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Economia

Conflito em Israel tem efeito imediato sobre petróleo e gera dúvida sobre Fed

Barril da commodity se aproxima de US$ 90 e dificulta combate à inflação.

O ataque do Hamas a Israel no sábado (7) acrescentou um item à já extensa lista de focos de preocupação dos mercados globais. Com isso, os investidores monitoram desde o final de semana a escalada da tensão no Oriente Médio e avaliam os impactos de curto e de longo prazos, deixando de lado a violência do episódio e atendo-se à análise econômico-financeira.

O efeito imediato do conflito na região é a disparada nos preços do petróleo nesta segunda-feira (9). O barril dos tipos WTI e Brent (negociados nos Estados Unidos e no reino Unido, respectivamente) subia ao redor de 4% desde a primeira reação, ainda na madrugada do domingo (8), recuperando parte das perdas na semana passada e buscando reaver a marca de US$ 90.

Vista geral mostra fumaça subindo após ataques israelenses em Gaza 09/10/2023 REUTERS/Mohammed Salem

“Na semana passada, o lado positivo do comportamento caótico dos mercados foi uma forte retração nos preços do petróleo, com o barril do Brent passando de mais de US$ 97 em um determinado momento para menos de US$ 85 ao final da sexta-feira. Agora parece que essa fresta de esperança pode ser passageira”, resumem os estrategistas do Rabobank, em relatório.

Isso porque o mundo está alerta com a possibilidade de o conflito em Israel ser prolongado. “Este não será um evento curto e Israel pode enfrentar meses de combate, que vai ficar mais intenso antes de a situação chegar ao equilíbrio”, afirmou David Weinberg, pesquisador sênior do Instituto Misgav, citado pela newsletter GZero, da Eurosia.

Assim, quanto mais prolongada for a piora do cenário geopolítico na região, mais sustentada tende a ser a alta dos preços do petróleo. E isso tende a criar um acúmulo de pressão inflacionária, desafiando a luta dos bancos centrais até aqui. “Se isso acontecer, todo o esforço do Federal Reserve para domar a inflação está sob perigo”, observou o economista André Perfeito, em comentário. 

Impacto nos mercados

Ele explica que com o petróleo em alta, os rendimentos (yields) dos títulos dos EUA (Treasuries) devem alcançar novos patamares em anos o que, por sua vez, provoca efeitos negativos sobre os ativos de risco, em especial nas bolsas. “A preferência pela liquidez deve fazer ativos seguros, como o dólar, subir”, emenda. 

Porém, o feriado nesta segunda-feira (9) nos EUA pelo Dia de Colombo mantém o mercado de bônus fechado, o que enxuga parte da liquidez. A ausência dos negócios com Treasuries reduz o ritmo da busca desenfreada por segurança ao menos nesta sessão, com os investidores optando por elevar a cautela ao invés de mostrarem nervosismo e aversão ao risco

Ao mesmo tempo, porém, o avanço da commodity no exterior ajudava a sustentar as ações da Petrobras (PETR3, PETR4), amortecendo parte da queda do Ibovespa

Conflito em curso

Ainda assim, o ajuste dos mercados à perspectiva de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos pode ser mais prolongado, provocando uma renovada onda global de aversão ao risco. “A ameaça de um novo grande conflito no Oriente Médio coloca ainda mais pressão sobre os mercados”, afirma Michael Every, do Rabobank. 

Por ora, as apostas de manutenção das taxas pelo Fed em novembro e em dezembro seguem majoritárias, conforme aponta o CME Group. Mas ainda é cedo para dizer por quanto tempo essas expectativas se mantêm, sendo que qualquer alteração no intervalo atual dos juros dos EUA reduz ainda mais o espaço de queda da taxa Selic.

Bombardeio de Israel em Gaza 09/10/2023 REUTERS/Mohammed Salem

“O ataque do Hamas resultou na declaração de guerra por parte de Israel. Mas a situação em curso e os efeitos econômicos dependerão da gravidade e da duração do conflito, bem como da medida em que este se espalhar pela região em geral”, ressalta o economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson. 

Para ele, o aumento da pressão sobre os preços do petróleo somado ao salto da inflação brasileira para 5% no acumulado em 12 meses, conforme apontado pelo IPCA-15, juntamente com o tom mais cauteloso da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em setembro sustentam a visão de corte gradual no juro básico aqui. 

Ainda mais diante das implicações geopolíticas, com o foco agora se deslocando do Leste Europeu para o Oriente Médio, enquanto Taiwan segue em alerta. “O que se vê hoje em Israel é apenas mais uma etapa dos novos arranjos geopolíticos e das dificuldades dos EUA em conseguir garantir sua PAX”, avalia Perfeito, citando o termo que se refere à hegemonia norte-americana no mundo. 

A dúvida, então, não é exatamente qual será o apelo do Hamas, mas sim quem poderá ser a próxima vítima, especialmente se os EUA estiverem amarrados em duas frentes militares.

“Portanto, agora se vê um novo episódio, tal qual como a invasão da Ucrânia pela Rússia, apesar de ambos parecerem economicamente ilógicos”, explica Every, do Rabobank. Para ele, os mercados pensavam que a injeção regular de dólares compraria “tranquilidade geopolítica”, até que veio o Hamas e abriu as “portas para o inferno”.

REUTERS/Ashraf Amra

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