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Mercado global de IPOs desacelera no 1º trimestre de 2022

Após níveis recordes de aberturas de capital em 2021, a partir de fevereiro as estatísticas mudaram drasticamente.

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Inflação global, covid-19 na China e incertezas geopolíticas decorrentes da guerra entre a Rússia e a Ucrânia devem reduzir as ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) de ações nas bolsas de valores, em 2022. Esta é a constatação do estudo EY Global IPO Trends, que acaba de ser divulgado. 

Após o mundo ter obtido níveis recordes em operações de IPO em 2021 e de o mês de janeiro apresentar resultados positivos de receita e rendimento, a partir de fevereiro as estatísticas do mercado global mudaram drasticamente. 

A trajetória do trimestre registrou apenas 321 negócios no período, equivalentes a US$ 54,4 bilhões em volume – o que representa queda de 37% em transações e 51% em volume na comparação com o ano anterior, respectivamente. 

“No contexto mundial, temos um cenário de inflações elevadas, desequilíbrios nas cadeias de produção e aumento de juros. Além disso, a desaceleração pode ser atribuída ainda a questões geopolíticas decorrentes da guerra entre Rússia e Ucrânia”, afirma Flavio Machado, sócio-líder de IPO e Assessoria em Contabilidade e Finanças da EY. 

IPOs no Brasil

No Brasil, o cenário não foi diferente. O país vinha de um movimento grande de IPOs, mas foi perdendo força nos últimos meses. O mercado brasileiro de ofertas públicas parou em 2022, quando dezenas de empresas cancelaram ou adiaram seus planos de abrir o capital. “No Brasil, além dos fatores também presentes de inflação (acumulado de 11,3% nos últimos 12 meses) e juros elevados (projeção que Selic chegue a 13,25% até o fim do ano), temos influências decorrentes de cenário político com as eleições no segundo semestre”, alerta Machado. 

Em 2021, foram realizadas 46 transações de IPO no Brasil, movimentando, aproximadamente, R$ 65,6 bilhões. O setor de programas e serviços foi o que obteve o melhor resultado no país, com oito transações que geraram R$ 6,8 bilhões. Em segundo lugar, o setor da saúde gerou R$ 4,8 bilhões com apenas três operações, enquanto o de seguros, que teve apenas uma única transação, conseguiu R$ 4,3 bilhões. No primeiro trimestre de 2022, nenhuma transação de IPO foi realizada no país. 

Segundo Machado, é possível que haja alguma recuperação de IPO após as eleições. “Muitas empresas que estavam se preparando tiveram de adiar ou mesmo cancelar o plano de IPO diante desse cenário nesse primeiro semestre. Muitas certamente aguardam retomada desse plano para um momento apropriado. Esse momento vai depender das condições e cenários favoráveis. Alguns acreditam que após eleições podemos ter essas condições de mercado. Mas tudo vai depender da evolução também de melhoria de questões macroeconômicas.” 

Setores de infraestrutura, saneamento, energia ou saúde podem puxar algumas transações de IPO no fim do ano. “Ainda é complicado falar em setores nesse momento. Mas, quando houver retomada, certamente haverá seletividade. Infraestrutura, energia, saneamento podem ser alguns dos setores que podem se destacar. Ainda se espera que tecnologia continue com alguma atratividade, mas de forma seletiva”, explica Machado. 

Desempenho das Américas 

O continente americano registrou 37 ações de IPO no primeiro trimestre de 2022, movimentando US$ 2,4 bilhões, o que equivale a uma queda de 72% no número de ações e de 95% na movimentação financeira em relação ao ano anterior. 

Nas Américas, a área da saúde liderou o número de negócios e ficou em segundo lugar em receitas, perdendo apenas para o setor financeiro, que, com um único grande acordo, ficou em primeiro lugar nos lucros. O setor de materiais foi o segundo melhor em volume de negócios, impulsionado apenas pela bolsa canadense. É esperado que os IPOs aumentem à medida que o ano avança, porque mais de 25% dos mais de 600 SPACs ativos, muito populares no mercado financeiro americano, expiram no fim deste ano, enquanto outros 60% vão expirar no primeiro semestre de 2023. 

Desempenho global 

Mesmo com uma queda de 16% no volume, a região denominada como Ásia-Pacífico teve o maior número de transações totais. Foram 188 no total, resultando em uma receita de US$ 42,7 bilhões, equivalente a um aumento de 18%. Já a região da EMEA (Europa, Oriente Médio e África) registrou 96 IPOs, equivalente a uma queda de 38% em transações na comparação com 2021 e de 68% em receita (US$ 9,3 bilhões). 

Em todo o mundo, os setores de tecnologia e de materiais lideraram em número de IPOs com 58 cada um deles, levantando US$ 9,9 bilhões e US$ 5,9 bilhões, respectivamente. A área de tecnologia se manteve em primeiro lugar em números de negócios pelo sétimo trimestre consecutivo, ficando apenas em segundo lugar em receitas, após registrar, durante sete trimestres consecutivos, os maiores lucros do IPO no globo. 

O setor de energia assumiu a liderança global em termos de receitas, com US$ 12,2 bilhões, por meio de 15 IPOs, sendo o maior deles realizado no primeiro trimestre na bolsa coreana (Korean Exchange), enquanto o setor de telecomunicações ficou em terceiro, movimentando US$ 8,6 bilhões por meio de seis IPOs efetuados. 

Segundo o levantamento da EY, as perspectivas para o segundo trimestre de 2022 ainda são desafiadoras, pois muitas incertezas ainda irão permanecer no ambiente socioeconômico, mantendo o mercado volátil e frágil.

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