Uma seleção semanal do jornalismo mais prestigiado do mundo
Presented by

Como o Morgan Stanley aceitou clientes suspeitos para construir um império do wealth management

Documentos internos da empresa descrevem os fracos controles de combate à lavagem de dinheiro do banco

Por AnnaMaria Andriotis The wall street Journal
Publicado em
22 min
traduzido do inglês por investnews

Em 2023, o Morgan Stanley descobriu que esteve atendendo, ao longo do último ano, um cliente de corretagem condenado em 2005 por um tribunal americano ao ter mentido em investigações de comabte ao terrorismo. O cliente em questão tinha ligações com atentados da Al Qaeda a embaixadas dos Estados Unidos.

O banco informou a polícia e encerrou as contas. Mas nessa altura, pelo menos dezenas de milhares de dólares haviam sido sacados em caixas eletrônicos no Paquistão.

Esse não foi um descuido raro.

Em outro caso — discutido internamente pelo Morgan Stanley conforme documentos revisados pelo Wall Street Journal — uma autoproclamada princesa, que afirmava ter mais de US$ 5 bilhões em ativos, recebeu serviços do banco por semanas sem que o banco realizasse uma verificação básica de antecedentes ou concluísse a devida diligência.

Ela deu vários relatos sobre a fonte de sua riqueza — entre outras coisas, alegou ser parente do último rei da Romênia e ser proprietária de uma empresa farmacêutica bilionária. Por fim, a unidade global de crimes financeiros do banco fez pressão para encerrar suas contas.

Um dos funcionários responsáveis pelo setor de crimes financeiros descreveu a natureza confusa do caso em um chat interno da empresa: “Fantástico — é como o final de um filme de Tarantino, todo mundo matando todo mundo”.

A divisão de wealth management do Morgan Stanley (que reúne serviços financeiros para grandes fortunas) supervisiona cerca de US$ 6 trilhões em ativos e é responsável por quase metade da receita total da empresa, o que para o banco é uma importante fonte de lucro.

O Wall Street Journal informou anteriormente que o Departamento de Justiça, o Federal Reserve, a Comissão de Valores Mobiliários (SEC), a Rede de Execução de Crimes Financeiros do Departamento do Tesouro e outras agências estão investigando os procedimentos de verificação do banco para determinar se este possui controles suficientes contra a lavagem de dinheiro.  

A nova leva de documentos internos, incluindo e-mails, registros de chats internos e relatórios, além de entrevistas com quase 20 funcionários e executivos atuais e antigos, mostra as operações diárias do banco, que pareciam estar aquém dos padrões regulatórios. 

O banco cortejou clientes de países conhecidos pela corrupção financeira e tráfico de drogas, incluindo a Venezuela. Investigadores federais estão averiguando se o banco permitiu que usassem contas para lavar dinheiro obtido por meio de corrupção de um ex-ministro do governo venezuelano.

LEIA MAIS: Bancos brasileiros batem gringos e solidificam liderança no mercado de crédito privado local

Documentos alertaram que o risco do banco havia aumentado por causa de sua exposição à Rússia e bancos alvo de sanções — o Morgan Stanley recebeu uma advertência do Departamento do Tesouro. Em uma conta problemática, a SEC está investigando a relação do banco com um bilionário ligado à Rússia e que havia sido punido pelo Reino Unido após a invasão da Ucrânia.

No geral, gargalos e atrasos nos procedimentos que buscam combater a lavagem de dinheiro atrasaram a verificação de milhares de contas, que nesse meio tempo receberam autorização temporária para funcionar. 

Apesar do foco em clientes internacionais, alguns funcionários que deveriam fazer a avaliação de risco não falavam os idiomas necessários e usavam o Google Tradutor para ler documentos estrangeiros. A equipe que examinava as contas foi sendo reduzida, mesmo enquanto o Morgan Stanley estava assimilando os negócios internacionais de outros bancos. Verificações simples, como pesquisar o nome dos clientes no Google — o que revelaria atividades suspeitas ou outros sinais de alerta —, muitas vezes não eram feitas ou os funcionários simplesmente ignoravam os resultados.   

