Cuidado com os primeiros resultados da busca no Google. Eles podem estar errados.
Como identificar conteúdo gerado por IA, “trechos” de texto falsos em destaque e anúncios enganosos
[Publicado originalmente em 18 de fevereiro de 2024]
Você tem notado ultimamente que algumas de suas pesquisas no Google o direcionaram para sites enganosos? Há uma razão para isso.
Os spammers estão usando ferramentas de inteligência artificial para criar um oceano de conteúdo, e os algoritmos do Google classificam algumas dessas páginas geradas por robôs à frente das informações de que você realmente precisa.
Isso adiciona uma nova camada aos truques que prejudicam suas pesquisas, incluindo anúncios segmentados fraudulentos e sites de baixa qualidade criados para aparecer no topo da página de resultados. Na melhor das hipóteses, é algo irritante. Na pior, pode levá-lo a golpes para obter o número do seu cartão de crédito e outras informações pessoais.
Aqui está um exemplo rápido: quando eu quis mudar a conta do Google que uso no Gmail, pesquisei “como alterar a conta padrão do Google”. O resultado principal, com um grande texto em destaque, me levou a um artigo publicado no LinkedIn.
O autor era Morgan Mitchell, gerente de conteúdo da Adobe. Mitchell publicou 150 artigos, todos escritos em formato de perguntas e respostas para ajudar nas buscas. Muitos desses artigos incluem números de telefone de atendimento ao cliente, a solução ideal para problemas mais complexos e para usuários menos experientes em tecnologia.
O problema é que Mitchell não existe. E o número de telefone no artigo não pertencia nem ao Google, nem à Adobe. Mitchell é provavelmente apenas uma invenção de alguma IA, e o número é uma maneira de enganar usuários desavisados.
Em análises independentes, os resultados do Google têm qualidade superior à dos mecanismos de busca concorrentes, avisou um porta-voz da empresa. “Nossos sistemas de combate ao spam ajudam a manter a pesquisa 99% livre disso”, disse ele, acrescentando que o feedback dos usuários é analisado e que a ferramenta de pesquisa é atualizada milhares de vezes por ano.
Eu uso o Google todos os dias e a maioria de nós também; o mecanismo responde por mais de 91% das buscas em todo o mundo. Acho mais confiável que as alternativas. Ainda assim, há muita porcaria por aí, e a IA generativa só aumenta a bagunça.
Eis o que saber sobre “dar um Google” agora, e como pesquisar de forma mais inteligente.
Inundação
Para se classificar bem nos resultados de pesquisa, os spammers fazem postagens em sites estabelecidos que o Google tende a favorecer, como LinkedIn, Reddit e Quora. Os chatbots de texto generativo facilitam a produção desse conteúdo “parasita”, explicou Mark Williams-Cook, especialista em mecanismos de busca e diretor da agência de marketing Candour.
“O spam na web não é novo, mas as ferramentas são, e elas reduziram barreiras”, disse ele.
O Google proíbe conteúdo produzido em massa com o objetivo de sequestrar resultados de pesquisa. Está à caça de spammers que usam software para gerar bobagens cheias de palavras-chave ou utilizar texto de outros sites. Ainda assim, o conteúdo gerado por IA não viola necessariamente as regras de spam do Google. Se o conteúdo de uma IA for bom o suficiente, pode aparecer na pesquisa.
Porém, o que parece bom o suficiente para os sistemas de classificação de pesquisa do Google pode não ser útil para você, afirmou Williams-Cook. Tanto para máquinas quanto para usuários, o conteúdo pode “ser bem escrito”, disse ele, mas também pode conter erros gritantes que os não especialistas nem percebem.
Agora voltemos a Mitchell, suposto autor de 150 posts no LinkedIn: a Adobe confirmou que ninguém com esse nome está ligado à empresa. Williams-Cook suspeita que a conta e suas postagens foram criados usando IA. A imagem de perfil de Mitchell também pode ter sido gerada da mesma forma, com base em minhas pesquisas de imagem.
“Há tempos tentamos deixar claro que, se o conteúdo for produzido apenas para fins de classificação — incluindo conteúdo gerado por IA — haveria violação de nossas políticas de spam e resolveríamos isso”, disse o porta-voz do Google. (Depois que compartilhei o perfil com o LinkedIn, a empresa o removeu por violar as políticas da plataforma sobre contas falsas e spam.)
