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Pautas ESG e eleições no Brasil: quem cumpre compromissos tem seu voto?

Crescimento do interesse por temas ESG no Brasil e no mundo impõe que empresas, governos, candidaturas e investidores façam escolhas e ajam de forma convergente com os discursos

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Consumidores e investidores no mundo inteiro, incluindo o Brasil, estão aderindo cada vez mais às pautas relacionadas com o ESG nas tomadas de decisões. Seja no plano de negócios ou na escolha da aquisição de um produto, uma dessas letrinhas do ESG (Governança, Ambiental, Social) estará no pacote.

Em relação às gestoras de fundos brasileiras, um estudo da ANBIMA indica que cresceu em 81% o número de gestoras que consideram os princípios ESG em seu processo de análise de investimento. Levam em conta, como principais critérios para tomada de decisão: 1) Governança; 2) Ambiental e 3) Social. Esse resultado demonstra a tendência de fortalecimento dessas pautas como fator determinante para quem investe no Brasil.

Em convergência com as tendências do mercado financeiro, na outra ponta, temos 62% dos consumidores – identificados em estudo global da IBM – que afirmam ter disponibilidade para trocar seus hábitos de consumo caso a mudança reduza o impacto ambiental. Esses dados globais reforçam a tendência que também se observa no Brasil, que tem suas características próprias.

Um estudo com 3 mil consumidores brasileiros sobre os pilares do ESG foi divulgado em 26 de setembro deste ano. O levantamento realizado pelo Google, em parceria com a MindMiners e Sistema B, com metodologia elaborada para o Brasil, revela que 87% dos entrevistados consideram importante a atuação de empresas e marcas em relação às pautas do ESG. No entanto, apenas 1 em cada 5 já ouviu falar sobre a sigla.

Esses dados contraditórios revelam que, mesmo sem saber o que leva empresas a adotarem as práticas, os consumidores do Brasil já as identificam como algo que precisa existir. Conforme o Google (Lívia Sitta, Pedro Priolli, Cinthia Gherardi/setembro de 2022) explicita, ao apresentar os resultados:

“E para os brasileiros, esses temas são de responsabilidade de todos os setores da sociedade: governos, marcas, mídias, ONGs e até o próprio indivíduo. (…) Ao mesmo tempo, há um movimento crescente entre os consumidores em relação ao que estão adquirindo. Eles querem saber qual é o posicionamento e a reputação das marcas que consomem, o que muitas vezes envolve ter acesso a informações mais detalhadas de como as empresas se relacionam com o meio ambiente, lidam com questões sociais e garantem uma administração responsável.“

Foi em 2005 que a sigla apareceu pela primeira vez, mencionada no relatório “Who Cares Win” (ou, em português, “ganha quem se importa’’), uma iniciativa liderada pela ONU, que reuniu 20 instituições financeiras de 9 países – inclusive o Brasil – para desenvolver diretrizes e recomendações sobre como endereçar as questões ambientais, sociais e de governança na gestão de ativos, serviços de corretagem de títulos e pesquisas relacionadas ao tema. 

Ostentar a sigla é desejável, como pode se aferir dos resultados de pesquisas em nível nacional e global, mas como acompanhar efetivamente as práticas? Essa é uma das questões também identificadas no estudo do Google / MindMiners / Sistema B: “O que os consumidores estão pedindo é transparência, conscientização, debate, informação e comunicação. Como diz a expressão ‘Walk the Talk’, as pessoas querem garantias de que as marcas estão ‘agindo de acordo com o que falam’.”

A necessidade de acompanhar, mensurar e demonstrar os resultados é vital, pois pode haver efeito contrário ao desejado caso não haja comprovação – ou existam dúvidas – sobre a eficácia e seriedade das ações. Acusações de “greenwashing”, por exemplo, que acontecem quando uma empresa se diz ESG, mas na prática não é, trazem prejuízos à imagem que podem chegar aos cofres ou, no caso de governos, às urnas.

O que as  eleições têm a ver com “greenwashing” e ESG? Tudo!

Precisamos ressaltar que a sigla inclui as pautas de ações afirmativas, inclusão e promoção da igualdade de raça e gênero, além do óbvio desmatamento, que para as atuais candidaturas à Presidência são temas críticos.  Com isso, as pautas que têm relação com ESG estão na ordem do dia até o final do mês, como bem vimos no último debate presidencial, realizado pela emissora Band, em 16 de outubro.

Sobre o desmatamento, informações foram dadas à audiência pelos dois candidatos para se beneficiarem nas abordagens. Porém, como já alertamos acima, o tiro pode sair pela culatra e os dados mostram quem realmente se empenhou na pauta e quem ostentou a sigla sem amparo nos números. Ao comparar o desmatamento em números absolutos, o atual presidente tentou “aparentar” ter feito a lição de casa do ESG, mas ao fazermos a avaliação correta dos dados, há um erro crasso nessa comparação.

Ao assumir o primeiro governo, o ex-presidente e que venceu o segundo turno das eleições presidenciais, Lula, “herdou uma taxa de desmatamento na Amazônia de 25.650 km². Já em 2018, quando Bolsonaro se elegeu, a taxa foi de 7.536 km², quase três vezes menor.”, afirma o Jornal O Globo em 17 de outubro. E segue: “No acumulado dos dois mandatos de Lula, o índice caiu 72%. Já no governo Bolsonaro, de 2019 para 2021, houve um crescimento de 72%, segundo o sistema Prodes do Inpe.”

Ou seja, um “greenwashing” imediatamente contestado por especialistas e pela mídia. Embora o Governo Brasileiro tenha firmado compromissos internacionais com as pautas ambientais e ESG, estes não têm sido cumpridos e essa postura tem impactado a nossa economia, afastando investidores comprometidos com as causas ambientais. Com o segundo turno batendo à porta, é preciso ter em mente que o mundo inteiro está de olho em nosso país, nas pautas ESG, e que não ter controle sobre o desmatamento – assim como das outras letrinhas da sigla – pode resultar em perda de valor agregado institucional, dinheiro, prestígio nas relações internacionais, além de impactar diretamente nossas vidas. 

Cumprir combinados de acordo com as narrativas que são apresentadas traz credibilidade e confiança. Seja nos negócios, nos hábitos de consumo, nas propostas eleitorais ou na condução de governos. No final de outubro, se abriu uma janela de oportunidade para colocar o Brasil em posição de maior confiabilidade diante do mundo. O monitoramento de quem assume e cumpre compromissos sociais e ambientais é uma agenda mundial também com impactos locais.

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