O agronegócio não está puxando somente os números do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Para a Accor, multinacional de hotelaria, o crescimento do setor tem tudo a ver com seus planos de expansão para o Brasil. Tanto que a companhia francesa está de olho em cidades do Centro-Oeste para seguir com seus investimentos.
Citando cidades do Mato Grosso como Sinop, Sorriso e Lucas de Rio Verde, Abel Castro, diretor de desenvolvimento da divisão PM&E da Accor Américas, disse em coletiva de imprensa realizada em São Paulo nesta sexta-feira (23) que esses locais fazem parte da estratégia da companhia, dona de marcas como Ibis, Pullman, Novotel e Mercure. “Com certeza vamos ter novos hotéis nessas cidades”.
“São cidades que, anos atrás, a gente não poderia imaginar que recebessem um hotel internacional e hoje recebem, graças ao agronegócio.”
Abel Castro, diretor de desenvolvimento da divisão PM&E da Accor Américas
O agronegócio cresceu 14% no Brasil nos 12 meses terminados em setembro de 2023, contra 2% da indústria e 2,8% do setor de serviços, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
E é natural que os movimentos da economia brasileira tenham impacto sobre o planejamento da Accor. Thomas Dubaere, CEO da divisão PM&E da Accor Américas, conta que, na região das Americas, o Brasil representa 8% dos resultados da empresa, que está no país há 42 anos.
“O Brasil é uma das 6 regiões prioridades para a Accor.”
Thomas Dubaere, CEO da divisão PM&E da Accor Américas
Mas Castro ressaltou que, mesmo com esse reforço das atenções para o interior do país, a Accor “continua com a estratégia de desenvolver hotéis em grandes capitais”.
Corporativo ganha força, mas lazer ainda é destaque
As viagens corporativas não se recuperaram com a mesma força do turismo após a pandemia, mas têm dado sinais mais otimistas nos últimos meses, segundo os executivos da Accor. “O início de 2023 ainda foi um pouquinho complicado”, conta Thomas Dubaere, acrescentando que continuavam frequentes os questionamentos de quando o negócio retomaria o patamar anterior à covid-19.
“Dizia-se: 2024 ou 2025, e provavelmente vamos perder 10% do negócio porque as pessoas vão continuar a trabalhar em casa. Felizmente, ao final de 2023, essa resposta não estava mais certa”, afirma ele. “Em 2024 vamos chegar mais ou menos ao mesmo nível de 2019. Isso uma prova de que nossa indústria é muito resiliente.”
A expectativa é de que a continuidade do crescimento do segmento corporativo puxe o avanço dos resultados da Accor nos próximos meses – mesmo porque, após uma retomada considerada forte, “há um momento em que o crescimento do segmento de lazer não pode continuar no mesmo nível”, explica Dubaere.
Além dos segmentos de viagens de lazer e trabalho, a Accor aposta ainda no nicho de “experiências”, que ganhou força após a pandemia. Não à toa, em 2023 os hotéis tiveram 1 evento a cada 6 dias, segundo André Sena, diretor comercial, marketing e digital da Divisão PM&E da Accor Americas.
Mas, enquanto isso, o lazer segue em alta – e o Brasil é um dos mercados em que isso é ainda mais forte. “A gente tem Maragogi (AL) chegando em breve, Olímpia (SP) chegando em breve”, adianta Abel Castro sobre mais cidades que devem receber novos hotéis da Accor.
Estratégias
Diante do movimento de crescimento de 20% das receitas em 2023, para 5 bilhões de euros, a Accor diz que pretende acelerar o ritmo de abertura de novos hotéis. Em 2023, foram 291 aberturas pelo mundo, totalizando cerca de 40 mil quartos a mais.
E o modelo de expansão tem uma estratégia clara: “90% do que a gente está fazendo hoje é franquia”, diz Abel Castro. Ele acrescenta também a importância da conversão, “ou seja, um hotel independente que recebe uma marca da Accor”.
Outro fator chama a atenção sobre os resultados da companhia. Considerando tanto o segmento de luxo quanto os demais, a Accor foi ajudada pelo impulso do aumento de preços de hospedagens em diversos mercados.
Embora para os clientes isso represente viagens mais caras, para a empresa essa pode ser considerada uma boa notícia.
“A gente estava há muito tempo sem conseguir repassar um aumento de diária média na indústria como um todo”
André Sena, diretor comercial, marketing e digital da Divisão PM&E da Accor Americas.
Isso inclui o Brasil. O chamado RevPAR, que mede o desempenho do hotel considerando a receita dos quartos em relação a quantidade e período, teve alta de 12% globalmente. A região das Américas, que reflete principalmente o desempenho do Brasil (65% da receita de quartos da região), reportou um crescimento RevPAR de 15%.
“No mundo inteiro foi a mesma história”, afirma Sena, passando a falar mais especificamente do Brasil na sequência. “No Brasil, cresceu bem pouco a ocupação. Mais de 90% do crescimento veio de (aumento de) diária média, com cerca de 20%.”
Anos dourados: à espera do retorno?
Para Abel, os números mais recentes mostram que “o setor hoteleiro volta a chamar atenção do mercado porque é muito rentável”.
“Um Ibis em São Paulo dá uma rentabilidade de mais ou menos R$ 5 mil por quarto, o que dá R$ 300 por metro quadrado. Você não tem um escritório da Faria Lima que tem um aluguel como esse.”
ABEL CASTRO, DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO DA DIVISÃO PM&E DA ACCOR AMÉRICAS
No entanto, há quem diga que os “anos dourados” do setor no Brasil ficaram para trás – e isso não tem nada a ver com a pandemia. Castro concorda, mas segue otimista: “o melhor momento da hotelaria foi pré-Copa e pré-Olimpíadas”, afirma ele, acrescentando que o movimento de crescimento atual conta com “a eficiência operacional que a gente aprendeu na pandemia”.
“Se a gente continuar nessa onda, os anos dourados ainda estão por vir”, afirma ele.
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