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7 das 10 principais ações de clubes de futebol recuam na bolsa desde IPO

Diferentemente do Brasil, Europa tem vários times listados; conheça os principais, riscos e vantagens de investir.

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Sete dos 10 principais clubes de futebol com capital aberto no mundo acumulam desvalorização na bolsa de valores desde que abriram seu capital (IPO), apontam dados da casa de análise Nord Research, com base em informações da Bloomberg. O levantamento foi feito a pedido do InvestNews e inclui apenas times europeus, região que concentra a maior parte das empresas de capital aberto do segmento.

Segundo analistas, os clubes de futebol estrangeiros com ações negociadas em bolsa movimentam cifras bilionárias e costumam ter um maior rigor da administração de suas finanças, fazendo com que tendam a ser mais saudáveis financeiramente.

João Peixoto Neto, CEO da Ouro Preto Investimentos, destaca que, após a abertura de capital de um time de futebol, o clube passa a ter diversos acionistas, que também são proprietários e a quem a administração deve prestar contas.

“Portanto, obriga o clube a ter mais governança corporativa, que se resume em maior profissionalismo do corpo dirigente, em transparência e responsabilidade na gestão financeira do time”, diz Neto.  

Se o time de futebol tem o capital aberto, é porque o clube já havia criado ou se transformado em uma empresa, destaca o CEO da Ouro Preto. Segundo ele, a maioria dos times, em todo o mundo, é formada por simples associações, que são sociedades sem fins lucrativos.

O jornalista esportivo e autor da coluna Esporte Bizz, Erich Beting, explica que, quando o clube passa a ser listado em bolsa, ele, necessariamente, precisa se preocupar com a gestão também fora de campo e que gera um grande impacto. 

“Como, hoje, a boa gestão quase sempre é premiada com boa performance esportiva, no final das contas, o caminho para se dar bem em campo passa por se tornar uma empresa mais saudável financeiramente. E a bolsa é quase uma forma forçada de se chegar a isso”, considera Beting.

Desempenho dos times de capital aberto

Victor Bueno, analista de ações na Nord Research, observa que a maioria dos clubes internacionais que possuem suas ações listadas em bolsa de valores é da Europa e disputam as maiores ligas de futebol do mundo, uma vez que estes campeonatos possuem a maior concentração de dinheiro no mundo do futebol. 

Confira os principais deles e o desempenho acumulado das ações de cada clube, desde a abertura de capital até 1º de agosto de 2022:

Ajax (AJX)

  • País de origem: Holanda
  • Início das negociação em bolsa: 1998
  • Desempenho da ação: +26,2%

Benfica (SLBEN)

  • País de origem: Portugal
  • Início das negociação em bolsa: 2007
  • Desempenho da ação: +16,7%

Borussia Dortmund (BVB)

  • País de origem: Alemanha
  • Início das negociação em bolsa: 2000
  • Desempenho da ação: -38,7% 

Celtic (CCP)

  • País de origem: Escócia
  • Início das negociação em bolsa: 1995
  • Desempenho da ação: +87%

Juventus (JUVE)

  • País de origem: Itália
  • Início das negociação em bolsa: 2001
  • Desempenho da ação: -62,5% 

Lazio (LAZI)

  • País de origem: Itália
  • Início das negociação em bolsa: 1998
  • Desempenho da ação: -94,3%

Porto (FCPP)

  • País de origem: Portugal
  • Início das negociação em bolsa: 1998
  • Desempenho da ação: -87,5%

Roma (ASR)

  • País de origem: Itália
  • Início das negociação em bolsa: 2000
  • Desempenho da ação: -80,6%

Manchester (MANU)

  • País de origem: Reino Unido
  • Início das negociação em bolsa: 2012
  • Desempenho da ação: -5,6%

Sporting (SPSO)

  • País de origem: Portugal
  • Início das negociação em bolsa: 1999
  • Desempenho da ação: -79,9%

Vantagens de clubes com ações na bolsa

Matheus Jaconeli, analista da Nova Futura, avalia que os pontos positivos de um time de futebol entrar na bolsa são os mesmos que os de qualquer companhia, como a entrada de mais sócios, mais transparência nas finanças e governança. 

“Há exemplos no futebol nacional e internacional de grandes equipes com tradição relevante perderem espaço ou passarem por crises por causa de má gestão. Todavia, não podemos considerar que o fato de um time de futebol entrar na bolsa o levará a ter uma equipe vitoriosa dentro de campo. Isso é um fator positivo, mas não é definidor para tal”, alerta o analista.  

Victor Faleiros, head de operações da Blue3 Investimentos, destaca que outra vantagem de um clube de futebol ter capital aberto é poder se financiar a um custo mais barato do que tomar empréstimo com banco ou no mercado, além da profissionalização da empresa. 

