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Em vez dos grandes bancos, os fundos gigantes reinam em Wall Street

As gestoras de ativos estão se transformando em enormes e complexos supermercados financeiros que produzem bilionários aos montes

The wall street Journal
Publicado em
9 min
traduzido do inglês por investnews

Empresas de investimento gigantes estão tomando conta do sistema financeiro.

As principais agora controlam quantias que rivalizam com a economia de muitos países. Elas estão se expandindo para novas áreas de negócios, confundindo os limites que definem quem faz o quê em Wall Street e afastando do jogo os bancos outrora dominantes. 

Hoje, as gestoras de ativos, tradicionais e alternativas, controlam o dobro de ativos que os bancos dos EUA, dando-lhes um controle cada vez maior da economia americana. 

As empresas — como Blackstone, Franklin Templeton, BlackRock e KKR — estão se tornando mais complexas e mais semelhantes entre si ao mesmo tempo. Os investidores dizem que isso cria riscos com os quais os mercados nunca se depararam. 

Executivos de gestoras de fundos insistem que a expansão, por mais impressionante que seja, ainda está no início. Boa notícia para eles, porque o crescimento rápido está lhes trazendo grande riqueza, especialmente em investimentos privados, ou “alternativos”. Os fundos de private equity geraram mais bilionários do que qualquer outro setor nos últimos anos, de acordo com dados da Forbes.

Veja como o jogo está mudando:

Titãs trilionários

Grandes empresas de gestão de fundos estão se expandindo e oferecendo novos tipos de produtos para capturar participação de mercado. As maiores delas estão se tornando supermercados financeiros, principalmente para instituições e ricos, mas cada vez mais também para investidores da classe média. Os bancos se consolidaram de forma semelhante na década que antecedeu a crise financeira.

Fundos de private equity e de dívida privada, como Apollo Global Management e Blackstone, administram principalmente o dinheiro de instituições, mas estão vendendo cada vez mais produtos para investidores individuais. Gigantes de fundos mútuos, incluindo a BlackRock, estão crescendo ainda mais com o desenvolvimento ou a compra de operações de fundos privados.

As gestoras de ativos também estão suplantando os bancos como credoras de empresas e consumidores dos EUA e se envolvendo com o setor de seguros.

Os principais executivos de fundos privados dizem que exigem compromissos de longo prazo dos clientes, tornando-os mais estáveis do que os bancos dependentes de depósitos, como o Silicon Valley Bank.

“Estamos entrando em uma área cinzenta à medida que as empresas de gestão de ativos migram para diferentes silos de serviços financeiros”, disse Tyler Cloherty, diretor-gerente da consultoria Deloitte, que assessora gestoras de fundos. “A grande pergunta que ouço é: ‘O que fazemos para obter alternativas para os clientes?’. Há muita complexidade aí.”

O surto de crescimento se originou na crise financeira de 2008, quando uma nova regulamentação restringiu o investimento e os empréstimos dos bancos, abrindo espaço para a expansão das gestoras de fundos. Os bancos centrais mantiveram as taxas de juros baixas durante a maior parte da década seguinte, levando os investidores das cadernetas de poupança e dos títulos do Tesouro para os fundos administrados.

Limites pouco nítidos

Em 2008, bancos e gestoras de fundos dos EUA tinham cerca de US$ 12 trilhões em ativos. Hoje, as gestoras de ativos tradicionais, de fundos privados e fundos de hedge controlam cerca de US$ 43,5 trilhões, quase o dobro dos US$ 23 trilhões dos bancos, de acordo com uma análise do Wall Street Journal dos dados do Federal Reserve, HFR, ICI e Preqin.

A resposta dos grandes bancos foi começar a atuar mais como gestoras de fundos, reforçando suas equipes de investimento. O Goldman Sachs reportou neste mês receita de cerca de US$ 4 bilhões com gestão de ativos e patrimônio no primeiro trimestre, o dobro dos ganhos de sua famosa divisão de banco de investimento.

As gestoras de fundos públicos, por sua vez, ficaram enormes, principalmente ao oferecerem fundos mútuos e negociados em bolsa com pequenas taxas e monitoramento de índices. Quatro dos maiores — BlackRock, Fidelity, State Street e Vanguard — controlam cerca de US$ 26 trilhões, o equivalente a toda a produção econômica anual dos EUA. 

Mas, nos últimos quatro anos, os ativos de fundos de private equity e de dívida dobraram para quase US$ 6 trilhões, superando em muito a taxa de crescimento de 31% dos fundos públicos. As empresas começaram a vender fundos de crédito privado para seus principais clientes — fundos de pensão e fundos patrimoniais que tinham atingido o máximo de private equity. As gestoras dos fundos também fizeram incursões com novos investidores, como seguradoras e pessoas físicas. 

