Negócios
Defasagem do frete no Brasil chega a 18,7% com salto da inflação e combustíveis
Outros insumos do setor também tiveram alta significativa na comparação anual, como o preço dos veículos e o custo com mão-de-obra.
A defasagem do valor do frete para transportes rodoviários de cargas no Brasil fechou o primeiro semestre de 2021 em 18,7%, alta de quase 5 pontos percentuais em relação ao final do ano passado, pressionado especialmente pela inflação ligada ao aumento dos preços de combustíveis, afirmou a associação NTC&Logística nesta quinta-feira (05).
O movimento, segundo a entidade, foge das tendências sazonais, que indicam que a defasagem costuma diminuir no levantamento da metade do ano, uma vez que este já conta com os reajustes do frete solicitados pelas companhias no início do ciclo.
“A defasagem aumentou em função da inflação, principalmente a questão do combustível. Subiu muito neste primeiro semestre e as empresas não conseguiram repassar esses aumentos”, disse à Reuters o assessor técnico da NTC&Logística, Lauro Valdivia.
“Neste ano a inflação ultrapassou o reajuste, e acabou que a defasagem aumentou em vez de diminuir. O reajuste do início do ano foi insuficiente, não chegou nem à metade do que está a inflação agora”, acrescentou.
O comportamento do frete reflete esse cenário, apontando para um reajuste médio de apenas 1,3% no primeiro semestre, conforme a pesquisa da associação.
Diante disso, 35% das companhias ouvidas no levantamento disseram esperar que o valor do frete melhore no futuro, contra 31% ao final do ano passado. As expectativas de piora no frete passaram de 20% em dezembro de 2020 para 30% atualmente.
Há ainda 35% que acreditam que o índice se manterá estável, versus 49% na sondagem anterior.
“Temos acompanhado que os números do nosso setor vêm melhorando, depois de um período preocupante no início da pandemia. O que preocupa é a alta da inflação, que vem impulsionando a defasagem dos fretes”, reiterou o presidente da NTC&Logística, Francisco Pelucio.
Altos custos
Segundo a entidade, o levantamento mostrou que o preço do combustível – que em um caminhão bitrem nove eixos, por exemplo, representa 50% do custo total de operação – apurou alta de 41,24% em 12 meses, dando impulso aos índices de custos medidos pela associação.
De acordo com a NTC&Logística, Índice Nacional do Custo de Transporte de Carga (INCT) para as cargas fracionadas, que contêm pequenos volumes, teve alta de 22,32% no período, maior patamar em 26 anos, enquanto o INCT para cargas lotação – que ocupam toda a capacidade do veículo – avançou 24,98%, maior variação em 12 meses desde sua criação, em 2003.
O repasse da inflação por meio dos preços praticados pelas empresas tem sido realizado mediante negociações com os clientes, afirmou a associação, que vê esse movimento como necessário para a “sobrevivência das empresas”.
Além dos combustíveis, a entidade destacou que os outros dois principais insumos do setor também tiveram alta significativa na comparação anual: o preço dos veículos subiu em média 22% e o custo com mão-de-obra avançou 8%.
“No ano passado acabou não havendo reajuste de mão-de-obra, então ela acaba tendo uma influência grande”, destacou Valdivia. “Já o veículo subiu em média de 22%, mas isso pelo que a gente utiliza na NTC, nos nossos cálculos de custo. Teve modelo em que chegou a subir 35%.”
Juntas, as três categorias representam 90% dos custos operacionais no transporte rodoviário de cargas.
Desempenho das empresas
Ainda de acordo com a pesquisa da NTC&Logística, 53% das empresas disseram ter verificado desempenho melhor no primeiro semestre deste ano, contra 47,2% no levantamento anterior.
Na outra ponta, 29,5% viram desempenho pior (eram 36,4% na pesquisa anterior), enquanto 17,5% afirmaram ter registrado desempenho igual ao anterior.
Para o futuro, as companhias do setor se mostram otimistas com o segundo semestre de 2021. O segmento de cargas fracionadas, segundo Valdivia, tem demonstrado especial animação, acreditando que o mercado possa ter resultados ainda melhores do que os de igual período do ano passado.
Os possíveis empecilhos a um melhor desempenho, acrescentou o assessor técnico da associação, são a falta de mão-de-obra – ou seja, escassez de motoristas – e a falta de insumos, como peças e pneus.
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