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Juros altos e bolsa barata podem ser aliados na compra do imóvel

Colagem artística de uma casa rosa em um círculo lilás, segurada por uma mão em P&B, com elementos circulares e setas ao redor.

Ilustração: João Brito

As taxas do crédito imobiliário já estão mais altas diante da elevação da Selic. E caminham para chegar aos maiores níveis em sete anos ainda em 2025, mais perto de 12% ao ano. Em um cenário de crédito mais caro, montar uma carteira de longo prazo se torna a melhor estratégia para quem planeja comprar um imóvel, seja a primeira residência ou uma casa de veraneio.

O investidor pode aproveitar o cenário de taxas altas para garantir uma rentabilidade baseada nos juros nominais mais elevados dos últimos 10 anos. Além disso, pode se posicionar para aproveitar uma eventual recuperação da renda variável no médio e longo prazos.

De qualquer modo, mesmo que você não tenha a disciplina de planejar e executar um plano de investimentos de mais de 10 ou até 20 anos para comprar um imóvel à vista, pode se beneficiar dessa diversificação e do alongamento dos prazos de aplicações. Isso enquanto espera um momento melhor do crédito, com custos menores – algo que, certamente, não vai ocorrer em 2025 e, com grande chance, também não em 2026.

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Nesse meio tempo, você pode posicionar uma parte de sua carteira de investimentos para obter um impulso financeiro extra de médio prazo, caso os juros caiam e as ações subam nos próximos anos. Lembre-se que todo o recurso acumulado antes de entrar na operação imobiliária vai ajudar a reduzir o peso de um eventual financiamento.

Diversificação é a chave

Ao pensar em uma realização de longo prazo, a estratégia de investimento tem como pilar a diversificação. Em um horizonte amplo de tempo, acima de 10 anos, os principais mercados, como as rendas fixa e variável, entram e saem de ciclos, o que permite ao aplicador obter uma melhor relação entre o risco assumido e o retorno obtido.

Em um período mais extenso, o investidor pode aproveitar várias oportunidades. Neste ano, além dos juros elevados, as ações de grandes companhias brasileiras são negociadas com descontos, ou seja, a preços abaixo do potencial de valorização que teriam em condições macroeconômicas e geopolíticas mais estáveis.

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Em uma carteira de investimentos de longo prazo, “é importante olhar liquidez, mas não tem necessidade de 100% dos recursos aplicados estarem disponíveis no dia seguinte”, afirma o analista comercial da AZ Quest, Pedro Perez.

Diversificação significa distribuir os recursos disponíveis entre vários tipos de aplicações, com mecânicas de remuneração diferentes, em mercados, moedas e geografias diversificadas. Ou seja, escolher produtos que tenham riscos com baixa relação entre si. Por exemplo, colocar uma parte do dinheiro em renda fixa, outra em ações e ETFs, fazer aplicações em fundos que investem fora do país e até separar uma pequena parte da carteira, mas pequena mesmo, tipo de 1% a 5%, para tentar a sorte no mundo das criptomoedas.

Oportunidades em 2025

Em 2025, um cenário que chama a atenção para quem tem um olhar de longo prazo são os juros muitos elevados e que ainda estão em trajetória de subida. Hoje um título do Tesouro Nacional com taxa prefixada, ou seja, que tem uma remuneração fixa, traz um retorno acima de 15% anual em prazos de 5 e 10 anos.

A curva de juros inclinada para cima reflete o momento de incertezas. Os investidores criam as expectativas futuras baseados no que veem hoje. “Olhando para 5 ou 10 anos não há, na verdade, um horizonte de taxas mais altas do que temos hoje”, afirma o coordenador do MBA de negócios do Ibmec, Cristiano Correa. Isso significa que, se daqui a alguns anos o juro começar a cair de novo, o papel prefixado comprado nos níveis atuais de preço vai gerar um lucro expressivo.

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Em um cenário no qual a remuneração do título público prefixado recue para, por exemplo, 10% ao ano, o papel de hoje terá um ganho acima do retorno contratado. Nesse caso, você pode vendê-lo e realizar o lucro antes do vencimento. Mas também existe o risco de o juro permanecer elevado ou até subir mais no período de validade do papel. De qualquer modo, se você mantiver os recursos aplicados até o vencimento, seja em 5 ou 10 anos, vai receber exatamente os 15% de ganho ao ano.

