Finanças
Reserva de valor ou ativo de risco? O desempenho das criptomoedas na guerra
Há uma série de perguntas sobre a utilidade do bitcoin e outros ativos digitais na zona de guerra e na própria Rússia, onde os cidadãos comuns perderam poder de compra.
Esta é a primeira vez em que as criptomoedas estão sendo usadas como meios de adquirir equipamentos de guerra assim como um meio de doação à população ucraniana. E apesar de existir defensores dos criptoativos como uma reserva de valor, há quem defenda exatamente o oposto. Até então esse dilema ainda está longe de ter um vencedor.
Agora há uma série de perguntas sobre a utilidade do bitcoin e outros ativos digitais na zona de guerra e na própria Rússia, onde os cidadãos comuns perderam poder de compra com a queda vertiginosa do rublo, além da falta de acesso a infra-estrutura financeira, como o sistema Swift – um um sistema global de mensagens que é crucial para pagamentos internacionais. O Swift é utilizado por mais de onze mil instituições, gerando mais de trinta e cinco milhões de transações diárias.
Alex Gladstein, diretor de estratégia da Human Rights Foundation, disse em entrevista à uma rede de televisão que o bitcoin é uma ferramenta humanitária muito importante pelo fato de que “ele não pode ser congelado, ele não pode ser censurado e o fato de que pode ser usado sem identificação”. E é por isso que milhões de dólares em criptomoedas fluíram para apoiar o exército ucraniano e grupos ativistas.
Centenas de milhões de dólares em criptomoedas foram enviados para apoiar os ucranianos. Inclusive, o governo do país lançou um site para centralizar seu esforço de arrecadação de fundos baseado em bitcoin e outros criptoativos para apoiar sua luta contra a Rússia.
Agora o quão útil é uma criptomoeda para pessoas em crise ou organizações que precisam de doações vem sendo motivo de debate. E ao que parece, o bitcoin não parece estar desempenhando um papel central como era aguardado em tempos de crise como essa.
Segundo apontou um artigo do New York Times, uma possibilidade é que a criptografia ainda seja muito confusa e muito difícil para pessoas usarem, especialmente durante uma guerra. O acesso à Internet é irregular em muitas partes da Ucrânia, e relatórios sugerem que até mesmo as elites do país estão lutando para converter seus ativos em criptomoedas.
Outra possibilidade é que o bitcoin ainda é muito volátil para ser útil como proteção contra a instabilidade econômica e política. E em se tratando do desempenho da criptomoeda, ela não desempenhou – pelo menos até vinte dias após a invasão russa – tão bem quanto o esperado em situações de tempestade econômica e geopolítica.
Somado a isso, nos Estados Unidos, a inflação está subindo no ritmo mais rápido em décadas, e o VIX – o chamado índice de medo usado por Wall Street para medir a volatilidade esperada no mercado de ações – subiu mais de 80% este ano até meados de março. E isso tudo deveria ser teoricamente ótimo para o bitcoin. De fato, mesmo com os analistas de Wall Street contemplando a possibilidade de um Armageddon nuclear, os preços das criptomoedas chegaram até cair.
Já outra possível explicação para o baixo desempenho do bitcoin divulgada pela Bloomberg é que o caos corta os dois lados e que os mesmos eventos que podem ser vistos como “bons para o bitcoin” no curto prazo – inflação, sanções, conflito geopolítico – também podem ser ruins para ele a longo prazo, pois podem chamar a atenção dos reguladores.
Neste Cafeína, Samy Dana e Dony De Nuccio analisam o impacto da guerra nas criptomoedas além de contar com a participação do analista em criptoativos, Caio Villa.
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