Finanças

Treasuries no maior rendimento em 10 anos ajudam a puxar Ibovespa para baixo

Indicador tenta recuperação após a marca inédita de 12 quedas seguidas; cenário interno também não ajuda.

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Enquanto no Brasil faltam notícias que ajudem o Ibovespa a romper de forma consistente a sequência de 12 quedas seguidas, no cenário externo um “novo normal” começa a tomar forma no mercado de títulos nos Estados Unidos, os Treasuries. O rendimento (yield) do bônus de 10 anos (T-note) atingiu na quarta-feira (17) o maior nível desde 2008 – em um movimento que também impacta o mercado brasileiro. 

Sede do Federal Reserve, em Washington 16/12/2015 REUTERS/Kevin Lamarque

A alta dos rendimentos dos Treasuries enfraquece a expectativa de que o Federal Reserve (Fed) Fed poderia iniciar um ciclo de cortes nos juros na primeira metade do ano que vem.

Ainda mais após o banco central dos Estados Unidos reforçar, na ata da última reunião, que a batalha contra a inflação nos Estados Unidos não está ganha. O alerta reforça a narrativa de “juros mais altos por mais tempo” (higher-for-longer) por lá, mesmo que a taxa siga próxima ao nível atual de 5,25%-5,5%. 

Tal perspectiva tem impacto direto nos ativos de risco, inclusive no Brasil. “Os yields de 10 anos subindo é algo extremamente importante, pois ocorre no momento em que o Copom decidiu iniciar o ciclo de flexibilização em meio a uma situação difícil para a renda fixa e a inflação global”, avalia o diretor-gerente de mercados de um banco estrangeiro.

Além do cenário nos EUA, há quem diga que a culpa também é da China, onde as más notícias se acumulam. Após a rodada de dados fracos de atividade e inflação, a crise no mercado imobiliário chinês parece ser muito pior do que os números oficiais mostram até agora. A inação do governo chinês assusta. Nem mesmo o recente corte nos juros pelo Banco Central local (PBoC) ajuda.

“Os cortes sugerem que a preocupação das autoridades com o estado da economia está aumentando, à medida que a ideia de recuperação da atividade liderada pelos gastos do consumidor parece muito vulnerável”, comenta, em relatório, o chefe de pesquisa da Ásia-Pacífico do ING, Robert Carnell.

Cenário interno também não ajuda

O Ibovespa nunca antes na história havia ficado tantos pregões seguidos sem subir. A inédita marca de 12 sessões consecutivas de queda foi alcançada ontem, quarta-feira (16), entrando para o livro dos recordes do principal índice acionário da bolsa brasileira, criado em 1968. Com isso, o Ibovespa segue sem fechar no azul em agosto. Nesta quinta-feira (17), o índice opera em alta, buscando recuperação.

Mesmo assim, as perdas acumuladas neste mês são de “apenas” 5,2%. Trata-se de um desempenho negativo bem diferente do observado em outros períodos prolongados de queda. Em 1984, por exemplo, o Ibovespa despencou quase 30% ao longo de 11 sessões. Quase 15 anos depois, em 1998, o índice à vista derreteu mais de 20% em nove pregões. 

Prédio da B3 em São Paulo 06/07/2023 REUTERS/Amanda Perobelli

Apesar da queda “a conta-gotas” do Ibovespa agora, não há dúvidas de que o investidor mudou o discurso para uma visão menos favorável sobre os mercados globais. Os riscos de contágio ao crescimento econômico no mundo pesam sobre os ativos de risco, impulsionando uma generalizada realização de lucros e ajuste de posições. 

“Há uma clara deterioração da posição técnica, o que ajuda a explicar a piora de curto prazo dos ativos de risco”, afirma o sócio-gestor da We Capital, Dan Kawa, pelo X (antigo Twitter), citando a pesquisa mensal do Bank of America (BofA). Segundo ele, os valuations menos atrativos para os padrões históricos são vistos especialmente no mercado dos Estados Unidos. 

Para agravar o cenário doméstico, o movimento ruim lá fora ocorre em meio à repentina deterioração do ambiente político em Brasília, que ameaça votações importantes da pauta econômica. “Diria que o problema é a falta de boas notícias no Brasil, em meio a uma situação difícil no mundo”, resume o diretor-gerente de mercados de um banco estrangeiro.

Haddad e Lira se cumprimentam no Palácio do Planalto 18/04/2023 REUTERS/Ueslei Marcelino

Diante disso, fica a dúvida: será que a bolsa um dia vai parar de cair e voltar a subir? Com certeza, diria o escritor Lewis Carroll, em alusão à clássica cena da queda da personagem Alice, em direção ao País das Maravilhas. Afinal, “ou esse poço não tem fundo ou essa queda não tem fim”. 

Até porque não se discute que a perspectiva de queda da taxa Selic é favorável à tomada de risco, em especial nas ações. Mas desde a decisão deste mês do Copom, o Ibovespa vive a maior sequência de dias negativos deste século, com a saída dos gringos da renda variável nacional deixando um vazio que os locais não preenchem, atraídos pela renda fixa.

Para o economista André Perfeito, o problema é que o mercado doméstico parece ter jogado a racionalidade para “debaixo do tapete”. Afinal, antes do corte de 0,50 ponto percentual na Selic, o mercado esperava queda menor, de 0,25 pp. “E agora aposta em 0,75 pp sem ao menos ruborizar a face”, ressalta. 

Com isso, a bolsa brasileira vai perdendo força e fica sujeita a correções adicionais, com os investidores derrubando os preços dos ativos, enquanto esperam algum gatilho para ir às compras. Em meio a freios e contrapesos, os mercados ficam cada vez mais avessos ao risco, à espera do pior, que ainda pode estar por vir… Será que a 13ª queda vem aí?

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