De acordo com um documento de 2023, milhares de contas do wealth management, cujos esforços para atrair americanos e estrangeiros ricos foram reavivados, exibiam sinais de alto risco para lavagem de dinheiro, evasão fiscal ou outro comportamento potencialmente ilegal. 

As contas estão distribuídas entre a plataforma de negociação digital E*Trade e os consultores financeiros que compõem o império do Morgan Stanley e administram o dinheiro de pessoas ricas.

Os problemas ocorreram em quase todos os níveis e perduraram por anos.  

O documento de 2023 mostrou que 24% das contas internacionais do wealth management do Morgan Stanley, ou 46.572, em números absolutos, foram designadas pelo banco como risco “Alto” ou “Alto+” para lavagem de dinheiro. A empresa também rotulou pelo menos 25 mil contas internacionais do E*Trade como sendo de áreas de alto risco.

O documento mostra que o banco considerou seus controles de combate à lavagem de dinheiro como “fracos”, um rebaixamento, por “problemas de longa data no mundo todo” em relação à melhora dos processos de devida diligência.   

O Morgan Stanley afirmou que fez progressos na melhoria de seus processos de combate à lavagem de dinheiro e outros. “Nos últimos anos, uma de nossas principais prioridades no Morgan Stanley tem sido fazer investimentos significativos em pessoas, processos e tecnologia [relacionados à lavagem de dinheiro, verificação e devida diligência] para acompanhar o crescimento de nosso negócio, que é líder do setor”, disse o Morgan Stanley em um comunicado. “Agora, estamos obtendo resultados materiais desses esforços. De fato, a priorização e a escala de nossos investimentos em processos de integração estão transformando rapidamente essas funções em uma força organizacional.” 

LEIA MAIS: BNDES e Banco de Desenvolvimento da China assinam primeiro empréstimo em moeda chinesa

Jed Finn, líder da gestão de patrimônio do Morgan Stanley, disse aos funcionários em reuniões no início deste ano que sua principal prioridade era corrigir problemas de patrimônio, incluindo melhoras na verificação de clientes e procedimentos de back-office, além do aumento de pessoal e tecnologia atualizada.

Lançando ativos

Distrito financeiro em Nova York. Foto: Timothy Mulcare/WSJ

A riqueza se tornou um dos principais motores da recuperação do Morgan Stanley após a crise financeira de 2007-08. O banco se transformou em um dos maiores prestadores do serviço de wealth management dos EUA sob o comando de James Gorman, o CEO de longa data e atual presidente executivo. 

O departamento de gestão de fortunas — reforçado com uma série de aquisições, incluindo Smith Barney e E*Trade — ajudou a compensar a volatilidade dos outros negócios do banco. Os executivos do alto escalão diziam publicamente que pretendiam ampliar os ativos sob gestão da divisão.

Os clientes internacionais são vistos como um motor de crescimento. No início de 2022, no entanto, uma equipe de risco do Morgan Stanley descobriu que havia erros, incluindo falta de documentos e a receita superestimada, em 60% das contas internacionais que os consultores financeiros estavam tentando abrir.

“Para o Morgan Stanley, o negócio internacional é uma bênção e uma maldição”, disse um ex-executivo de longa data. “É um negócio em crescimento, mas o risco é enorme e eles cresceram rápido demais.”

O governo dos EUA depende de bancos e corretoras para ajudar a detectar e prevenir crimes como lavagem de dinheiro. Eles são obrigados a checar a identidade dos clientes, verificar antecedentes e a origem do patrimônio, garantir que não estejam sob escrutínio dos EUA e acompanhar as transações.

Para contas internacionais, a empresa geralmente executa uma verificação de antecedentes e realiza um processo de auditoria antes de aceitar a pessoa como cliente e receber seus fundos.

Em outros bancos, um consultor financeiro também se encontra pessoalmente com clientes em potencial a fim de ajudar a determinar se seus fundos vêm de uma fonte válida; nem sempre foi assim no Morgan Stanley, mostram documentos e entrevistas. Consultores financeiros do banco disseram que a ênfase estava na velocidade e na obtenção de ativos, especialmente se um cliente em potencial fosse muito rico. Isso geralmente eliminava o processo tradicional.  

