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O que são covenants? E risco sacado? Entenda termos do caso Americanas

Para explicar rombo contábil das Americanas, ex-CEO utilizou dois termos do mercado. Entenda.

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A 2ª quinta-feira do ano poderia ter sido comum, não viesse a público um rombo contábil bilionário na casa dos R$ 20 bilhões de uma das maiores varejistas do país. Tanto que Sérgio Rial, até então presidente executivo das Americanas (AMER3), renunciou ao cargo apenas nove dias depois de tê-lo assumido.

Agora, ajustes deverão ser feitos nos balanços da companhia, corrigindo assim as inconsistências apresentadas por Rial. O executivo, que teve passagem de meia década no banco Santander Brasil, é reconhecido pela boa gestão e capacidade de aumentar a rentabilidade das empresas por onde passa.

Sergio Rial durante reunião com agentes do mercado sobre descoberta de rombo contábil das Americanas.

Em reunião com agentes de mercado na manhã desta quinta-feira (12), duas palavras foram destaques para explicar como o rombo contábil foi descoberto: covenants e risco sacado. Veja abaixo o que significa e por que isso impactou nos resultados da varejista:

O que são covenants

É uma espécie de garantia. Uma certeza de que quem toma crédito vai seguir as normas do contrato de empréstimos ou financiamentos. São cláusulas em títulos de renda fixa, como debêntures, que funcionam como gatilhos para evitar que a empresa de endivide demais.

Segundo exemplo dado pelo analista Eduardo Perez, da NuInvest, uma pessoa compra uma debênture pagando 10% ao ano, mas tem um convenant de que, se o múltiplo da empresa dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, depreciação, amortização e impostos) superar duas vezes, ela precisa remunerar em 15% ao ano. Logo, é um mecanismo que remunera o investidor se a empresa se endividar excessivamente.

Covenant é uma forma de desencorajar a empresa a se alavancar/endividar demais, uma vez que pode gerar uma bola de neve para a companhia – se isso acontece, ativa o covenant e a dívida antiga fica mais cara ainda, aumentando ainda mais o endividamento”, disse.

Analisando o caso da Americanas (AMER3), caso o ajuste contábil da varejista fique negativo em R$ 20 bilhões, isso seria suficiente para transformar seu patrimônio líquido (R$ 14,7 bilhões) em negativo. E isso quebraria as regras de limite de endividamento contábil – os covenants – a que estão sujeitas suas emissões de debêntures e bonds da varejista. O que obrigaria a renegociar essas dívidas.

O que é risco sacado

O risco sacado comentado por Rial é, na verdade, uma operação de crédito bem simples, segundo Perez. “Imagina que você tenha uma empresa com conta no Nubank, por exemplo. Daí você precisa comprar matéria-prima de um fornecedor, mas só consegue pagar a prazo, o fornecedor precisa do pagamento à vista. Você vai até o Nubank, pede o risco sacado, passando a dever ao banco.

A operação risco sacado é uma linha de crédito que permite antecipar aos fornecedores o recebimento da notas ou boletos. Na prática, o banco do cliente disponibiliza o crédito para a contratação. Esse mesmo cliente (no caso, Americanas) compra do fornecedor produtos com o pagamento a prazo.

Mas o fornecedor precisa de dinheiro em caixa para produzir/fornecer o produto. Logo, o cliente que tem crédito aprovado permite que seu fornecedor utilize o crédito disponibilizado, assim é antecipada as notas recebendo o crédito à vista.

Por fim, o cliente faz o pagamento dos recebíveis diretamente para o banco.

Por isso que, segundo Rial, existe uma falta de clareza pelas empresas e pelo mercado sobre o que é conta do fornecedor e do banco.

“A liberalidade de interpretação sobre o que é dívida ou o que é conta de fornecedores causa essa distorção, mas há critérios claros sobre o risco sacado (quando uma operação é registrada na conta de fornecedores dentro do balanço, em vez de ser considerada uma dívida). Segundo o executivo, isso deveria ser interpretado como uma despesa financeira dentro do balanço.

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