“É como um partido político, um presidente entra com uma gestão no clube, faz vários empréstimos, monta um time grande e, quando passa a gestão, o time fica endividado. Isso é terrível para o clube, que terá que pagar em algum momento. Agora, quando a empresa é de capital aberto, já muda. O mercado está regulando e checando os números o tempo todo. Não dá para presidentes de clube fazerem essas ‘loucuras’ ”, diz Faleiros.

Já Beting explica que, ao se tornar uma empresa de capital aberto, o clube de futebol passa a ser auditado e, naturalmente, pode vir a ter mais credibilidade no mercado, ampliando os valores ganhos com patrocínio, aumentando a receita.

O que considerar antes de investir nos clubes

Apesar de ser um segmento diferente do que os investidores estão acostumados a encontrar em bolsa de valores, Jaconeli, da Nova Futura, lembra que a primeira questão a ser considerada pelo investidor é a liquidez do ativo e o objetivo com o investimento. 

O analista explica que, embora os clubes sejam estrangeiros, as notícias em torno de algum time podem gerar impacto emocional. Por isso, segundo ele, é importante buscar informações e fundamentos sobre a saúde financeira dos times e lembrar que eles são empresas, sendo necessário levar em conta indicadores de valuation, assim como fundamentos como endividamento, margem etc. 

Na mesma linha, Victor Bueno, analista de ações na Nord Research, explica que é preciso saber que analisar um clube de futebol é muito semelhante ao avaliar uma empresa quando se deseja comprar as ações. 

“Analisamos a sua história (quando foi criado e o que realizou de lá para cá), a sua situação financeira atual, os riscos e incertezas do negócio, quais são as suas perspectivas futuras, entre outras questões para entender se pode ser um bom investimento ou não”, detalha o analista.

Bueno, da Nord, lembra que quando se vai investir em ações de clubes de futebol, o foco deve ser sempre na busca de empresas lucrativas, pois, no longo prazo, as contrações acompanham os lucros.

“Logo, se o lucro não aumenta, ou até mesmo cai, mesmo que a ação suba em momentos esporádicos, ela tende a andar de lado ou a se desvalorizar ao longo dos anos”, recomenda o analista.

João Peixoto Neto, da Ouro Preto Investimentos, destaca que, ao se fazer investimentos em uma empresa do ramo futebolístico, dois fatores devem ser levados em consideração: os genéricos e os específicos do ramo.

Os fatores genéricos seriam os relacionados a qualquer empresa de capital aberto na hora da decisão de investir, como se a companhia é bem administrada,  se tem boas receitas e bons lucros, se paga bons dividendos e tem boa governança. 

Já os fatores específicos, segundo Neto, dizem respeito, principalmente, ao porte, ou seja, ao número de torcedores e ao sucesso do clube nas competições das quais participa. 

“Clubes com grandes torcidas e que estejam sempre nos primeiros lugares dos principais campeonatos terão receitas muito maiores”, diz o CEO da da Ouro Preto Investimentos.

Neto alerta, no entanto, que este investimento é recomendado para qualquer investidor com perfil arrojado, que esteja acostumado a investir em renda variável, ou seja, que saiba e goste de realizar investimentos em ações, objetivando retornos maiores no longo prazo.

Para investir em clubes listados no exterior, é preciso que o investidor tenha uma conta em uma corretora que faça o envio do dinheiro para fora do Brasil para a negociação dos ativos no país de destino.

O que pode impactar as ações de times de futebol

Neto, da Ouro Preto Investimentos, afirma que as ações de times listados em bolsa de valores oscilam muito conforme a posição que cada time ocupa nos principais campeonatos, já que a receita dos times varia de acordo com os sucessos ou insucessos das equipes nas competições que disputam.

“Um time que ganhe diversas competições, certamente, terá receitas muito superiores a um time que esteja passando por uma má fase ou, por exemplo, sob o risco de rebaixamento para uma série inferior em um campeonato  ou que não consiga participar de competições internacionais”, explica o CEO da Ouro Preto Investimentos.

Jaconeli, analista da Nova Futura, destaca que, entre outros fatores, está também a situação financeira da companhia e até mesmo as notícias, como, por exemplo, quando o Ajax foi para a semifinal da Liga dos Campeões ou quando a Juventus anunciou a contratação de Cristiano Ronaldo, e as ações dessas equipes subiram. 

Performance das ações dos clubes 

Bueno, da Nord, lembra que as ações de clubes europeus listados em bolsa não apresentaram uma boa performance nos últimos anos. Segundo ele, com exceção às ações do Ajax, todas as outras apresentaram um desempenho negativo nos últimos cinco anos.

