Finanças
Número de empresas que deixaram a B3 já é o maior em 4 anos
Custos, concentração de capital e baixa liquidez explicam movimento, segundo especialistas.
A quantidade de empresas que cancelaram o registro de companhia aberta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já é a maior em quatro anos. Em 2023 até julho, foram cinco pedidos registrados por meio de OPA (Oferta Pública de Aquisição). Com esse recurso, a empresa compra todas as ações em circulação e dá adeus à bolsa de valores.
Foi o que aconteceu recentemente com a fabricante de eletrônicos Gradiente (IGBR3), que estava em recuperação judicial desde 2019. Em junho, foi a vez a EDP Energias do Brasil (ENBR3) fechar seu capital na B3. Também saíram da bolsa brasileira desde janeiro o Banco Besa, comprado pelo BTG Pactual, a empresa de participações Longdis e a fabricante de tecidos caterinense Renauxview (TRXR4).
Nesta quinta-feira (20), a empresa de medicina Hermes Pardini (PARD3) também teve seu pedido de cancelamento de registro aceito pela CVM e pela B3 – até a última atualização desta matéria, os dados ainda não haviam sido registrados na lista acima.
Além disso, está na fila para fechar capital a BR Properties (BRPR3), que atua com investimentos no ramo imobiliário. Treze anos após seu IPO (oferta inicial de ações, o caminho inverso da OPA), a companhia acumula desvalorização superior a 80% nos papéis.
Uma série de fatores pode explicar o desejo de companhias fecharem seu capital. Desde 2019, quando foram feitas sete OPAs para cancelar registro, não se via um movimento tão intenso para sair da bolsa. O volume também é alto: até agora em 2023, as OPAs levantaram R$ 5,8 bilhões na B3 – maior volume desde 2015, quando a operação movimentou R$ 11,8 bilhões.
Por que as empresas estão saindo da bolsa?
O alto custo para manter o capital aberto pode ser um empecilho para as empresas permanecerem na B3 – especialmente aquelas em crise ou com problemas de caixa. Para cumprir a rígida regulamentação, as companhias são obrigadas a pagar taxas, publicam balanços trimestrais pontualmente e adotam práticas de governança corporativa.
“A decisão passa pelo fato de que a empresa não percebe mais benefícios em estar listada na bolsa ou os custos superam esses benefícios”.
Felipe Pontes, cofundador da L4 Capital e especialista em finanças corporativas.
Outro motivo, além do custo para operar em bolsa, é o fato de as ações serem consideradas “baratas” pelo controlador. Quando isso acontece, ele pode enxergar uma oportunidade de comprar os papéis no mercado por um custo atrativo.
Segundo Pontes, é mais comum fechar capital quando a ação tem pouca liquidez e o processo de “precificação” no mercado fica prejudicado. “Como a ação fica mais barata teoricamente do que deveria, os benefícios de estar listado não são aproveitados”, explica.
A bolsa é uma das portas de entrada para as empresas captarem recursos, mas em meio às altas taxas de juros, muitas delas vêm buscando outros caminhos para se capitalizar no lugar do IPO ou follow-on – como a emissão de títulos de dívida ou empréstimos.
Se a empresa já tem capital aberto, mas a ação é pouco negociada, pode não fazer muito sentido emitir novas ações para captar recursos, porque não haverá interesse do mercado e, se houver, “o mercado vai querer pagar menos do que os controladores acham que vale”, destaca Pontes.
Nem sempre é fácil fechar capital
Para algumas companhias, pode ser bem mais simples fechar capital do que outras. Um estudo publicado por Patricia Maria Bortolon e Annor da Silva Junior, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), concluiu que facilita bastante quando a empresa tem concentração de votos – ou seja, quando a maior parte das ações está com os principais acionistas.
Das empresas que fecharam ou pretendem fechar capital em 2023, pelo menos três delas possuem grande fatia das ações detidas pelos três principais acionistas: BR Properties, com 96,30%, EDP, com 61,09% e Gradiente, com 62,39%. Segundo Pontes, é muito fácil para eles conseguir os votos necessários para pedir cancelamento do registro.
Quanto menor o free-float (percentual de ações em poder dos minoritários), mais fácil será o fechamento de capital, observa o cofundador da L4 Capital. “Isso reduz custos de coordenação no processo de fechamento de capital e maior facilidade para convencer o conselho e facilidade em aprovar na assembleia”.
Outro incentivo para fechar o capital é quando a empresa tem muito fluxo de caixa livre, mas poucos projetos para investir, o que pode gerar conflito de interesses. Como destaca Pontes, “pode ser um incentivo perverso para investir em projetos duvidosos só para dar uma resposta ao mercado ou fazer o preço da ação reagir, ou apenas para melhorar a sua remuneração ou reputação”.
Em casos como esse, fechar o capital seria uma solução, uma vez que os controladores voltam a ser os únicos donos e não existe mais a necessidade de fazer algo só para mostrar ao mercado.
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Empresas mais propensas a sair da bolsa
Pontes também aponta que algumas empresas possuem um perfil mais propenso para fechar capital. Segundo ele, as grandes pagadoras de dividendos não estão nesse grupo, já que distribuir lucros é um sinal de que não pretende expropriar os minoritários.
O tamanho da companhia é outro fator. As menores, sem cobertura da imprensa e de analistas podem não extrair benefícios com a listagem e também são mais propensas a fechar capital, de acordo com Pontes.
Além disso, acrescenta ele, empresas com baixo endividamento são mais propensas a fechar o capital porque podem se financiar apenas por dívida bancária. “A depender do caso, ainda podem extrair benefícios tributários obtidos por meio da dívida eventualmente captada”, diz.
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