Por exemplo, em abril de 2021, uma canadense que afirmava ter um patrimônio líquido de mais de US$ 5 bilhões — e ser uma princesa romena — começou as tratativas com o banco.

Em poucos dias, ela recebeu aprovação para abrir quatro contas, embora nenhum funcionário do banco tivesse a encontrado pessoalmente. Ela disse que estava em Mônaco e, embora as videoconferências tenham se tornado comuns desde a pandemia, isso não ocorreu.

Logo após a aprovação das contas, um executivo que supervisionava os consultores financeiros aprovou um empréstimo de US$ 100 milhões com baixas taxas de juros para a mulher, dinheiro que ela dizia pretender usar para negociar derivativos.

LEIA MAIS: Quase 40% dos brasileiros não pisam numa agência bancária há mais de seis meses

No final de maio, um indivíduo identificado como funcionário da cliente sinalizou querer transferir mais de 50 milhões de euros para as contas dela usando o que o banco considerava um protocolo eletrônico de transferência desatualizado. 

A relutância em usar o Swift, sistema moderno que o banco queria, soou o alarme. Isso é o que apontam os e-mails internos do banco e os registros nos chats.

O Morgan Stanley, descobriu-se, não havia feito uma verificação de antecedentes, de fonte de fundos e nem concluído uma revisão aprimorada de devida diligência.

“Há risco regulatório para… abrir a conta e aceitar os fundos antes de concluirmos o KYC”, abreviação para “conheça seu cliente”, escreveu um funcionário no registro do chat. Outro disse: “Nosso risco aqui é 1) esses fundos são roubados 2) os fundos serão usados para prejudicar a empresa”.

Um funcionário, alertando sobre o potencial de fraude, escreveu em um e-mail que era “muito importante” que alguém encontrasse a cliente pessoalmente. 

A cliente compartilhou mais informações sobre si mesma, mas isso só aumentou o estado de alerta. Um consultor financeiro do Morgan Stanley escreveu um e-mail contando que a mulher dissera ser beneficiária de um fundo familiar mantido na Suíça; que era parente do último rei da Romênia; que a riqueza de sua família veio de um império de petróleo e gás, seguradoras, arte e imóveis na Europa e nos EUA; e que estava vendendo uma empresa farmacêutica da qual possuía 93% e que havia sido avaliada em cerca de US$ 3 bilhões. 

Executivos de nível médio argumentaram que o banco deveria se livrar da cliente. Um deles escreveu sobre o caso no chat: “Cara! Desci pela toca do coelho e está escurecendo”. Mais tarde, ele escreveu em um e-mail: “Precisamos acabar com isso”.   

A chefe de gestão de patrimônio privado escreveu em um e-mail que aceitaria cancelar as contas da cliente, mas também escreveu em outro e-mail que era necessário mais tempo para verificar sua fonte de riqueza. Ela disse que se a cliente precisasse que as contas estivessem ativas imediatamente, o banco não poderia ajudar, mas “se eles puderem nos dar mais tempo e/ou esperar até que vendam a empresa, gostaríamos de continuar a trabalhar com eles”, escreveu.  

Foi só em junho de 2021 que o Morgan Stanley fez planos para cortar os laços com a mulher, em meio a pedidos da unidade global de crimes financeiros do banco. Descobriram que o indivíduo que tentava transferir o dinheiro para a cliente no Morgan Stanley tinha ônus fiscais “significativos”, o que é um alerta para o banco. As contas da cliente nunca receberam fundos, nem o empréstimo foi pago. 

LEIA MAIS: Alta dos juros pode reverter a recuperação do setor bancário

O Morgan Stanley também percebeu que erroneamente havia aprovado a cliente como cidadã americana, apesar do passaporte canadense, sem ter feito a verificação mais extensa usada para clientes internacionais.

Impulso da América Latina

Na América Latina, embora outros bancos estivessem saindo do mercado em parte por causa das dificuldades em avaliar clientes, o Morgan Stanley se expandiu.

