Quem busca por economia em viagens já se deparou com os programas de milhas. Os pontos em troca da preferência por uma ou outra companhia aérea são comuns nesse mercado, e funcionam como uma espécie de “cashback” do setor de aviação.
Para quem viaja muito, o programa de milhas pode ser uma forma de gastar menos, mas na hora de transformar as milhas em dinheiro, muita gente fica em dúvida sobre o que é mais vantajoso. Por isso, o InvestNews conversou com especialistas para entender qual a melhor forma de utilizar esses programas.
Programa de milhas
O programa de milhas é um programa de fidelidade de empresas aéreas que recompensa viajantes frequentes. Ele funciona empregando um sistema de pontos baseado no valor da passagem e na distância percorrida pelo cliente.
O programa de milhas funciona como um cashback específico para companhias aéreas. Ambos são programas de fidelidade, sendo que as milhas surgiram no contexto das viagens aéreas e o cashback se desenvolveu como uma maior versatilidade desses programas.
Origem
Poucos sabem que o primeiro programa de milhas do mundo foi desenvolvido pela Texas International, em 1979. Entretanto, a American Airlines (AALL34), com o seu AAdvantage, foi quem de fato informatizou o processo — e ganhou a fama de pioneira.
Para que serve o programa de milhas?
O programa de milhas serve como uma ferramenta para as companhias fidelizarem o cliente, se destacando como um diferencial competitivo para a empresa. Ele facilita a logística de aviões que precisam otimizar seus assentos em voos pouco lotados para justificar a viagem.
Para o consumidor, esse programa é utilizado para baratear passagens e estadias, assim como diversos outros produtos associados a viagens (translados e restaurantes, por exemplo).
Vantagem
A vantagem acaba sendo o barateamento de custos da viagem. Quanto maior for a relação milhas-reais, mais vantajosa é a oferta ou o programa de milhas.
Isso ocorre porque, além de poder trocar as milhas por produtos, o usuário do programa de benefícios pode ainda trocá-las por pontos e, consequentemente, dinheiro.
Para isso, vale entender a relação entre os programas de milhas das empresas aéreas e os de pontos das empresas de cartão de crédito.
Empresas de cartão de crédito, bancos e instituições pagadoras, como Visa (VISA34), Itaú (ITUB3) e Nubank (NUBR33) também possuem suas estratégias de fidelização. As “milhas” do cartão de crédito na verdade são pontos, com uma dinâmica ligeiramente diferente.
Por meio do mercado de pontos, elas buscam atrair clientes para consumir em suas plataformas, criando capital de giro que será reinvestido em aplicações de maior rendimento.
No meio do mercado de pontos, empresas como a Dotz (DOTZ3) se especializaram na mediação de programas de fidelidade, como o cashback, chegando a realizar seus primeiros IPOs na Bolsa.
Pontos no cartão de crédito
Os pontos podem ser adquiridos por meio de compras ou programas de assinatura, com diferentes formas de inscrição nas plataformas de bancos, cartões ou meios de pagamento.
Uso dos pontos
Existem diversos usos para os pontos de cartões de crédito. Além de descontos em lojas parceiras – normalmente listadas em aplicativos de banco das instituições que fornecem os pontos – também é possível conseguir abatimento de fatura ou convertê-los em dinheiro em fundos de investimento listados pela instituição.
Proporção
Ao adquirir um cartão de crédito ou se inscrever em um programa de fidelidade, as compras feitas começam a ser convertidas em pontos, geralmente na proporção de US$ 1 gasto = 1 ponto acumulado. Já a conversão para milhas aéreas costuma variar bastante, dependendo do programa.
Por exemplo: é comum encontrar situações em que 100 milhas equivalem a cerca de R$ 1 em valor. Isso acontece porque a origem das milhas está relacionada à distância percorrida em voos — quanto maior a distância, mais milhas são acumuladas. Essa lógica ainda influencia o valor das milhas acumuladas por meio das compras: se o volume de gastos for baixo, pode não valer a pena acumular milhas, pois o retorno financeiro será pequeno.