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O risco, portanto, é você precisar do dinheiro antes e ter de resgatar o título antes do prazo e em condições de mercado desfavoráveis. Por isso, quando falamos em longo prazo a ideia é que seja longo mesmo: o recurso desse projeto tem de ser algo que você tenha certeza de conseguir manter guardado.

Para situações de curto prazo, você precisa montar uma reserva de emergência. Como o nome sugere, é ter uma quantia suficiente para cobrir suas despesas por, pelo menos, seis meses. O dinheiro precisa ficar aplicado em renda fixa conservadora para que possa ser sacado a qualquer momento. Sem esse colchão financeiro, a chance de você acabar mexendo nas aplicações de longo prazo antes do tempo aumenta muito.

Um Tesouro para chamar de seu

Quem planeja comprar uma casa ou apartamento deve manter a maior parte dos recursos, pelo menos 80%, em renda fixa de prazo compatível com o planejamento. “Se você pensa em adquirir o imóvel em 10 anos não dá para investir em um título com vencimento em 20 anos”, ressalta o sócio e estrategista da Casa do Investidor, Michael Viriato. “Mas pode diversificar entre produtos de renda fixa com mesmo prazo daquele no qual você deseja pagar o imóvel.”

O Tesouro Direto, plataforma voltada de compra e venda de títulos do governo para pessoas físicas, oferece diversas opções com diferentes formas de remuneração e prazos. Além do Tesouro Prefixado, há o Tesouro IPCA+, que paga a variação da inflação no período contratado mais um juro extra.

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Um título Tesouro IPCA+ de 10 anos, com vencimento em 2035, tem uma remuneração atualmente composta pela variação da inflação mais 7,42% ao ano. Nessa fórmula, se o IPCA ficar em 4% durante o período, o dinheiro aplicado vai render 11,42% a cada ano.

Há ainda o Tesouro Selic, um papel com retorno que acompanha a variação da taxa básica definida pelo Banco Central. O papel traz uma oportunidade de obter ganhos com a alta de juros já sinalizada pelo BC em 2025.

A autoridade assumiu um compromisso de elevar a Selic em, pelo menos, mais dois pontos percentuais nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). A taxa básica deve alcançar 14,25% até março. Porém, economistas e analistas já vislumbram a Selic acima de 15% e até em 16% ao longo do ano.

Bolsa barata faz sentido no longo prazo

Uma outra oportunidade no longo prazo em 2025 está na bolsa de valores. Uma opção para manter recursos na renda variável está nos ETFs. São fundos que seguem um índice, como o Ibovespa ou o IBrX100, e têm cotas negociadas na própria bolsa, como se fossem ações.

O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, hoje é negociado com um desconto de 25% em relação à média histórica. No médio e longo prazos, um ETF desse indicador pode ser uma forma de o investidor obter ganhos em uma eventual recuperação do mercado acionário.

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Uma carteira diversificada pode incluir ainda uma parcela pequena em investimentos no exterior. As vantagens de ter uma parte da carteira em produtos internacionais está na exposição à variação cambial e também no fato de os mercados de fora terem riscos diferentes.

Nesse sentido, podem se comportar com pouca correlação em relação aos locais. Em outras palavras, um mercado, por exemplo a bolsa, pode estar mal aqui, mas bem lá fora. Foi o que ocorreu em 2024.

O S&P 500, um dos principais índices de ações americanas, teve uma alta acumulada de 22% em 2024. E em dólar. O ganho em reais alcançou 47%.

Os ETFs também são uma boa maneira de investir no exterior. Há várias opções, como aqueles que seguem o S&P 500 ou outro índice, como Dow Jones, que acompanha uma carteira com 27 maiores companhias listadas em Nova York, e o Nasdaq, com um peso maior de empresas de tecnologia.

No ritmo dos bonds

Um investidor de perfil mais arrojado pode pensar ainda em alocar recursos nos chamados “bonds”. São títulos de renda fixa emitidos por empresas no exterior e que pagam rendimentos em dólar. Uma maneira de ter uma exposição mais segura e simples a esses produtos é escolher bonds de grandes companhias nacionais.

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Papéis de grandes grupos brasileiros têm pagado taxas de 6% a 10,50% ao ano em moeda americana. O bond de 2 anos da Marfrig, por exemplo, tem uma taxa de 6,90%, enquanto o da Ambipar com prazo de 5 anos oferece retorno de 10,50% anuais.

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