava mal.
Louise também chama a atenção dos investidores para não considerar 2020 como uma situação definitiva. “Neste ano, com a pandemia tivemos boas pagadoras de dividendos, que não distribuíram lucros por questões econômicas ou no caso dos bancos por provisões. Mas isso não significa que a companhia é ruim”, defende.
Uma companhia que é boa pagadora, mas por algum motivo deixou de distribuir lucros, pode estar atravessando alguns problemas. No entanto, a depender do seu histórico há chances de se recuperar no futuro. É o caso da Vale (VALE3) uma das melhoras pagadoras de dividendos, mas que em 2019, por causa do desastre ambiental de Brumadinho não pagou nada aos acionistas. Recentemente, a companhia anunciou que voltará a pagar R$ 2 de dividendos por ação.
Como começar?
Se você ainda não começou mas deseja trilhar a jornada de receber dividendos, os especialistas aconselham investir o dinheiro que não precise usar no curto prazo. Lembrando que ao comprar qualquer ação o investidor optou pela renda variável, sujeita a oscilações. E para receber dividendos, é preciso evitar resgates.
Louise aconselha destinar 20% do seu salário para investir no futuro. Uma boa parte disso pode ser alocada com foco em dividendos. Ela também lembra que antes mesmo de entrar na renda variável, o investidor deve ter uma reserva de emergência.
Veja também:
- ‘Buy and Hold’: a tática para ganhar dinheiro com ações no longo prazo
- Como o IR sobre os dividendos pode afetar seus investimentos
Quando começar a jornada, é importante que o investidor continue aplicando com frequência, criando um ciclo virtuoso onde o juro composto ajude a gerar uma “bola de neve” de dividendos. “No longo prazo e com disciplina, será possível reinvestir esse ganhos”, afirma Louise.
Boas pagadoras
Os entrevistados citaram algumas companhias que consideram oportunidades para os próximos anos. Para Louise Barsi o Banco Santander (SANB11) e a AES Tietê (TIET11) podem distribuir até 8,5% em dividendos em 2021. Já Madruga enxerga bons rendimentos em Engie (EGIE3), Banco do Brasil (BBAS3), Sanepar (SAPR4), Vale (VALE3), CCR (CCRO3), Itaú (ITUB3) e Bradesco (BBDC4;BBDC3).
A Economatica Brasil fez um levantamento exclusivo para o InvestNews sobre quais foram as ações que mais pagaram dividendos em 2020 e sua evolução nos últimos 4 anos.
De todas as companhias que pagam dividendos, a media do dividend yield deste ano foi de 2,98%. Este é o menor patamar de remuneração do investidor desde 2016. As ações consideradas no levantamento são companhias com um volume médio diário de negociação superior a R$ 5 milhões, com alta liquidez.
OS MAIORES DIVIDENDOS
Foram escolhidas as 20 melhores pagadoras de dividendos nos últimos 12 meses (de 17 de setembro de 2019 até 17 de setembro de 2020). Veja abaixo os retornos de dividendos (DY), em %:
Ação | Set 2016 | Set 2017 | Set 2018 | Set 2019 | Set 2020 |
Eletrobras (ELET3) | 0,00 | 0,00 | 0,00 | 5,40 | 10,04 |
Enauta (ENAT3) | 2,24 | 2,90 | 19,49 | 15,42 | 9,77 |
AES Tiete (TIET11) | – | 6,79 | 4,72 | 6,86 | 9,65 |
Taesa (TAEE11) | 18,61 | 7,86 | 9,49 | 11,72 | 8,37 |
BB Seguridade (BBSE3) | 5,92 | 5,47 | 5,87 | 12,61 | 8,26 |
Cesp (CESP6) | 0,52 | 6,21 | 0,26 | 5,20 | 6,60 |
Santander (SANB11) | 6,39 | 7,10 | 6,04 | 5,70 | 6,22 |
Wiz (WIZS3) | 7,54 | 6,34 | 2,69 | 13,60 | 5,93 |
Cyrela (CYRE3) | 3,31 | 0,93 | 3,58 | 13,20 | 5,68 |
Bradesco (BBDC4) | 5,23 | 4,83 | 3,56 | 4,24 | 5,60 |
Bradesco (BBDC3) | 4,37 | 4,50 | 3,33 | 4,40 | 5,56 |
Telefônica (VIVT4) | 4,40 | 5,01 | 5,16 | 13,41 | 5,54 |
CPFL Energia (CPFE3) | 1,27 | 0,91 | 1,01 | 2,00 | 5,47 |
Engie (EGIE3) | 5,16 | 7,03 | 9,25 | 4,74 | 5,37 |
CTEEP (TRPL4) | 4,90 | 2,52 | 10,17 | 17,34 | 5,26 |
Valid (VLID3) | 1,59 | 2,55 | 1,73 | 5,80 | 5,15 |
Copel (CPLE6) | 3,65 | 5,94 | 3,75 | 6,91 | 4,90 |
CCR (CCRO3) | 6,37 | 3,72 | 3,31 | 7,88 | 4,47 |
Itaú (ITUB3) | 5,43 | 6,53 | 8,62 | 11,06 | 4,17 |
Fonte: Economatica