As empresas americanas estão recomprando suas ações em ritmo recorde, impulsionando os balanços e a recuperação das ações americanas.
Assim, as empresas americanas anunciaram US$ 983,6 bilhões em recompras de ações neste ano, o maior valor já registrado desde 1982, de acordo com dados da Birinyi Associates.
A projeção é de que as empresas dos EUA comprem mais de US$ 1,1 trilhão em 2025, o que representaria um recorde histórico.
As gigantes da tecnologia Apple e a Alphabet, controladora do Google, são as campeãs de recompra. Grandes bancos como JPMorgan Chase, Bank of America e Morgan Stanley também estão liderando o movimento.
O forte aumento dos lucros e os cortes de impostos ajudaram a encher os caixas corporativos, ao mesmo tempo em que as ações não foram impactadas pelas tarifas de abril e elevaram o S&P 500 e o Nasdaq Composite a novos recordes.
A confusão em torno do comércio também paralisou os planos de investimento de muitas empresas, tornando as recompras de ações um uso mais atraente do caixa recebido.
“As coisas estão melhores do que todos dizem”, disse Jeffrey Yale Rubin, presidente da Birinyi Associates. “As empresas estão com muito dinheiro. Elas já estavam financeiramente bem antes mesmo dos lucros melhores.”
Recompra de ações
Tanto empresas quanto investidores frequentemente são a favor das recompras, porque a prática reduz o número de ações disponíveis para negociação, elevando o lucro por ação e, muitas vezes, impulsionando as cotações.
Mas essa estratégia é controversa em alguns setores, pois os céticos argumentam que as recompras servem para sustentar o mercado em um momento em que as avaliações já estão em seu valor máximo.
Alguns analistas temem que a preferência por recompra de ações em vez de compromissos de longo prazo, como investir em fábricas ou oferecer dividendos, sugira que a guerra comercial do presidente Trump possa pesar sobre o crescimento ao longo do tempo.
Os céticos também afirmam que as empresas tendem a recomprar ações quando elas estão em alta, e não quando estão relativamente baratas, tornando as recompras um uso ineficiente do caixa extra.
Os anúncios de recompra aumentaram em julho, quando fortes lucros corporativos, uma onda de acordos comerciais e sinais de resiliência econômica impulsionaram as ações a novas máximas históricas.
Empresas americanas anunciaram US$ 165,6 bilhões em compras no mês passado, um aumento em relação ao recorde anterior de julho de 2006, de US$ 87,7 bilhões, de acordo com Birinyi.
As empresas também compraram ações quando os mercados estavam mais fracos no início de 2025. As companhias que fazem parte do S&P 500 compraram US$ 293,5 bilhões em ações durante os primeiro trimestre deste ano, um recorde trimestral e um aumento de 21% em relação ao final de 2024, de acordo com dados do S&P Dow Jones Indices.
Empresas que estão recomprando as próprias ações
As recompras têm se concentrado particularmente no alto da pirâmide, com as 20 maiores empresas respondendo por quase metade das recompras.
As maiores autorizações de recompra deste ano são de grandes empresas de tecnologia, que estão se beneficiando com a valorização das ações de inteligência artificial, cujos balanços patrimoniais dispararam mesmo com a alta de seus valores de mercado.
Em maio, a Apple prometeu destinar até US$ 100 bilhões à compra de suas próprias ações, ao mesmo tempo em que alertou que as tarifas poderiam aumentar seus os custos em milhões de dólares. A empresa possui US$ 36,3 bilhões em caixa e equivalentes de caixa, de acordo com os resultados trimestrais divulgados em julho.
A Alphabet anunciou um programa de recompra de ações de US$ 70 bilhões no início deste ano e informou ter cerca de US$ 21 bilhões em caixa e equivalentes.
Os maiores bancos dos EUA também estão na vanguarda desse movimento de aumento.
O JPMorgan anunciou em julho que recomprará US$ 50 bilhões em ações.
O Bank of America anunciou um programa de recompra de ações de US$ 40 bilhões.
E o Morgan Stanley autorizou até US$ 20 bilhões em recompras.
Alguns analistas veem a recente onda de compras dos bancos como um sinal de que o desaquecimento da economia não afetou a capacidade dos americanos de continuar gastando e tomando empréstimos.
“As recompras sugerem que a saúde financeira do consumidor está boa no momento”, disse Bill Fitzpatrick, diretor-gerente da Logan Capital Management, para o The Wall Street Journal.
Outros questionam se as empresas estão usando as recompras para impulsionar os preços das ações e encobrir o impacto das tarifas de Trump em seus balanços. Alguns observam que as empresas também podem adiar as recompras se as tarifas pressionarem seus lucros.
Warren Buffett não está entre os compradores. A Berkshire Hathaway divulgou no início deste mês que se absteve de recomprar ações durante o período de abril a junho, marcando o quarto trimestre consecutivo em que não comprou suas ações. O caixa da Berkshire atingiu o recorde de US$ 344 bilhões, incluindo equivalentes, no final de junho.
Contra a recompra
Larry Fink, da BlackRock, fez um alerta contra recompras em sua carta anual aos CEOs, afirmando que elas podem oferecer retornos rápidos, mas devem ser equilibradas com investimentos de crescimento de longo prazo.
Mas muitos analistas afirmam que a onda de compras deverá impulsionar os índices, já estimulados pelos sólidos lucros corporativos, e promover a alta das ações por enquanto. De 91% das empresas do índice S&P 500 que divulgaram os resultados do segundo trimestre, cerca de 82% superaram as estimativas, de acordo com a FactSet. “Isso é um bom prenúncio para o mercado em geral”, disse Fitzpatrick.