Aqui está um exemplo de um serviço alimentado por IA que passa pelos filtros do Google, mas adiciona ruído à web. Com a ajuda do ChatGPT da OpenAI, o Eightify gera textos e páginas de perguntas e respostas a partir de vídeos do YouTube. Isso foi de zero acesso para 1,2 milhão de referências mensais do Google nos últimos seis meses, de acordo com Williams-Cook.
O site é bem classificado em centenas de pesquisas, como “hack de aumento de crédito da Capital One” e “lugares seguros para dormir em seu carro”. O fundador da Eightify, Alex Kataev, explicou que a empresa não verifica todos os artigos, apenas os mais populares, além dos sinalizados pelos usuários.
“Infelizmente, a disseminação de desinformação não se deve ao uso de IA”, afirmou Kataev. “Contamos com a moderação do YouTube, que muitas vezes não é eficiente.” Uma porta-voz do YouTube disse que a empresa não permite conteúdo enganoso que represente um “sério risco de dano flagrante”, e remove vídeos que violam essa política.
Recorte de trechos
Quando você pesquisa, geralmente recebe um “trecho” em destaque, que aparece no topo da página de uma fonte que o algoritmo do Google considera confiável. Não há necessidade de continuar a busca.
Se você pesquisar “sintomas de gripe”, aparecerão informações do site do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention – CDC), seguidas de um link para mais informações da agência. Mas o algoritmo às vezes destaca fontes menos desejáveis.
Em janeiro, Luan Santos percebeu que o nome de sua esposa estava escrito incorretamente em uma reserva da Delta Air Lines. Uma rápida pesquisa no Google rendeu um trecho contendo um número de atendimento ao cliente, que ele chamou.
O primeiro sinal vermelho: foi atendido imediatamente. Ele esperava uma saudação robótica seguida de meia hora de espera. Forneceu o número de confirmação da reserva e pediram-lhe o sobrenome de sua esposa.
Nesse momento, ele notou que a URL no resultado do Google não apontava para o site da Delta. Temendo um golpe, desligou. Santos disse que agora tem menos confiança no Google.
Tentei uma busca própria como uma viajante desesperada e escrevi: “Pessoa real da Southwest”. Recebi uma entrada que também tinha um número de telefone que não pertencia à companhia aérea. Quando liguei, um agente atendeu imediatamente. Ele explicou que era um “help desk consolidado das companhias aéreas” e solicitou um número de cartão de crédito para fazer alterações de voo.
Desculpe, foi engano
Um porta-voz da Southwest Airlines confirmou que a companhia aérea não faz parte de nenhum help desk consolidado e recomendou entrar em contato por meio de canais oficiais.
Termos de pesquisa mais comuns provavelmente apontarão para informações oficiais, enquanto os menos comuns podem pegar essas páginas de qualidade inferior, disse o porta-voz do Google. De fato, encontrei a linha direta correta digitando “Atendimento ao cliente da Southwest”. Depois que mostrei a entrada maliciosa em destaque para o Google, ela desapareceu.
Anúncios ruins
Os resultados de buscas do Google geralmente começam com uma camada de anúncios, às vezes tantos que você precisa descer bastante pela página para chegar aos links não patrocinados. Pagar pelo posicionamento de anúncios é outra maneira mal-intencionada para afastar clientes do link pretendido.
Faça a pesquisa “ChatGPT Plus”. Esse é o serviço de chatbot premium de US$ 20 por mês da OpenAI. É fácil se inscrever, especialmente se você já tiver o aplicativo ChatGPT em seu telefone.
O primeiro link patrocinado do Google diz “ChatGPT 4.0 agora disponível” e leva você a um site que não é controlado pela OpenAI. Esse serviço também cobra uma taxa mensal de US$ 20, mas oferece software mais antigo e disponível gratuitamente.
Usuários do site de revisão Trustpilot dizem que não conseguiram obter reembolsos do site. Tentei entrar em contato com os operadores e não obtive resposta. O porta-voz do Google garantiu que a empresa proíbe anúncios que distribuem malware ou buscam enganar os usuários e remove anualmente bilhões daqueles que violam seus termos.
Independentemente do que estiver procurando, permaneça atento. Verifique se o link é uma autoridade no assunto. Se você busca informações sobre produtos ou atendimento ao cliente, comece pelo site da empresa. Você provavelmente obterá os melhores dados diretamente da fonte.
traduzido do inglês por investnews