Negócios
População das favelas brasileiras ultrapassa Bielorússia, Luxemburgo e Sérvia
Segundo levantamento feito pelo Data Favela, são 17,1 milhões de pessoas vivendo em 13.151 favelas brasileiras.
Segundo o levantamento “Um país chamado favela 2022” divulgado pelo Data Favela em parceria com a Cufa (Central Única das Favelas) e o Instituto Locomotiva, o país tem hoje 13.151 favelas – o dobro do registrado 10 anos antes (eram 6.329 favelas em 2012) – e cuja população já ultrapassa a soma de países.
Nestes espaços, existem 5 milhões de domicílios e mais de 17,1 milhões de pessoas que também são consumidores ativos. Se as favelas brasileiras fossem um estado, este seria o quarto maior do país, segundo o levantamento divulgado durante a primeira Expo Favela – evento realizado nos dias 15, 16 e 17 de abril no World Trade Center (WTC) – prédio localizado em área nobre da capital paulista. Nele, foram apresentados os empreendedores das favelas a investidores do asfalto.
Mas quando comparado a outros países, o número de moradores das favelas brasileiras ultrapassa as populações da BieloRússia (9.485.300 mi), Sérvia (7.114.393 mi) e Luxemburgo (562.958), somadas, segundo apurou o InvestNews.
De acordo com a pesquisa que abriu a rodada de painéis comandada por personalidades e empreendedores durante os três dias de evento, do total de moradores das favelas, a maioria é formada por mulheres (8,7 milhões), sendo estas também chefes de família. 21% dos lares são formados por mães solteiras, e 62% por casais com filhos.
Renda nas favelas
A favela tem um rosto e ele é negro, já que 67% de moradores se autodeclaram de cor preta, o que representa 11,5 milhões de pessoas. Contudo, os salários dos negros são menores que dos brancos, sendo que as mulheres são maioria nas favelas e recebem menos que os homens negros.
Apesar da realidade de menor renda, ao menos R$ 180,9 bilhões são movimentados anualmente nas favelas, o que segundo o Data Favela é uma renda maior que 21 dos 27 estados brasileiros. E, apesar da cifra expressiva, as reclamações sobre o mal atendimento das empresas nas comunidades lideram.
Apesar de 87% dos adultos declararem acessar a internet considerada de má qualidade, metade dos moradores fazem compras online, sendo que estas, muitas vezes, não chegam na porta das casas. A logística é um dos grandes desafios das companhias que atendem as regiões periféricas.
Além disso, os moradores disseram em questionário que as empresas não representam os valores da favela “simplesmente porque a grande maioria destas companhias não está dentro das favelas”, segundo apontou no estudo Renato Meirelles, fundador do Data Favela.
Empreendedorismo
O levantamento fez uma análise com os moradores de favelas sobre o desejo de se tornarem empreendedores. 76% têm, tiveram ou pretendem ter um negócio próprio, seja por enxergar oportunidades de negócio como por necessidade. Ao menos 50% se consideram empreendedores, 41% têm negócio próprio mas, destes, apenas um terço tem CNPJ.
Já sete em casa 10 dos que ainda não têm um negócio próprio pretendem abrir e vender dentro da favela. Agora, quando perguntado sobre o futuro, 81% dos moradores das favelas estão otimistas e acham que as coisas vão melhorar.
Expo Favela
Celso Athayde, CEO da Favela Holding (com 22 companhias atualmente) e fundador da Central Única das Favelas, foi quem capitaneou o evento, cujo painel de abertura trouxe dados sobre a realidade das favelas no Brasil.
“Este evento representa esta ponte entre os dois universos. Hoje temos mais de 20 mil empreendedores da base da pirâmide da favela que não têm tanto conhecimento sobre o que o mercado quer além de não ter muitos acessos”, disse Athayde, que em outubro recebeu o prêmio de Empreendedor Social do ano pela Fundação Schwab ligada ao Fórum Econômico Mundial.
Segundo Athayde, uma das dificuldades confessadas a ele por pessoas bem sucedidas no mundo dos negócios é a comunicação com o público das favelas. “Eles dizem que não dá match porque eles não entendem o que a gente fala, o que de certa forma é compreensível, já que não estudamos nas grandes universidades. E é por isso que os moradores das favelas precisam ter uma melhor compreensão da linguagem dos empresários e assim aumentarem a sua própria régua para saber o que é um share, um trade, o que significa network, e por aí vai”.
“Já que os homens do asfalto não chamam as favelas para irem até eles nesses eventos de impacto, então precisamos criar o nosso evento num lugar de impacto e chamar os asfaltistas para interagirem conosco”
Celso Athayde, idealizador do Expo Favela
De Luíza Trajano a Alok
Com público aproximado de 33 mil pessoas, o encontro que ocorreu no último final de semana teve cerca de 36 horas de programação e contou com conferências com personalidades e empreendedores como Luiza Helena Trajano, Thelma Assis, Emicida, Alok, o produtor Kond (Kondzilla), o rapper Dexter, Luciano Huck, além de moderadores dos debates como a jornalista Natuza Nery.
Além das oportunidades de negócios, foram selecionados 10 projetos entre os 300 expostos para participar do reality show “Expo Favela – O Desafio”, uma produção da Favela Filmes com a Rede Globo, que será exibido na emissora aos sábados.
Veja também:
- ‘Como explicar para o negro da periferia o que é Goldman Sachs e Morgan Stanley?’