Finanças
Ibovespa fecha em queda de 1,19% com ata do Fed e seguindo bolsas americanas
Banco Central americano alerta sobre insolvência de empresas e projeta inflação e juros abaixo da meta; em agosto bolsa acumula queda de 2%
A bolsa de valores estava em ritmo de recuperação após viver dias tensos com o risco fiscal, mas nesta quarta-feria (19) voltou a cair, desta vez com forte impacto do cenário externo. O Federal Reserve (Fed) divulgou uma ata nesta tarde onde mostrou cautela com a recuperação do mercado de trabalho, além de sinalizar o risco de que a inflação permaneça abaixo da meta de 2% ao ano por muito tempo.
Outra taxa que deve permanecer no mesmo patamar é a taxa de juros americana, que oscila entre 0% e 0,25% e não deve superar esse nível até que os indicadores da economia melhorem.
Seguindo este ritmo de cautela, o Ibovespa, principal índice da B3, fechou em queda de 1,19% aos 100.853 pontos. Na semana, a bolsa recua 0,49%. E no mês de agosto a queda é de 2%.
A ata do Fed trouxe também relatos de dirigentes sobre riscos de insolvência entre empresas e também para a estabilidade financeira. “Vários dirigentes comentaram sobre vários riscos potenciais para a estabilidade financeira. Bancos e outras instituições financeiras podem sofrer estresse significativo, principalmente se ocorrer um dos cenários mais adversos de disseminação do coronavírus e seus efeitos na atividade econômica”, alertou a ata.
Com esta mensagem, o Fed deixou claro que embora o pior da crise já passou ainda há muito por ser superado e que depende dos estímulos fiscais. As bolsas americanas também despencaram. Os índices Dow Jones, Nasdaq e S&P 500 caíram entre 0,3% e 0,6%.
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O dólar comercial fechou em alta de 1,13%, cotado a R$ 5,530. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a R$ 5,533. Este é o maior valor da moeda desde 22 de maio, quando chegou a R$ 5,5797.
O dólar acelerou frente ao real e a divisas de países emergentes, como o rublo e peso mexicano. O Banco Central tentou conter a alta com um leilão de 10.000 contratos de swap cambial, mas a disparada foi irreversível.
No mercado financeiro, as ações de commodities, Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3) fecharam em queda de 0,56% e 1,06%, respectivamente.
Os papéis da Petrobras seguiram a queda nos preços do petróleo nos EUA, que caíram 1,632 milhão de barris na semana passada para 512,452 milhões de barris. Contudo, a queda foi menor que a esperada por analistas que previam recuo de 2,7 milhões de barris.
Destaques da Bolsa
Entre as maiores altas do dia estavam companhias exportadoras, que tiveram forte alta acompanhando a disparada do dólar. Marfrig (MRFG3) avançou 5,97% e JBS (JBSS3) fechou em alta de 3,14%.
Outra que teve alta foi a Ultrapar (UGPA3) que subiu 4,68%. A companhia melhorou seu desempenho após renovação de acordo dos acionistas para a entrada da gestora Pátria Investimentos. Durante os próximos cinco anos, a Pátria passa a ser detentora de 20% do capital da companhia.
Entre os destaques negativos recuou a Cogna (COGN3), a companhia cedeu 5,46% com recomendação underperform do Credit Suisse e preço-alvo de R$ 6. Caiu também o IRB Brasil (IRBR3) com baixa de 4,77%.
Mas, quem despencou nas mãos do governador João Dória foi a Sabesp (SBSP3) que fechou em queda de 5,04%. Dória anunciou hoje que a companhia volta ao programa de capitalização do governo paulista. Ele também falou em prestação de serviços a outros estados e futura privatização.
Bolsas europeias
As bolsas europeias abriram em queda, mas ganharam fôlego e fecharam em território positivo nesta quarta-feira, 19, com Paris, Milão e Madri nas máximas do dia. Indicadores da região foram monitorados, em pregão em geral de ganhos para ações de companhias do setor financeiro.
O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em alta de 0,65%, em 369,58 pontos.
Na agenda de indicadores, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) da zona do euro subiu 0,4% em julho, na comparação anual, em linha com o esperado e bem distante da meta de quase 2% do Banco Central Europeu (BCE). No Reino Unido, o CPI acelerou e avançou 1,0% em julho, na mesma comparação, acima da previsão de alta de 0,5%.
No caso da zona do euro, a Pantheon avalia que ainda não há uma visão clara sobre o núcleo da inflação subjacente, após o choque da covid-19.
Segundo a consultoria, certamente houve um baque com a pandemia, como projetado, mas é preciso monitorar mais dados para termos um retrato mais claro. A Capital Economics, por sua vez, nota em outro relatório que a inflação no Reino Unido, mesmo após surpreender nesta quarta, deve perder força e pode ficar próxima de zero em agosto.
Os riscos de novas ondas de casos do vírus continuavam a ser monitorados. A partir de dados de alta frequência, o Danske Bank diz ver “algumas ramificações do crescente número de casos da covid-19 na Europa”, mas aponta ainda ser cedo para saber se dados positivos para a economia de mobilidade de pessoas estavam sendo revertidos.
No Reino Unido, o governo afirmou que pretende realizar testes regulares na população, para identificar e conter o problema. Ao mesmo tempo, na frente comercial os britânicos continuam a negociar com a zona do euro um acordo pós-Brexit, ainda com dúvidas sobre se haverá ou não sucesso na empreitada.
Na Bolsa de Londres, o índice FTSE 100 fechou em alta de 0,58%, em 6.111,98 pontos. A petroleira BP teve ganho de 0,12% e, entre os bancos, Lloyds avançou 1,69% e Barclays, 1,92%. A mineradora Glencore avançou 2,38%.
Em Frankfurt, o índice DAX subiu 0,74%, a 12.977,33 pontos. Entre os bancos alemães, Deutsche Bank teve ganho de 2,64% e Commerzbank, de 2,05%. Já RWE caiu 4,59%.
O índice CAC 40, da Bolsa de Paris, avançou 0,79%, a 4.977,23 pontos. Société Générale subiu 1,27% e BNP Paribas, 2,63%.
Em Milão, o índice FTSE MIB subiu 1,06%, a 20.055,40 pontos, retomando assim os 20 mil pontos. Intesa Sanpaolo foi o papel mais negociado, em alta de 1,66%, e Banco BPM subiu 2,82%.
Na Bolsa de Madri, o índice IBEX 35 fechou com ganho de 0,72%, a 7.094,30 pontos, com Santander entre os destaques (+3,05%). Em Lisboa, o índice PSI 20 avançou 0,01%, a 4.407,71 pontos.
*Com Estadão Conteúdo