Portanto, para que o acúmulo de milhas seja vantajoso, é importante considerar o volume de despesas e a forma como cada programa calcula essa conversão.
Validade
As milhas, assim como os pontos, também possuem uma data de expiração. Apesar de cada programa ter o seu prazo, todos eles giram em torno da necessidade de uso dos pontos ou milhas antes que expirem.
É importante destacar também que a transição de pontos para milhas e vice-versa também pode diminuir a validade dos pontos.
Resgate de milhas e pontos do cartão de crédito
Uma vez que os pontos estejam prestes a vencer, o dono das milhas ou pontos pode querer resgatá-las e usar o valor em outros investimentos — como adquirir ações, FIIs, aplicar em fundos de investimento ou criptoativos.
Esse resgate acontece de maneiras diferentes, dependendo do movimento que se realiza: transformando pontos em milhas ou milhas em pontos.
Milhas em pontos
Para transformar milhas em pontos, é necessário uma das duas alternativas:
- Ou o usuário transfere as milhas para pontos de cartão de crédito de alguma das fornecedoras de milhas, usando os cartões de empresas como Azul ou Latam;
- Ou aproveita ofertas especiais realizadas por empresas terceiras que realizam essa conversão.
Entretanto, esse mercado ainda é fortemente desregulado no Brasil, fazendo com que essa transformação não ocorra de maneira simples. É sempre recomendado pesquisar o histórico da empresa que está propondo a conversão e a proporção de conversão nesses casos, uma vez que os pontos são mais versáteis do que as milhas.
Pontos em milhas
Para fazer o caminho inverso — transformar pontos em milhas — é consideravelmente mais fácil, uma vez que quem garante os pontos são as instituições financeiras.
As milhas podem ser vendidas em plataformas como a Hotmilhas, 123Milhas e MaxMilhas, usando pontos de cartão para sua aquisição. É um bom negócio para quem encontra uma melhor promoção de milhas e precisa viajar, por exemplo.
Outra maneira é a aquisição de pontos em cartões de crédito de empresas aéreas, que podem ser convertidos nos próprios aplicativos bancários.
Cada mudança, entretanto, irá pedir prazos, volumes e taxas específicas de conversão, por isso é necessário ficar atento às regras de cada programa de fidelidade e instituição de pagamento.
Vale a pena se cadastrar em programas de fidelidade?
Felipe Souza, especialista em milhas, explica que para começar no mundo das milhas não é necessário focar em um cartão de crédito. “Você só precisa ter o conhecimento de como funciona todo esse acúmulo e, depois, a emissão”.
Mas o especialista também ressalta que é preciso ficar atento às ciladas dos programas de milhagem — como o vencimento do benefício — e dos programas de pontuação dos cartões de crédito que, muitas vezes, exigem pontuações mínimas muito altas para resgate.
Contudo, o especialista ainda recomenda o uso do cartão de crédito nas páginas dos parceiros dos programas de fidelidade em que o usuário estiver cadastrado, uma espara que ele tenha ainda mais vantagem.
Por exemplo: uma pessoa viaja pela companhia Latam e, logo, está cadastrada no programa de fidelidade da companhia, o Latam Pass. Lá, essa pessoa poderá ver quem são os parceiros da empresa, como as lojas Americanas (AMER3), Magazine Luiza (MGLU3), Netshoes e por aí vai.
Ao realizar uma compra em uma dessas lojas parceiras, o usuário acumula milhas. Além disso, se a compra for feita com o cartão de crédito, ele também ganha pontos no programa do cartão — ou seja, dois benefícios ao mesmo tempo.
“Você acumula milhas por comprar em um parceiro e pontua ao usar o seu cartão de crédito. É uma maneira interessante de ganhar milhas de várias formas”, explica Souza.
O especialista alerta que, se o produto desejado na loja parceira estiver mais caro do que em outra loja, o usuário que tiver feito a compra com um cartão de crédito pode usar o recurso de proteção de preço, que reembolsa a diferença. No entanto, é importante verificar as condições específicas de cada categoria de cartão antes de usar essa função.