O banco usou seus consultores financeiros em Nova York e Miami para recrutar clientes latino-americanos. Desde 2015, o Morgan Stanley assumiu grande parte dos negócios de patrimônio latino-americano do Credit Suisse, recrutou um grande número de consultores financeiros latino-americanos do Wells Fargo e contratou consultores financeiros do UBS responsáveis por grandes contas venezuelanas.

Os atuais e os ex-executivos do Morgan Stanley disseram que consultores financeiros especializados na América Latina muitas vezes tinham conexões pessoais com clientes por meio de familiares, amigos ou conhecidos e evitavam pressionar demais em busca de provas sobre a origem da riqueza. 

Para aqueles que não eram conhecidos, os executivos disseram que os consultores nem sempre os encontravam pessoalmente antes de se tornarem clientes.  

Alguns executivos ficaram preocupados e voaram para países da América Latina para conhecer estes correntistas. Entre outras questões, um cliente revelou durante o jantar que estava escondendo dinheiro do governo de seu país em um banco europeu. De volta a Nova York, os funcionários do banco foram instruídos a cortar laços.

A falta de funcionários fluentes em espanhol entre a equipe de auditoria era um problema. Desde pelo menos 2019, o Morgan Stanley contrata falantes nativos de espanhol através de agências de trabalho temporário para revisar a documentação de contas que já haviam sido aprovadas. Uma agência recrutou advogados de língua espanhola da América Latina que estavam nos EUA estudando para se tornarem advogados americanos credenciados.

Muitos dos temporários trabalhavam no escritório do Morgan Stanley em Baltimore, e alguns recebiam cerca de US$ 20 a US$ 35 por hora.  

Eles encontraram casos em que clientes que trouxeram milhões de dólares para a divisão de gestão de patrimônio não forneceram documentos que explicassem completamente a origem da riqueza, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.

Alguns clientes, por exemplo, citaram a venda de imóveis como fonte de seus fundos. Mas a documentação enviada ao Morgan Stanley incluía escrituras e títulos mostrando que possuíram as propriedades em algum momento no passado, mas que documentos mostrando o valor e a venda das propriedades não estavam presentes.

Os atrasos na verificação das contas continuaram. Houve atrasos de mais de dois meses na conclusão das revisões detalhadas de devida diligência em mais de quatro mil contas nas Américas, de acordo com um documento de janeiro de 2024. Havia restrições impostas às contas, ou estas eram novas e não haviam recebido fundos.  

O Morgan Stanley pressionava para atrair negócios da Venezuela, apesar da reputação de corrupção do país. Alguns ex-consultores financeiros do banco disseram ao Wall Street Journal que temiam que autoridades do governo da Venezuela envolvidas no tráfico de drogas ou outras atividades ilegais estivessem usando laranjas sem vínculos governamentais nem criminosos para abrir contas. 

Desde pelo menos 2021, o Departamento de Justiça, a SEC e outras agências federais investigam se o Morgan Stanley permitiu que Luis Mariano Rodriguez Cabello, empresário venezuelano, ajudasse um ex-ministro do petróleo venezuelano a lavar dinheiro por meio do banco. 

O Morgan Stanley apresentou um relatório de atividades suspeitas sobre o cliente ao FinCEN, do Departamento do Tesouro, em novembro de 2016, depois de aceitar transferências eletrônicas para sua conta corporativa totalizando cerca de US$ 100 milhões entre 2014 e 2015. O relatório do FinCEN sobre o pedido do Morgan Stanley afirma que “os clientes potencialmente usaram sua conta comercial para receber inúmeras transferências eletrônicas derivadas de receitas vinculadas a um esquema de suborno envolvendo autoridades do governo”.

LEIA MAIS: A brasileira que levou US$ 1 bi da Visa e está colocando bancos mundo afora na nuvem

As agências estão investigando por que o Morgan Stanley gerenciou investimentos de Rodriguez Cabello quando sua conta exibia sinais de alerta para possível lavagem de dinheiro. A investigação está em andamento.