 As ações da Juventus chegaram a dar um salto em 2018, acompanhando o “efeito Cristiano Ronaldo”, jogador português que atuou no Real Madrid até a metade daquele ano e, logo após a sua saída, já começaram a veicular notícias de um possível interesse da Juventus. 

“Do início dos rumores de Cristiano Ronaldo no clube italiano até a concretização de sua contratação, as ações da Juventus chegaram a subir 180% em um período de poucos meses. O mesmo aconteceu recentemente, quando o jogador voltou ao Manchester United, fazendo com que as ações do clube subissem  mais de 44% na época”, diz Bueno.

Ele alerta, no entanto, que Cristiano Ronaldo, vencedor de cinco edições da premiação do futebol chamada Bola de Ouro, que elege o melhor jogador do ano, não foi capaz de impedir a queda das ações de seus clubes.

Ações de times de futebol: oportunidade de investimento?

João Peixoto Neto, da Ouro Preto Investimentos, defende que ações de times de futebol podem ser um bom investimento, pois os clubes têm grandes receitas em publicidade, royalties pelo uso dos símbolos do clube, ingressos e premiações. 

“Podem ser empresas altamente lucrativas, capazes de distribuir bons dividendos. Tudo dependerá  da boa ou má administração financeira do clube-empresa, do seu porte e do momento pelo qual esteja passando”, destaca Neto.

Para Jaconeli, a oportunidade e a vantagem de se fazer este investimento é que ele traz a possibilidade de diversificação no exterior. Todavia, segundo o analista da Nova Futura, a depender do perfil do investidor, existem alternativas e setores mais interessantes. 

“As equipes de futebol possuem, em média, grandes custos, dentre eles, irrecuperáveis e com grandes riscos, como é o caso da contratação de jogadores. Um jogador que é uma grande promessa ou que foi muito bem em outra equipe, não, necessariamente, terá o mesmo desempenho na equipe atual”, alerta o analista da Nova Futura. 

Cenário brasileiro

No Brasil, ainda não existem times de futebol com capital aberto. 

No ano passado, o presidente da República, Jair Bolsonaro, sancionou a Lei nº 14.193/2021, que estabelece regras para que clubes sejam transformados em empresas, criando a Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

Até então, os clubes de futebol eram associações civis sem fins lucrativos. A nova lei, no entanto, não obriga que os times se transformem em empresas.

Neto, da Ouro Preto Investimentos, explica que a criação de uma SAF é o primeiro passo para a abertura de capital de um clube, ou seja, para a listagem das ações na bolsa de valores para negociação pública.

“Não demorará muito para que diversas SAF’s façam o seu IPO e se transformem em companhias abertas”, estima Neto.

Alguns clubes brasileiros de futebol, como Vasco, Botafogo e Cruzeiro, por exemplo, já realizaram a criação de suas SAFs, transformando os times de futebol em empresas e fazendo a venda do comando delas para investidores interessados.

Bueno, da Nord, aponta que, apesar de grandes times já estarem se tornando SAFs e optando por melhores práticas de governança, ainda assim, a maioria deles está em situações financeiras bem delicadas e trazendo grandes preocupações para as suas torcidas e possíveis futuros investidores.

Para Jaconeli, da Nova Futura, a abertura de capital de times brasileiros trata-se de um movimento que deve levar tempo para ganhar força no Brasil e, agora, o foco deve ser a nova forma de gestão, para que, futuramente, haja a possibilidade de listagem em bolsa. 

Já para Victor Faleiros, head de operações da Blue3 Investimentos, é uma oportunidade excelente para o Brasil, onde já se te bons jogadores. Para ele, conforme o cenário for amadurecendo, é natural, e questão de tempo, que os clubes migrem para o mercado de capitais. 

“Não há nenhum lugar do mundo que ‘fabrique’ jogador de futebol como o Brasil. Por outro lado, temos a desorganização nas Ligas, com presidentes da CBF presos, esquemas de corrupção. Isso acontece porque são associações. A quantidade de talento que temos, e se conseguirmos profissionalizar isso, o retorno financeiro que pode dar aos investidores é gigante”, diz Faleiros.

Erich Beting avalia que o Brasil ainda está muito distante de pensar na abertura de capital de clubes na bolsa de valores. Segundo o jornalista esportivo, primeiro, é preciso haver um choque de gestão nas entidades para, então, começar a ter mais força para se imaginar a entrada de investidores e, posteriormente, a estruturação para abertura de capital. 

“Acredito que estamos em um estágio inicial de pensar no futebol como negócio, em que o clube passe a se organizar de forma mais profissional para, então, dar o salto para abertura de capital. Estamos na fase de perceber que a gestão bem feita e organizada é o primeiro passo a ser dado”, destaca Beting.

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