À medida que os fundos crescem, seus fundadores ganham mais dinheiro. Gestores de fundos de private equity ocuparam 41 posições na lista de bilionários americanos da revista Forbes publicada neste mês, mais do que qualquer outra profissão. Os investidores representam 5,5% de todos os bilionários do país, quase o dobro dos 3% de apenas dez anos atrás.

Esse aumento pode continuar. O co-CEO da KKR, Scott Nuttall — que em 2022 chegou à lista de bilionários da Forbes — disse aos acionistas em uma reunião neste mês que a empresa dobrará o dinheiro que controla, chegando a US$ 1 trilhão até 2029. Apenas 2% dos indivíduos ricos atualmente investem em fundos alternativos e esse número saltará para 6% até 2027, garantiu ele. 

O rival Marc Rowan, CEO da Apollo Global Management, diz que sua empresa aumentará os cerca de US$ 650 bilhões sob sua gestão para US$ 1 trilhão até 2026. A Blackstone, que ultrapassou a barreira de US$ 1 trilhão em julho, lançou neste ano seu primeiro fundo de private equity voltado para investidores individuais. O fundo levantou cerca de US$ 3 bilhões até agora, o início mais rápido de todos os tempos para um fundo de varejo, disse uma pessoa familiarizada com o assunto. A Blackstone levantou mais de US$ 100 bilhões por meio de dívida privada e fundos imobiliários destinados a pessoas físicas.

As gestoras de fundos públicos são muito maiores do que suas homólogas privadas, mas também menos rentáveis depois de anos de redução das taxas para garantir quota de mercado. Um número crescente, incluindo a Franklin Templeton e a T. Rowe Price, está comprando fundos alternativos para aumentar os lucros.

A tendência atingiu seu ápice em janeiro, quando a BlackRock fechou um acordo para comprar a Global Infrastructure Partners por US$ 12,5 bilhões, o preço mais alto de todos os tempos pago por uma gestora de ativos alternativos, de acordo com a Dealogic. Se a aquisição ocorrer como esperado, haverá mais seis bilionários na lista da Forbes, os sócios-fundadores da Global Infrastructure. 

Outras gestoras de fundos tradicionais adotaram uma abordagem mais lenta e menos cara, construindo seus próprios negócios de fundos privados.  

Regulação do private equity para as massas

A Neuberger Berman, gestora de fundos tradicional nascida do colapso do Lehman Brothers, tem por volta de um terço de seus US$ 463 bilhões investidos em alternativas, contra cerca de 10% há uma década. A empresa de propriedade dos ex-funcionários do banco levantou a maior parte dos ativos de investidores institucionais. 

“Grande parte do crescimento futuro será impulsionado por indivíduos que não têm experiência nem equipe profissional para ajudá-los”, disse o executivo-chefe da Neuberger, George Walker. O ônus das gestoras de fundos é educar os novos compradores e fornecer-lhes produtos bem diversificados para reduzir o risco, garantiu ele.

Em 2021, a Neuberger lançou um produto chamado Access, que reúne dezenas de fundos privados e seus investimentos, para oferecer uma carteira diversificada aos clientes com baixa adesão. O fundo dobrou de tamanho no ano passado, chegando quase a US$ 1 bilhão.

A Pacific Investment Management Co., que administra cerca de US$ 2 trilhões, aumentou os investimentos alternativos de US$ 10,7 bilhões em 2010 para US$ 165 bilhões, segundo uma porta-voz da empresa.  A TCW, outra gestora de fundos de títulos, dobrou os investimentos alternativos nos últimos quatro anos, para US$ 20 bilhões, cerca de 10% dos ativos totais, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto. Ambas as empresas contrataram gestores de carteiras de empresas de private equity e fundos de hedge para formar sua equipe.

Os reguladores estão lidando com gestoras de fundos imensas a partir de vários ângulos. A Comissão de Valores Mobiliários (SEC em inglês) aprovou em agosto novas regras para fundos privados que exigem mais divulgação aos investidores e que eliminam negócios paralelos com clientes institucionais.

O aumento das vendas de fundos privados para indivíduos ocorre à medida que aquisições alavancadas por private equity retornaram 8% no ano passado, o nível mais baixo desde 2011, de acordo com a Preqin. Taxas de juros mais altas dificultaram a venda de empresas de propriedade dos fundos e encareceram a compra de novas.

As gestoras de fundos tradicionais estão sendo escrutinadas, dada sua influência descomunal nos votos de acionistas. Em novembro, um regulador interagências aprovou uma regra que permite que grandes gestoras de fundos sejam potencialmente reguladas como instituições sistemicamente importantes, como acontece com os grandes bancos. Essa decisão apenas restabelece uma medida da era Obama que acabou sendo derrubada pelo governo Trump.

Escreva para Matt Wirz em [email protected]

Correções: em 2008, bancos e gestoras de fundos dos EUA controlavam cerca de US$ 12 trilhões em ativos. Uma versão anterior deste artigo dizia incorretamente que eram US$ 12 bilhões. (Corrigido em 22 de abril)

traduzido do inglês por investnews