A equipe de garantia de qualidade do Morgan Stanley encontrou erros ou outros problemas em 27% dos relatórios revisados de funcionários do departamento de crimes financeiros globais encarregados de revisar casos de possível lavagem de dinheiro, de acordo com um documento de janeiro de 2024. A equipe de garantia de qualidade revisou o trabalho da equipe de crimes financeiros em alguns casos, quando as contas exibiam comportamento suspeito. Os erros incluíram registros incompletos nos relatórios de atividades suspeitas que foram enviados aos reguladores. A taxa de erros ou outros problemas estava acima da “já elevada média anual”, disse o documento.  

Laços com a Al Qaeda

A sede do Morgan Stanley em Nova York, EUA, na segunda-feira, 14 de outubro de 2024. O Morgan Stanley está programado para divulgar os números dos lucros em 16 de outubro. Fotógrafo: Michael Nagle/Bloomberg

Enquanto o Morgan Stanley pressionava pelo crescimento no exterior, abocanhava também novos negócios, como o E*Trade, que permite que as pessoas comprem e vendam ações e façam outros investimentos, atraindo principalmente investidores familiares. 

O negócio foi fechado em outubro de 2020 e, pouco mais de um ano depois, quase toda a equipe de gerenciamento executivo do E*Trade, responsável pelos procedimentos de combate à lavagem de dinheiro, havia saído. Alguns disseram ter ficado horrorizados com o método burocrático, feito em papel, para verificação dos clientes do Morgan Stanley.

Para elaborar perfis de risco, os funcionários pesquisavam os clientes manualmente, guardavam documentos em envelopes pardos, e as passavam de uma pessoa para outra, já que o banco não tinha muita tecnologia para a análise de risco.

O E*Trade, por outro lado, usava um sistema de dados centralizado e que compilava informações sobre um cliente. Os dados incluíam alertas sobre atividades suspeitas, acontecimentos negativos envolvendo clientes no registro público e o lançamento das transações de um cliente para que movimentos atípicos pudessem ser sinalizados e avaliados.

O Morgan Stanley abandonou grande parte dos procedimentos automatizados de verificação do E*Trade

Em meados de 2021, desativou a pontuação baseada em risco do E*Trade, que alertava a empresa sobre maiores riscos associados a uma conta ou quando ocorressem atividades suspeitas. O recurso não foi reativado até o início deste ano. 

As contas do E*Trade com laços com a Al Qaeda quase passaram incólumes no ano passado.

Um funcionário do banco inicialmente consultou um depósito de cerca de US$ 20 mil em uma conta que foi usada para pagar uma fatura de cartão de crédito — atividade incomum para esse tipo de conta. A proprietária da conta respondeu que o depósito e o pagamento eram para financiar uma instituição de caridade com sede nos EUA que comprava computadores para meninas carentes. O funcionário do banco não considerou a transação suspeita, de acordo com funcionários atuais e antigos. 

Um funcionário no controle de qualidade do banco fez uma rápida pesquisa on-line da instituição de caridade, que revelou uma página no Facebook mostrando que esta ensinava informática no Paquistão. 

Outras investigações descobriram que a titular da conta tinha uma conta conjunta com o marido, que também tinha uma conta separada. Os fundos transitavam de uma conta para a outra e o dinheiro era sacado em caixas eletrônicos no Paquistão. O banco também descobriu que a conta de corretagem individual do marido estava sendo acessada do Paquistão e a esposa havia acessado as contas do Paquistão e da Louisiana.

Depois de pesquisar no Google os nomes dos titulares, os funcionários descobriram que o marido havia sido condenado por um tribunal federal dos EUA por mentir sobre investigações de terrorismo e tinha ligações com os atentados à embaixada em 1998.  

O Morgan Stanley então entrou em contato com a polícia e apresentou um relatório de atividade suspeita. 

Os funcionários do banco também descobriram que os saques em caixas eletrônicos feitos pelo marido acionaram um alerta em 2022, mas a avaliação não resultou em nenhuma ação. 

Alguns funcionários disseram ao WSJ que achavam que isso acabaria acontecendo devido ao enorme acúmulo de alertas — em meados de 2022, havia cerca de 30 mil alertas de monitoramento de transações esperando para serem liberados — causados por falta de pessoal e pelo uso de um processo de verificação muito burocrático. 

