Finanças
Primeiros balanços dos EUA mostram resiliência de bancos ao juro alto do Fed
JPMorgan, Wells Fargo e Citigroup dão início à temporada, com resultados otimistas.
Os grandes bancos dos Estados Unidos iniciaram na sexta-feira (13) a temporada de balanços do terceiro trimestre. JPMorgan, Wells Fargo, BlackRock e Citigroup tiveram resultados otimistas, mostrando resiliência do setor aos efeitos do juro alto praticado pelo Federal Reserve.
“Os primeiros sinais foram encorajadores até agora”, comentou o estrategista-chefe de ações do Julius Baer, Mathieu Racheter. Com isso, a previsão é de que Wall Street deixe para trás a “recessão de lucros” que ocorreu durante o primeiro semestre de 2023.
Ou seja, o crescimento dos lucros não deve ser negativo pela primeira vez neste ano. “Os resultados devem melhorar a partir de agora”, escreveram os estrategistas do Bank of America Ohsung Kwon e Savita Subramanian, em nota.
De um modo geral – e não apenas para os bancos – o consenso prevê um crescimento médio dos lucros de 4,2%. Apesar de não ser nenhuma alta estelar dos resultados, no quarto trimestre, a estimativa melhora ainda mais, com aumento médio de 9% nos lucros.
Até agora, os primeiros resultados trimestrais já divulgados são encorajadores: das 21 empresas dos EUA que reportaram balanço até agora, 76% superaram as estimativas consensuais de lucros. Esse percentual está acima da média histórica, de 70%
Vem mais por aí
Nos próximos dias, essa perspectiva será testada por outras instituições financeiras. Na terça-feira (17), é a vez dos números trimestrais do Bank of America e Goldman Sachs. No dia seguinte, quarta-feira (18), saem os demonstrativos contábeis do Morgan Stanley.
Os resultados serão examinados com lupa pelos investidores, em busca de informações sobre a saúde financeira dos bancos, de modo a mensurar o quanto estão preparados para a tese de juro mais altos por mais tempo pelo Fed. Por ora, o destaque ficou com o balanço robusto do JPMorgan.
A gigante de Nova York reportou lucro líquido de US$ 13,2 bilhões entre julho e setembro, o que representa um aumento de 35% em relação ao mesmo período do ano passado. Já a receita cresceu 21%, na mesma base de comparação, a US$ 40,7 bilhões. Ambos os resultados superaram as expectativas.
Em reação, as ações do JPMorgan subiram firme em Nova York na sexta-feira (13), assim como Wells Fargo, que reportou lucros trimestrais acima do esperado por uma margem confortável. Na outra ponta, os papéis da BlackRock caíram, após registrar queda acentuada nas entradas líquidas, apesar de superar as estimativas de lucro.
Segundo a Bloomberg, cinco dos maiores bancos dos EUA, excluindo o JPMorgan, perderam cerca de US$ 100 bilhões em capitalização de mercado neste ano. As ações do maior banco do país valorizaram mais de 8% neste ano, adicionando cerca de US$ 30 bilhões em valor de mercado. Isso tornou o JPMorgan cerca de duas vezes maior do que o segundo maior banco dos EUA em valor de mercado, o Bank of America.
Não é só o Fed
No entanto, a lista de preocupações dos bancos norte-americanos, e dos mercados globais, não se restringe apenas ao Fed. Em comunicado, o CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, alertou para uma série de riscos econômicos.
Segundo ele, o principal fator está na possibilidade de a inflação nos EUA permanecer elevada, o que deve fazer com que o Fed continue a subir a taxa de juros. Dimon também chamou a atenção para as guerras na Ucrânia e em Israel.
Portanto, essa combinação de focos de tensão “pode ser o momento mais perigoso que o mundo já viu em décadas, com impacto nos preços de energia, alimentos, no comércio global e nas relações geopolíticas”, alertou o CEO.
Ao mesmo tempo, a temporada de resultados nos EUA pode trazer “fatores micro” para o “centro do palco”, avaliam os analistas do Citi. Com isso, será preciso separar dos preços das ações o que são “preocupações existenciais injustificadas, em vez de questões fundamentais”, escreveu a analista do UBS Erika Najarian, em uma nota.
Muito além dos bancos
Já em relação aos demais setores nos EUA, as empresas de comunicação e aquelas ligadas ao consumo cíclico doméstico devem registrar o maior crescimento dos lucros. Com isso, entram no radar os balanços da Tesla e da Netflix, ambos na quarta-feira (18).
Também merece atenção as gigantes de tecnologia, como Apple e Microsoft, após a onda de compradores no hype da Inteligência Artificial. Em contrapartida, os setores voltados às commodities, como de petróleo e gás e de mineração, devem ter ganhos voláteis.
Pode ser o momento então para aproveitar a atual correção do mercado de ações nos EUA para aumentar a exposição ao risco. “O foco deve ser em papéis de qualidade de grande capitalização, juntamente com algumas ações defensivas”, avalia Racheter, do Julius Baer.
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