Negócios
Em expansão, Smart Fit está mais estruturada para aproveitar demanda em alta
Essa é a avaliação de especialistas ao comparar a rede com Bluefit e Justfit; mas segmentação é dúvida para o futuro.
Planos de “expansão para os próximos períodos”. Foi assim que a Smart Fit anunciou recorde em novas unidades em 2023, indicando que o ritmo de crescimento deve continuar aquecido em 2024. Especialistas enxergam um ambiente econômico propício e espaço para esse avanço, além de uma posição mais madura em face da concorrência. Para o longo prazo, a discussão é sobre espaço para segmentar – tendência vista em outras academias, especialmente no exterior.
Nesse cenário, a Smart Fit (SMFT3) nunca abriu tantas academias como vem fazendo recentemente. Somente no quarto trimestre, foram 132 adições, a maior quantidade para um período de três meses. A rede fechou 2023 com 1.438 unidades, sendo mais de 700 no Brasil, 300 no México e 400 em outros países da América Latina.
No caso do Brasil, o avanço se dá em meio a expectativas de uma demanda mais aquecida pela inflação mais controlada e a renda da população aumentando, e “reforça que a administração da companhia segue confiante no processo de expansão”, segundo André Vasconcellos, vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI).
Essa confiança se reflete nos números: entre o segundo e o terceiro trimestre de 2023, mesmo com as receitas mantendo o ritmo de aumento, com alta de 4%, o lucro caiu 67%.
Enquanto isso, os investimentos na operação subiram forte. O chamado capex (investimento em bens de capital) totalizou R$ 325 milhões, com destaque para o investimento em expansão de R$ 270 milhões, 51% superior comparado ao ano anterior, segundo divulgou a empresa ao mercado.
Vasconcellos explica que investimentos elevados podem até reduzir o lucro líquido na última linha do balanço, mas isso “sem dúvida mostra um compromisso da companhia com o crescimento”.
Ele cita outros fatores para otimismo além do ambiente macroeconômico, e destaca entre os principais as mudanças demográficas e de comportamento da população, indicando que a busca por serviços relacionados a uma vida mais saudável deve aumentar.
Além disso, o espaço que ainda há para crescer também é visto como um ponto positivo, como aponta Bruno Corano, especialista em mercado financeiro, para quem o Brasil ainda tem “muito mercado a ser explorado”.
“Tem cidades relativamente bem estruturadas que não têm Smart Fit, têm academias tradicionais locais, e a gente sabe que a chegada de uma Smart Fit vai ser bem aceita, as unidades são bem estruturadas.”
Histórico do setor e oportunidades surgindo
Corano avalia que o modelo de negócios e a forma como ele surgiu ajudam a explicar por que a Smart Fit ainda pode expandir ainda mais. O principal ponto é a empresa ter conseguido ocupar um espaço vago no mercado, atendendo a uma demanda por academias bem estruturadas a preços acessíveis, especialmente em meio ao legado de experiências anteriores de outras empresas.
“Se a gente olhar lá atrás, eram todas unidades únicas, no esquema de academia de bairro. Então chegaram algumas redes, como a Runner, que por um tempo foi a maior”, lembra o especialista.
“Então, a Companhia Athletica se tornou a mais relevante, mas depois chegou a dar uma patinada”, continua. “Já a Fórmula era a academia premium que tinha em São Paulo e depois foi comprada pela Bodytech. E a Bodytech foi então o primeiro movimento mais profissional, financeiro no setor.”
Corano afirma que, antes daquele momento, o objetivo dos negócios era “ganhar dinheiro com a venda de mensalidades”, enquanto que, na Bodytech, “o dono planejava criar uma rede grande e tentar vender para uma grande rede americana que quisesse entrar no Brasil”.
Por crises econômicas, não aconteceu, mas ali já foi um grande movimento. “Se tornou a maior rede, a mais chique, e até hoje tem unidades top, como no Iguatemi”, lembra Corano, emendando que faltavam ainda no mercado, no entanto, “academias mais próximas e mais baratas, mas que tivessem estrutura”. E foi esse o espaço que Smart Fit, fundada em 2005, ocupou.
Chegada da concorrência
A Smart Fit já tinha alguns anos de estrada quando surgiram concorrentes com modelos de negócio parecidos. Em 2012, surgiu a Justfit e em 2016, Bluefit. Também em formato de redes, elas têm a mesma proposta de oferecer preços acessíveis em academias bem estruturadas. O tamanho, no entanto, é bem menor que o da Smart Fit, que tem capital social de R$ 2,9 bilhões. Enquanto isso, Justfit tem 164 milhões e Bluefit, R$ 113 milhões.