Os alertas, que podem ser acionados por uma série de atividades e muitas vezes podem ser alarmes falsos, foram finalmente liberados em abril de 2023 com a ajuda de consultores externos.

Em fevereiro de 2024, o Morgan Stanley determinou que cerca de 9.300 contas do E*Trade precisavam de revisões aprimoradas.  

Uma questão diferente surgiu no E*Trade após a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. No mês seguinte, o bilionário Eugene Shvidler foi sancionado pelo Reino Unido devido à sua associação com o magnata russo Roman Abramovich. Em resposta, o Morgan Stanley conduziu uma investigação interna sobre Shvidler, que tinha contas no E*Trade e na unidade de consultoria financeira da empresa.

O E*Trade decidiu encerrar as contas, mas a unidade de consultoria financeira, que se concentra principalmente em grandes contas de clientes, manteve o relacionamento. No ano passado, a SEC levantou questões sobre as decisões conflitantes e pediu informações sobre como Shvidler e outros foram examinados pelo banco. 

Um documento de 2023 mostrou que uma unidade do E*Trade tinha 6.240 contas de clientes domiciliados na Rússia e havia transferido aproximadamente US$ 13 milhões para o país. O documento também mostrou que o E*Trade “não bloqueou tentativas de transferência para um banco russo sob sanções econômicas”.

Plano de correção

A sede do Morgan Stanley em Nova York, EUA. Fotógrafo: Michael Nagle/Bloomberg

Em 2022, Andy Saperstein, copresidente do banco, apresentou um plano de correção ao Fed, que, repetidamente, havia pedido melhorias nos controles de gerenciamento de risco na avaliação de clientes estrangeiros de gestão de patrimônio. Desde pelo menos 2020, a equipe do Morgan Stanley vinha alertando os executivos do alto escalão sobre a necessidade de investimento em tecnologia. A empresa ainda está trabalhando no plano apresentado ao Fed, de acordo com funcionários atuais. 

Até agora, o Morgan Stanley impôs vários tipos de restrições a pelo menos dez categorias de clientes, de acordo com documentos internos, incluindo aqueles com vínculos com a Venezuela, os de áreas de alto risco que usam apenas caixas eletrônicos, débito ou outros serviços de gerenciamento de caixa, fundos de investimento estrangeiros, e aqueles cuja riqueza está vinculada a moedas virtuais e outros ativos digitais. 

O banco fechou milhares de contas entre o segundo e o quarto trimestres de 2023, muitas das quais vieram junto com as aquisições de consultores financeiros de outras empresas feitas pela instituição, ou que eram pequenas demais para serem consideradas dignas de análise.  

Por volta de setembro de 2023, o banco se retirou de outros países latino-americanos. Aumentou o valor mínimo necessário para ser cliente do Equador e do Peru e deixou de aceitar novos clientes da Bolívia, da Nicarágua, do Panamá e do Paraguai.

Em abril deste ano, expandiu a lista de clientes que estão fora de seu apetite de risco para incluir aqueles que obtêm sua riqueza de negócios relacionados à maconha.

Em julho, o Morgan Stanley anunciou que havia recrutado um novo chefe de crimes financeiros globais, Mike Meehan, do Goldman Sachs. O banco elogiou sua experiência em supervisão regulatória e risco de negócios ao consumidor, e suas quase duas décadas na unidade que investiga crimes financeiros e garante maior devida diligência e conformidade com sanções.  

Enquanto isso, o Morgan Stanley está usando consultores para monitorar transações suspeitas e agora utiliza IA para ajudar a traduzir documentos. 

O banco está em processo de expansão de seus negócios de patrimônio internacional no Oriente Médio, incluindo Kuwait, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, e está recrutando novos consultores financeiros internacionais.

Também está desenvolvendo uma nova tecnologia para substituir seu sistema burocrático de verificação de clientes, entre outras atualizações tecnológicas já feitas. O novo sistema, originalmente planejado para começar a funcionar no segundo semestre de 2024, foi adiado para o ano que vem.  

Escreva para AnnaMaria Andriotis em [email protected]

traduzido do inglês por investnews