O poder dos dividendos: retorno com proventos supera ganho da própria ação em Petrobras, Vale e BB

Nos últmos cinco anos, por exemplo, Petrobras subiu 42%; colocando os proventos na conta, a alta vai a 409%

Os investidores, historicamente, costumam tratar os dividendos e os juros sobre capital próprio (JCP) como um forma de renda passiva. Mas os dados mostram que os proventos são muito mais do que isso. Para as companhias que mais distribuem dividendos, na verdade, essa é a principal forma de retorno dos papeis, que supera a própria variação das cotações.

É o caso, por exemplo, de gigantes da bolsa como Petrobras, Vale e Banco do Brasil. A ação preferencial (PN) da Petrobras acumula uma queda de 21% em 12 meses até agosto. Mas nesse mesmo período, a companhia gerou um retorno com distribuição de parte dos lucros de 13,20% para os detentores do papel. Isso significa que a queda em um ano foi bem mais suave: de 6,12%.

Já a ação ordinária (ON) do Banco do Brasi caiu 19% no mesmo período. E teve um retorno com dividendos (dividend yield ou DY) de 8,89%. Essa taxa é o retorno do dividendo em relação ao valor da ação. Então, com os proventos na conta, o recuo real foi de 10,49%. E a Vale ON sobe 5,83% em 12 meses até agosto. Com um DY de 8,12%, o verdadeiro retorno da ação da mineradora foi de quase 14%.

Um levantamento feito pela consultoria Elos Atya para o InvestNews mostra que os dividendos, muitas vezes, têm o poder de multiplicar o retorno ao acionista ao longo dos anos. A pesquisa levou em conta 10 papéis que mais pagaram proventos em intervalos de 10 anos, 5 anos e 1 ano. Mas só aqueles que fazem parte dos índices Ibovespa, Idiv ou Small Caps.

O resultado é que, no caso de companhias boas pagadoras de proventos, o ganho com proventos supera as valorizações nominais e o retorno aumenta muito ao se considerar o reinvestimento de dividendos e JCP nos períodos.

Reinvestimento, no caso, é quando o acionista reaplica os valores recebidos na distribuição de lucros nas próprias ações da companhia. Essa estratégia ajuda a turbinar os ganhos porque, além do próprio retorno com o dividendo ou JCP, o investidor captura potenciais altas do papel ao longo de vários períodos.

A história com dividendos é outra

Se olharmos para as ações já citadas da Petrobras, Vale e Banco do Brasil, o quadro é justamente esse: os desempenhos só dos dividendos superam os retornos com a valorização dos papéis no longo prazo. E o retorno composto, por sua vez, vai lá para cima.

Em cinco anos por exemplo, a Petrobras PN alcançou um retorno médio anual com dividendos e JPC (dividend yield ou DY) de 19,94%. Entre agosto de 2020 até o mesmo mês de 2025, o retorno só dos proventos alcançou 133%. Já o papel valorizou 42,7% no período. Isso significa que o retorno com distribuição de lucros foi mais de 3 vezes aquele proporcionado pela cotação.

Se considerarmos o chamado retorno total (total return), que considera a variação do papel mais o retorno com o reinvestimento dos proventos, a PN da Petrobras acumulou 409,23% em 5 anos. Trata-se de um retorno mais de 10 vezes superior ao do Ibovespa, de 38,46%, e quase 7 vezes maior do que os 61,32% que rendeu o CDI no período. Em outras palavras, 667% do CDI.

No caso da Vale, o retorno com dividendos em cinco anos foi de 11,01% na média anual. Em termos nominais, o ganho com proventos alcançou 55,44% no período. Já a ação ordinária (ON) da mineradora acumulou uma queda de 6,90% de 2020 a 2025. E o retorno total? Foi de 59,45%, superior, portanto ao do Ibovespa e quase igual ao do CDI.

Já o Banco do Brasil trouxe um retorno de 45,64% com dividendos nesse mesmo período, quando a ação ON subiu 31,03%. E o retorno total, portanto, alcançou 102,74% no intervalo. 168% do CDI.

No ranking dos maiores retornos com dividendos em cinco anos, a Petrobras ocupa o topo. Em seguida aparece a indústria química Unipar, que devolveu em média 18,48% anualmente. E em terceiro, a Bradespar, a holding de investimento em participações do grupo Bradesco, que apresentou um retorno médio com proventos de 13,38%.

Visão do retrovisor não significa caminho livre

É claro que o histórico de proventos não garante o retorno futuro. Uma prova disso é a própria Petrobras. Quem vê a petroleira hoje, com uma distribuição tão farta de lucros, talvez possa ter esquecido de que entre 2014 e 2017 a companhia enfrentou grandes problemas financeiros. Nesse intervalo, a petroleira registrou prejuízos seguidos, com uma perda acumulada de R$ 37 bilhões.

Se considerarmos esse período mais amplo a companhia entregou muito menos dividendos devido aos prejuízos. O DY médio em uma década recua para cerca de 14% ao ano comparado aos últimos cinco anos. Em termos nominais, o retorno só com os proventos da Petrobras alcançou 146% entre agosto de 2015 e agosto de 2025.

Na lista das companhias que pagaram proventos todos os anos na última década, a transmissora de energia Taesa fica no topo, com um “yield” médio de 9,98%. Em segundo, está a Bradespar, que apresentou um retorno médio com proventos de 9,38%. Na terceira posição, encontramos a Unipar, que devolveu em média 9,35% anualmente.

Já no ranking de maiores DY em 12 meses até agosto deste ano, quem lidera é a Syn Prop Tech, antiga Cyrella Commercial, que acumulou um retorno com proventos de 51,85%. Em seguida aparece a Marfrig, com 19,46%. No terceiro posto, está a Unipar, com 18,48%

Conheça os maiores pagadores de dividendos dos últimos anos:

O especialista de investimentos da Genial, Luigi Wis, reforça que o investidor de renda variável deve olhar o retorno total e não apenas a cotação ou a distribuição de dividendos. “Mesmo para quem busca renda passiva, olhar apenas o pagamento de dividendos não deveria justificar a escolha de uma ação.”

As ações consideradas como defensivas, ou seja, de companhias resilientes a cenários adversos, são exemplos evidentes. Como os modelos de negócios já estão consolidados, esses grupos costumam ter geração de caixa mais previsível.

São, por exemplo, empresas de setores como energia, infraestrutura e serviços públicos. Esse tipo de companhia, em geral, é mais olhada como uma opção para proteger a carteira do que em uma tese de ganhos potenciais com a valorização na bolsa. “É claro que uma empresa madura tem menos chance de dobrar de valor de um ano para outro ou ainda de reinvestir o lucro para crescer aceleradamente, por isso uma das melhores formas de dar retorno ao investidor é por meio de proventos.”, afirma o especialista de produtos da Global X, Flavio Vegas.

O analista ressalta que os proventos representam uma das várias formas de remunerar o acionista e, portanto, têm de fazer parte de qualquer avaliação de retorno potencial de uma ação, assim como o ganho potencial com a alta da cotação.

Muitas companhias não só distribuem parte do lucro como dividendos como também usam outra fatia desse recurso em programas de recompras. Nesse tipo de iniciativa, o grupo adquire na bolsa parte dos próprio papéis, como forma de impulsionar o valor.

A fama de boa pagadora de dividendos pode, ela própria, impulsionar a cotação de uma ação com o tempo. “Uma companhia com uma política consistente de distribuição de lucros pode atrair mais fluxo de compra e, eventualmente, com o tempo passar a negociar com prêmio sobre os pares˜, explica Wis, da Genial.

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