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Com mercado à espera do ‘Voa Brasil’, aéreas já oferecem 13% das passagens a menos de R$ 200
Mês de março se inicia com a espera pelo lançamento das medidas do governo para baratear bilhetes e ajudar o setor.
O mês de março se inicia com a espera pelo lançamento do programa “Voa Brasil”, com dúvidas sobre a abrangência do programa que promete passagens aéreas por R$ 200. No entanto, dados do setor mostram que bilhetes nessa faixa de preço já representam 13% das emissões.
Além do programa, existe também a expectativa por mais medidas do governo para baratear o preço das passagens aéreas no Brasil e dar suporte ao setor, como a criação de um fundo para as companhias. E, com base nas últimas declarações do governo, tudo isso pode ser oficializado nas próximas semanas.
Na última quarta-feira (21), o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, disse à CNN que a primeira etapa do programa seria lançada em março. Já na segunda-feira (26), ele afirmou em um evento em São Paulo que a oferta de passagens de R$ 200 não atenderia a todos. Segundo o ministro, o “Voa Brasil” será limitado inicialmente a aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que recebem até 2 salários mínimos e estudantes do Prouni.
Embora ainda não se saiba como funcionaria o programa e como ele seria financiado, o governo tem dito que haverá participação das companhias. Em uma de suas entrevistas, Costa Filho chegou a mencionar a participação das empresas Latam Airlines Brasil, Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4), que teriam prometido oferecer 5 milhões de passagens, segundo ele.
Questionada pelo InvestNews, a Azul disse em nota que “que vem participando do grupo de trabalho do Ministério de Portos e Aeroportos e colaborando com o desenvolvimento do projeto”. A Gol disse que “apoia a iniciativa”. A Latam não havia respondido ao pedido de comentário até a última atualização desta reportagem.
Passagens a menos de R$ 200 já existem
De qualquer forma, passagens a R$ 200 não seriam uma criação do programa planejado pelo governo. Apesar de estarem, em grande parte, ligadas a promoções das companhias aéreas, as tarifas nessa faixa de preço são uma parcela significativa do mercado.
Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), entre 2019 e 2023, 15,2% de todas as passagens domésticas vendidas no Brasil custaram até R$ 200. Considerando somente 2023, a fatia foi de 13%.
Já levando em conta todas as passagens vendidas, dados de dezembro mostram que um bilhete aéreo doméstico custava, em média, R$ 703,09, alta de 8,1% sobre 2022, com R$ 650,20 em valores já corrigidos pela inflação. O número de assentos comercializados, no entanto, caiu 15% no mesmo período, de 2,51 milhões para 2,12 milhões.
Boa parte dos bilhetes vendidos por valores mais baixos que a média vem de ofertas e promoções, muitas voltadas para períodos de baixa procura ou horários com demanda menor por viagens.
A Gol, por exemplo, informou em nota que “possui um amplo calendário de promoções ao longo do ano, com foco especial nas vendas nos finais de semana e madrugada, que fazem parte do plano da companhia de oferta de tarifas promocionais“.
Em uma delas, em janeiro, a companhia realizou uma promoção com passagens a partir de R$ 144. Em fevereiro, durante o Carnaval, outra promoção oferecia voos domésticos por R$ 184. A Gol tem ainda uma campanha noturna semanal para emissão de passagens para voos adquiridos com maior antecedência, com tarifas a partir de R$ 100.
Já a Azul informou à reportagem que “oferece passagens por valores abaixo de R$ 200, em diversos trechos da sua malha nacional, como Porto Alegre – Santa Maria, Curitiba – Londrina, Altamira – Belém, Belo Horizonte – Montes Claros, Juiz de Fora – Viracopos, entre outros destinos, mediante disponibilidade de assentos”.
Por sua vez, ao final de fevereiro, a Latam divulgou ofertas de passagens para voos entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro a partir de R$ 139,30, e entre São Paulo e Curitiba por R$ 160,10.
Passagem vai cair mesmo?
Depois de disparar 47% em 2023, o preço da passagem aérea tem arrefecido neste início de 2024. É o que mostram números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre janeiro e fevereiro, houve queda de 15,24%, considerando a prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15).
Mas a expectativa é de que os preços da viagem de avião sigam pressionados, segundo Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes. Primeiro por conta do retorno da demanda por viagens após a pandemia, que ainda segue forte. Depois, por fatores do próprio mercado de aviação, segundo ele.
“Hoje nós temos uma carência de oferta de aeronaves no mundo todo, não só no Brasil. A Boeing e a Airbus não estão conseguindo atender aos pedidos porque o mundo inteiro está querendo voar. A demanda por aviação está alta e a oferta não consegue atender”
Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes
Ao lado da alta demanda, as dificuldades enfrentadas pelas empresas ajudam a encarecer o preço da passagem. Nesse cenário, o governo estuda a criação de um fundo bilionário para as aéreas. A ideia é dar suporte para que companhias recuperem o reequilíbrio financeiro após a pandemia. Neste mês, a Gol entrou em recuperação judicial.
Nesta quinta-feira (29), o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, defendeu ajuda às companhias aéreas brasileiras e afirmou que o banco pode ofertar crédito a elas desde que seja criado um fundo garantidor com recursos da União.
As medidas não estão livres de críticas. “Qualquer ação de governo que venha a diminuir impostos ou subsidiar alguma coisa, alguém paga a conta”, diz Quintella, que vê com desconfiança também a promessa de emissão de passagens por menos de R$ 200 por meio de um programa do governo, mesmo que seja para um público direcionado como aposentados e estudantes.
“As companhias não vão liberar os voos de R$ 200 em todos os horários, para todas as rotas. Isso não existe. Não tem almoço grátis.”
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