Determinar se uma empresa é lucrativa não depende de instinto, mas de uma análise cuidadosa dos seus indicadores. E para quem quer investir em renda variável, um que não pode sair do radar é o LPA.
O Lucro por Ação (LPA) é uma das principais métricas da análise fundamentalista. Ele vai ser um dos indicadores usados pelo investidor que quer comprar barato e vender caro.
O que é o Lucro por Ação (LPA)
O Lucro por Ação (LPA) é uma métrica que calcula o lucro líquido de uma empresa dividido pela quantidade de ações negociadas em bolsa. Essa medida é usada em outros cálculos, como o do preço sobre lucro.
Ele cria uma métrica que associa a rentabilidade do negócio com a liquidez das ações, fazendo com que seja preciso analisar: ele está alto porque há poucas ações no mercado ou por que os lucros estão altos?
Como calcular o Lucro por Ação (LPA)
O cálculo do Lucro por Ação é simples: é necessário pegar o lucro líquido da empresa (depois de taxas e descontos) e dividi-lo pelo número de ações que a empresa possui em circulação.
Por exemplo, vamos tomar a empresa Gerdau Metalúrgica (GOAU4). A companhia negociava, no dia 22 de junho de 2022, com um LPA de 4,68. Isso significa que, se você pegasse todo o lucro da empresa e o dividisse pela quantidade de ações em circulação, o lucro seria quase 5 vezes maior que o número de ações da companhia.
Esses dados podem ser encontrados na página de cotação da Gerdau Metalúrgica, na tabela de dados da empresa:
Na mesma tabela, também é possível localizar os dados relativos ao total de ações de mercado, nesse indicador:
Logo, para calcular o LPA seria necessário pegar o Lucro Líquido (R$ 5,063 bilhões) e dividir pelo total de ações no mercado (R$ 1,081 bilhões). A conta ficaria assim:
5,0631,081=4,68
Com esse valor, já é possível ter uma ordem de grandeza. Entretanto, é necessário observar se estamos falando de uma média ponderada entre ações preferenciais e ordinárias, sobre lucros recorrentes ou lucros extraordinários da ação.
Média ponderada entre ações preferenciais e ordinárias
Para obter um LPA mais assertivo, é necessário fazer a ponderação entre as ações preferenciais e ações ordinárias, quando a empresa possui os dois tipos de ativos.
Enquanto as ações preferenciais (PN) garantem que o acionista tenha preferência no recebimento de dividendos, as ordinárias (ON) garantem poder de voto em assembleia.
“A pessoa opta pela ação ON quando quer controle da empresa, e pela PN quando quer dividendos”, afirma o influenciador de finanças Mira em seu canal.
Uma vez que essas ações possuem compradores distintos, elas podem sofrer mudança de preço, sendo negociadas a valores diferentes, e consequentemente sendo necessário atribuir pesos diferentes na hora de calcular o LPA.
Lucros recorrentes
Os lucros recorrentes vêm de operações típicas das empresas. Se todo trimestre uma empresa distribuidora de energia apresenta lucros dentro da mesma faixa, esses podem ser considerados lucros recorrentes.
Entender se os lucros que aparecem nos relatórios são recorrentes ou extraordinários pode ajudar o investidor a não ser surpreendido por altas repentinas nos lucros, que não irão se repetir.
Lucros extraordinários
Os lucros extraordinários são fruto de operações que não eram esperadas pelo mercado. Eles podem envolver a compra e venda de ativos como linhas de transmissão, hospitais ou similares – bens de grande porte e cuja venda pode gerar receita de lucro.
Entretanto, esse mesmo resultado extraordinário raramente está relacionado ao core business da empresa. Por isso, é necessário avaliar o Lucro por Ação em uma série histórica, e observar se ele pode estar enviesado por uma venda recente, por exemplo.
Como analisar
O InvestNews consultou o assessor de investimentos Vinícius Gomes, da Miura Investimentos, sobre os cuidados que um investidor precisa ter ao começar a trabalhar com o LPA. Esse indicador, nas palavras do analista, precisa de um cuidado especial: comparação.
“Para fazer uma boa aplicação deste indicador, a palavra-chave é ‘comparação’”, diz ele. “Um número isolado não diz nada. Esse múltiplo deve ser comparado de forma histórica (analisando o LPA de diferentes períodos) e entre empresas de um mesmo setor.”
Análise histórica
A análise histórica do LPA permite que o investidor não incorra no problema de lidar com lucros recorrentes ou lucros extraordinários.
“Em relação ao lucro, é sempre bom saber se, em um determinado período, houve algum valor não recorrente que afetou este resultado, pois isso pode distorcer o múltiplo obtido, fazendo com o que o resultado não demonstre a real situação da empresa (para mais ou para menos)”, pontua Gomes.
A análise histórica do LPA pode ser aplicada ao LPA trimestre por trimestre ao longo do tempo, observando como ele varia no decorrer do tempo. Pontos muito fora da curva podem apresentar lucros extraordinários ou prejuízos pontuais.
Setorial
Quando se cruza o LPA de várias empresas do mesmo setor e faz a média ponderada delas, chega-se ao LPA Setorial. Para isso, é possível aplicá-lo em vários setores da economia, como energia, varejo ou saúde, por exemplo.
Entretanto, é possível observar que o LPA médio de geração de energia é diferente do de transmissão de energia, e que o LPA de lojas físicas é diferente do varejo digital.
Ter em mente os diferentes LPAs das operações de uma empresa ajuda a situar se ele está acima ou abaixo da média do setor.
Concorrente
A média do setor é avaliada como a média de todas as empresas, mas você também pode compará-lo com o LPA das concorrentes.
Depois de identificar empresas de mesmo porte e mesmo setor, é possível observar se outras apresentam lucros por ação acima da empresa selecionada para análise. A partir disso se tem um parâmetro de comparação que ajuda a escolher umas em detrimento de outras.
Emissões e cancelamentos
Falamos de como o lucro extraordinário pode enviesar o valor do LPA. Agora mencionamos outro valor que também pode enviesá-lo: o número de ações livres.
Companhias podem fazer novas emissões de ações, aumentando a quantidade (e consequentemente diminuindo o LPA), ou cancelarem ações em tesouraria, aumentando o LPA artificialmente.
O investidor precisa estar ciente desses movimentos e saber se o LPA está sendo reajustado em toda a série histórica a partir desses volumes.
Forma inteligente de se analisar ações
Gomes ainda pontua que o LPA é mais uma ferramenta que o investidor precisa conhecer na hora de fazer sua leitura das ações:
“Em resumo, o LPA nos ajuda a descobrir o valor que uma empresa pode distribuir para cada ação que ela possui. Porém ainda precisaremos comparar essa variável com o preço de mercado desta mesma ação.”
