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Petrobras não é ‘toda poderosa’ na formação de preços da gasolina, diz diretor
Em entrevista exclusiva ao InvestNews, diretores da empresa falaram sobre a política de preços da estatal e perspectivas.
“Há uma ideia de que a Petrobras é ‘toda poderosa’ nesse processo.” A frase é de Claudio Mastella, diretor de comercialização e logística da Petrobras, sobre os preços da gasolina nos postos de combustível. Segundo ele, é preciso “desmistificar essa ideia de que ‘é só a Petrobras mexer nos preços que o mercado todo vai modificar’”.
O preço da gasolina e do diesel tem subido com força em 2021, tornando-se inclusive um dos principais “vilões da inflação” neste ano. Enquanto isso, muitos apontam a Petrobras (PETR3; PETR4) como “vilã” do preço dos combustíveis, já que a empresa reajusta os preços nas refinarias de acordo com as cotações do mercado externo.
Em entrevista exclusiva ao InvestNews, Mastella reconhece que essa ideia está “no imaginário das pessoas”, mas diz que “a participação da Petrobras hoje na matriz de consumo de veículos automotivos é de menos da metade”.
“Se você olhar a composição do consumo recente deste ano dos veículos leves do Brasil, menos da metade, cerca de 45%, foi de combustível a partir de petróleo. Os outros 55% são etanol, ou hidratado diretamente para o automóvel ou anidro de aditivo para a gasolina”, diz o diretor.
Os números batem?
No acumulado de 2021, o preço da gasolina para o consumidor já subiu quase 46% e do diesel, quase 43%, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). No mesmo período, os preços nas refinarias, que são reajustados pela Petrobras, já subiram 65% para o diesel e 73% para a gasolina.
Sobre os números, a Petrobras aponta que “para entender melhor a questão, é mais adequado observar as variações em valores absolutos”. Segundo a empresa, em 2021 os ajustes promovidos na gasolina acumularam uma variação de R$ 0,98 na sua parcela na bomba, enquanto o preço final ao consumidor chegou a aumentar R$ 2,24 por litro. Para o diesel, a parcela da Petrobras na bomba variou R$ 1,22, enquanto o preço final ao consumidor chegou a aumentar R$ 1,73 por litro, ainda de acordo com a estatal.
Esses reajustes fazem parte da política de preços da Petrobras, que busca acompanhar as cotações lá de fora. O barril do petróleo já subiu mais de 40% neste ano, tanto o Brent quanto o WTI.
Ainda assim, os preços cobrados nas refinarias do Brasil estão abaixo do mercado internacional. Segundo cálculo feito pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), o preço médio do diesel na refinaria nacional está 5,6% abaixo do preço no Golfo do México (EUA) e o da gasolina, 7,8%.
O InvestNews questionou a Petrobras se essa defasagem indica que, apesar de estarem em patamares considerados altos para os consumidores, os preços dos combustíveis podem subir ainda mais.
“A gente periodicamente faz ajustes tentando adequar o patamar e manter os preços do Brasil razoavelmente alinhados ao mercado internacional. O que não quer dizer que eles são precisamente alinhados o tempo todo. A gente tem consciência disso”, respondeu Mastella.
Rodrigo Araujo Alves, diretor executivo financeiro e de relacionamento com investidores da Petrobras, diz que o aumento de preços neste ano é um fenômeno mundial, “muito em função do processo de volta da pandemia, das pessoas voltando a se movimentar”, o que aumenta a demanda por combustíveis. No Brasil, essa tendência de alta é agravada pela alta do dólar – outra variante acompanhada pela Petrobras para definir seus preços.
Por que seguir os preços de fora?
Mastella e Alves também responderam sobre a política de preços da empresa, que poderia, segundo críticos, basear sua margem de lucro nos custos em vez de tentar acompanhar cotações internacionais.
Os diretores afirmam que acompanhar os preços externos é uma forma de manter o negócio sustentável e, assim, garantir que o mercado de combustíveis brasileiro siga atraindo investimentos e, portanto, garantindo o abastecimento para os consumidores.
“Para que a gente tenha um mercado de combustíveis saudável no Brasil e que a gente não tenha desabastecimento como a gente vê em outros países, inclusive da própria América Latina, a gente precisa ter preços de mercado”, diz Alves.
“Os preços não são definidos pela Petrobras na prática. São definidos pelo equilíbrio dos mercados. A margem que a Petrobras pratica é, no final das contas, definida pela nossa eficiência em custos versus os preços de mercado”, complementa Mastella.
O diretor cita ainda que “a gente tem casos de exemplos em vizinhos nossos em que a produção ao longo do tempo chegou a reduzir mais de 90% porque os investimentos simplesmente cessaram, porque não há preços de mercado”.
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