Finanças
Rigidez dos bancos centrais turva cenário de recuperação dos ativos de risco
Contraste entre expectativa e realidade em setembro deixa dúvidas sobre reta final de 2023.
Setembro chegou ao fim e, junto com ele, também termina o terceiro trimestre de 2023. O último mês foi marcado por uma frustração das expectativas dos investidores em relação aos bancos centrais, o que deixa dúvidas sobre como será o desempenho dos ativos de risco nos últimos três meses deste ano.
Afinal, houve um grande contraste entre o que se esperava no início do terceiro trimestre e o que acabou se confirmando no fim do período. O Ibovespa, por exemplo, encerrou julho cravando a quarta alta mensal seguida e alcançando o maior nível desde agosto de 2021. O movimento antecipou-se ao início do ciclo de cortes no juro básico.
Porém, quando veio a queda, o Comitê de Política Monetária (Copom) definiu o ritmo de 0,50 ponto porcentual como uma “velocidade de cruzeiro”, descartando uma aceleração para 0,75 pp. Esse plano de voo conduziu uma série inédita de 13 pregões negativos da bolsa brasileira em agosto, em meio ao maior saque dos gringos desde a pandemia.
O Copom confirmou essa rota em setembro, deixando a renda variável no zero a zero na última sessão do mês. Decepção maior veio do Federal Reserve. Isso porque os investidores estavam convencidos de que o aperto em julho seria o último do ciclo mais rápido e acentuado na história dos Estados Unidos.
Mas ao “pular” setembro, o Fed não apenas deixou em aberto a possibilidade de novos aumentos, como também descartou a chance de cortes em breve. Com isso, os três principais índices acionários de Nova York amargaram queda acentuada em setembro e no terceiro trimestre, entre 3% e 4%, cada.
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Caindo na real
Os mercados tiveram de se ajustar à tese de juros (talvez) mais altos por um período prolongado. “Então, será que os mercados não compreenderam o que o Fed estava dizendo durante algum tempo? Ou simplesmente não acreditaram na narrativa do Fed durante muito tempo?”, indaga o estrategista sênior do Rabobank, Teeuwe Mevissen.
Para ele, ao que tudo indica, os movimentos bruscos dos mercados desde meados de agosto apontam para a segunda opção. Isso fica mais claro quando se olha para o salto no rendimento (yield) das Treasuries, com o custo dos empréstimos nos EUA voltando aos níveis da crise de 2008 em toda a curva, o que fortaleceu o dólar globalmente.
Os mercados domésticos também caíram na real, já que a taxa Selic deve seguir em terreno contracionista após parar de cair, não se afastando muito dos dois dígitos. Diante disso, sobram dúvidas quanto a um rali de fim de ano nos ativos globais que, se houver, pode ser mais uma “lembrancinha de Natal”.
“Após as decisões de juros, o mercado busca um novo intervalo de negociação. No Brasil, é importante o investidor entender que no médio prazo ainda há um cenário altista. Porém, no curto prazo a pressão aumentou e pode haver mais quedas à frente”
equipe de análise técnica do Itaú BBA
Ações seguras
Assim, a visão de recuperação dos ativos, em especial das ações, até dezembro se mantém, segundo os especialistas. Porém, eles ressaltam que os investidores devem mesclar a exposição ao risco com papéis mais seguros, já que existem certos grupos de ações negociando próximas às resistências, enquanto outras mostram fraquezas, dando sinais de retomada do movimento de baixa.
“Recomenda-se manter o foco em empresas com potencial de crescimento e grande capitalização, combinado com algumas defensivas”, avalia Mathieu Racheter, chefe de pesquisa de ações do Julius Baer. No entanto, ele reconhece que está “menos claro” quais os setores ou estilos de investidores irão se sobressair, em termos relativos.
Ainda assim, segundo as projeções, o setor financeiro tende a ter um bom desempenho após as últimas decisões sobre as taxas de juros, enquanto as ações relacionadas às commodities e ao consumo interno tendem a apresentar um desempenho inferior. Portanto, o momento é de paciência e prudência na hora de escolher os ativos, ressalta o Itaú BBA.
Considerando-se tudo isto, nada indica que os mercados vão melhorar em outubro – pelo menos não no início do mês. “A correção no tempo e no preço precisa avançar mais e isso ainda deve ser visto como um contexto para uma faixa de negociação instável”, prevê o diretor de investimentos da Truist, Keith Lerner, citado pelo site Yahoo Finance.
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