A vida de Jacques Torres, mestre do chocolate, aos 65 anos
O chef confeiteiro nascido na França é desafiado por noções de aposentadoria, estacionamento caro e misturas de bolo prontas
[Publicado originalmente em 15 de fevereiro de 2024]
No escritório de sua fábrica de chocolates no Brooklyn, Jacques Torres descreve o que provavelmente não é um fim de semana típico a um colega de geração que completa 65 anos este ano.
Não há possibilidade de aposentadoria ou jogos de golfe. Nada de descobrir como aderir ao Medicare ou pensar em valores de pensão. Em vez disso, a filha de quatro anos pintava as unhas do pai e fez sua maquiagem — que ele correu para tirar antes de aparecer para a câmera — e depois seu filho de sete anos se aproximou dele com uma mistura de bolo pronta.
“Sabe, uma daquelas misturas de bolo que vêm em uma caixa”, repete Torres incrédulo em seu inglês com sotaque francês, gesticulando enquanto fala para seu certificado de mestre confeiteiro pendurado na parede. “E é um bolo arco-íris. Fui desafiado a fazer um bolo arco-íris de caixa, coisa que não sei fazer. Você tem que misturar seis cores diferentes e depois assar. Oh meu Deus, era uma trabalheira! Mas meu filho fica feliz, e não há nada melhor do que isso.”
Torres, cujo aniversário é em junho, faz parte do grupo demográfico “Peak 65”, o que para algumas pessoas pode significar que é hora de parar, enquanto para outras significa fazer a transição para o trabalho de meio período ou se dedicar a hobbies. E para outras ainda, como Torres, significa apenas mais um passo em termos profissionais e pessoais, sem planos de desacelerar.
Torres é conhecido como o Sr. Chocolate: tem uma fábrica e lojas de chocolate, livros de receitas e uma série da Netflix chamada “Nailed It”. Ele aparece frequentemente em talk shows da TV e comanda seus próprios canais de mídia social. Conversou com o MarketWatch sobre como suas visões de trabalho e aposentadoria mudaram ao longo dos anos.
MarketWatch: De onde você tira seus valores em relação ao dinheiro?
Torres: Meus pais levavam o dinheiro muito a sério e o que quero dizer com isso é que não havia dinheiro sobrando em casa. Meu pai era carpinteiro e minha mãe cuidava de três meninos. Quando eu tinha 13 ou 14 anos, queria um arpão para mergulhar e pescar. Meu pai disse: “Procure um emprego durante o verão e então você vai conseguir comprar um”. Então, trabalhei em um pequeno restaurante como ajudante de garçom. Isso me ensinou que, se você trabalha, tem dinheiro e pode comprar alguma coisa.
MarketWatch: Em seu primeiro trabalho, o que pensava da aposentadoria?
Torres: Quando você é jovem, a aposentadoria está tão longe que você nem pensa nisso. Comecei a pensar no assunto talvez há menos de 20 anos — depois dos 40. Antes, você se sente invencível, e isso não existe. Agora guardo dinheiro para minha aposentadoria, mas antes dos 40 não era bem assim.
MarketWatch: Como você vê a aposentadoria agora? Há uma data determinada ou haverá apenas uma mudança no que você faz?
Torres: Conversei com meu consultor financeiro há pouco tempo e ele disse: “OK, a boa notícia é que você vai trabalhar até não poder mais”. É bem isso que vai acontecer. Porque tenho dois filhos pequenos e eles estudam em uma escola particular, e a gente mora na cidade e tem despesas. Então, não sei como vai ser minha aposentadoria. Mas o conselho dele foi não parar antes dos 70 de qualquer maneira.
MarketWatch: Você parece ativo e em forma, com suas participações na TV, seus vídeos na mídia social e seu trânsito pela fábrica em uma scooter. Como se sente em relação a seu nível de energia?
Torres: Na vida, nunca se sabe. Honestamente, nunca pensei em mim com 64 anos andando de scooter pela fábrica. Primeiro, tenho que explicar por que tenho a scooter. Esta fábrica é grande. São mais de 3.700 metros quadrados e, dependendo de onde preciso estar, vou de um lado para o outro inúmeras vezes. Há cerca de oito anos, fiz uma operação no joelho porque corri a maratona de Nova York quatro vezes. Fazia judô, jogava rúgbi, corrida e andava de bicicleta. Então meu joelho acabou. O cirurgião é um amigo meu e me disse: “Vou te dar um joelho novo, mas você precisa cuidar dele”. Então agora uso uma scooter, e adoro. Ela está sempre no meu carro, e quando estou em Nova York para ver um cliente, o estacionamento pode ser caro, sei lá, tipo US$ 60 por hora, então costumo estacionar longe em uma garagem mais barata. Daí pego a scooter e vou para a reunião, e as pessoas riem quando me veem naquela coisa. Mas é muito prático.
MarketWatch: Como você se sente sendo um astro das redes sociais?
Torres: Na minha infância, só havia telefone fixo, imagina então TikTok, Instagram e essas coisas. Eu era muito tímido quando era mais novo e só a ideia de estar na frente de uma câmera, ai meu Deus! Eu surtava. Faz dez anos que pensei em buscar seguidores ou dar conselhos de culinária on-line. Eu já estava na TV há muito tempo, na PBS e na Food Network, mas parei com isso quando abri meu negócio. Daí voltei para a TV com “Nailed It”.
MarketWatch: Você se surpreendeu com a correria necessária para vender chocolate?
Torres: Fica cada vez mais difícil. Quando abri minha primeira loja em Dumbo, há quase 24 anos, tinha fila na porta. Eu era conhecido como confeiteiro, não pelos chocolates, mas a loja decolou. Eu ficava do lado de fora no frio distribuindo amostras de chocolate quente. E nos primeiros dez anos do meu negócio foi — não vou dizer que foi fácil, mas foi muito mais fácil do que hoje, porque você abria uma loja e o negócio estava lá.
Então, acabei me mudando para esta fábrica aqui no Brooklyn Army Terminal. Abri cinco lojas praticamente no mesmo ano. Acho que canibalizei um pouco o meu negócio. Aí veio a Covid e quase perdemos tudo. Foi realmente assustador. Daí, fiquei doente — peguei Covid, e não havia vacina na época e eu pensei que talvez fosse o fim. Saí dessa, mas você nunca sabe o que vai acontecer. Não espere nada, porque é uma loucura.
MarketWatch: Que legado você espera deixar para sua família ou para o mundo da culinária em geral?
Torres: Quero ensinar o valor do dinheiro aos meus filhos, é claro, mas mais ainda o valor do trabalho, e que é importante fazer algo que você ama. Hoje de manhã, meu filho acordou antes das 7 horas da manhã porque agora ele tem um teclado novo e quer tocar. Para mim esse é um bom sinal, sabe. Quero que meus filhos se lembrem de mim como um pai divertido. Eu sou mais velho, então acho que tenho uma certa desvantagem. Vou à escola das crianças, vejo os outros pais e eles têm metade da minha idade. Então, quero que meus filhos digam: ele joga futebol com a gente, ele é divertido, ele deixa a gente por maquiagem nele.
Acho que não vou deixar um legado culinário. Há muito talento por aí hoje, não só nos EUA, mas no mundo, e agora estamos mais expostos a isso. Por isso, meu objetivo não é esse; meu objetivo é ter uma família feliz.
traduzido do inglês por investnews