Na comparação com as demais, André Vasconcellos afirma que a Smart Fit “tem um nível de maturidade e governança bem diferenciado”. Por sua vez, Bruno Corano avalia que Bluefit e Justfit, por não terem a mesma capilarização, praticamente não concorrem com a Smart Fit. “São concorrentes em algum bairro, de forma pontual, mas não de forma macro”, diz ele, e complementa que “as outras redes não têm o mesmo projeto de expansão”.
De qualquer forma, o mesmo cenário macroeconômico que torna as perspectivas favoráveis para Smart Fit nos próximos anos na visão de analistas também beneficia as demais. As três empresas têm acompanhado a recuperação de seus números após o baque da pandemia.
Esse processo ainda segue em curso. Em 2022, a Justfit viu seu prejuízo diminuir em 94% e a Bluefit, em 89%. Já o da Smart Fit caiu 86% na mesma base de comparação, segundo dados do Valor Pro.
Mas a pandemia não tem sido o único fator por trás dos resultados. A Bluefit, por exemplo, passa por transformação. Após chegar a anunciar uma oferta pública inicial de ações (IPO) em 2021 e desistir da operação em 2022, em novembro do ano passado passou por uma mudança de controle.
O Mubadala Capital, com sede em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, finalizou a compra do controle da Bluefit, em transação com valor total estimado em R$ 464,1 milhões, segundo a agência Reuters.
O InvestNews procurou a Bluefit para questionar quais os planos após a mudança, mas a assessoria de imprensa informou que a companhia “encontra-se em um processo de estruturação devido à recente venda das ações ao Mubadala Capital” e que, por isso, não iria se pronunciar.
André Vasconcellos comenta que “é natural que, após uma mudança de controle, a empresa passe por reorganização e mudança de cultura” e, até que esse processo se efetive, ela “passa a ficar um pouco no perfil de lateralidade”.
Já Bruno Corano diz que, “no curto prazo, a distância é grande (para que a Bluefit ultrapasse a Smart Fit), mas que no longo prazo nunca dá para subestimar”.
“A gente já assistiu em muitos setores grandes líderes sucubirem a uma concorrência mais competente.”
Bruno Corano, especialista em mercado financeiro
Enquanto isso, uma eventual retomada dos planos de IPO da Bluefit é vista com certo ceticismo pelos especialistas, especialmente em meio às incertezas sobre quando as aberturas de capital vão voltar a ganhar força no país.
Por sua vez, a ação da Smart Fit segue na B3, e com perspectiva de alta entre analistas, ampliando ganhos após ter subido 58,9% em 2023. Segundo levantamento com 5 casas feito pela ferramenta Valor Pro, todas têm recomendação de compra para o papel da rede, incluindo Santander Corretora, Itaú BBA e XP Investimentos.
Olhando para o futuro
Enquanto o mercado brasileiro assiste a uma corrida pelo atendimento da demanda por academias bem equipadas a preços mais baixos, Corano chama atenção para outra tendência que já tem surgido de forma incipiente em algumas regiões: o modelo de academias mais segmentadas.
Com alguns exemplos pelo país, esse tipo de negócio já caminha a passos mais largos em mercados como o dos Estados Unidos, a exemplo de empresas como a XPonential Fitness, que tem marcas diferentes para redes de academias exclusivas para determinadas modalidades, como bicicleta, esteira, pilates e até treinos com barras.
“Realmente o ambiente de muitas academias cria um desconforto para muitas pessoas que não respiram aquele universo. Quando a gente olha para um mercado mais maduro como o americano, você vê segmentações de academias de todos os tipos, como academia só para mulher, e acaba tendo academias voltadas para certos segmentos“, analisa Corano.
Para o especialista, “isso é uma evolução”, embora ainda não esteja claro se o mercado brasileiro tem demanda suficiente para caminhar para o mesmo rumo de forma tão extensa como nos Estados Unidos ou em outros locais.
“O tempo que isso vai levar não depende só do tamanho do mercado. O Brasil é grande, mas a renda per capita não tanto. Até que ponto vai possibilitar coisas tão específicas? A Smart Fit é um modelo matador porque, bem ou mal, é barato e atende a todos. Mas existe essa tendência.”