Comecei a escrever sobre carreiras e liderança para o Wall Street Journal em 2013. Ir para o escritório era uma coisa que você fazia todos os dias. Os efeitos da recessão de 2008 ainda afetavam muito a vida corporativa. Calças jeans skinny estavam na moda, embora você provavelmente só pudesse usá-las no trabalho às sextas-feiras.
Eu tinha 28 anos e era recém-casada. Todas as manhãs, caminhava do meu minúsculo apartamento até a sede do jornal em Midtown, sentindo-me igualmente ansiosa e animada enquanto trocava o tênis pelo salto alto na minha mesa. Observei as mães que trabalhavam em minha nova divisão, que pareciam ter descoberto como equilibrar tudo. Eu me perguntava como as coisas seriam para mim.
Centenas de histórias, quatro mudanças, dois filhos e uma promoção depois, estou partido para um novo desafio. Mas não sem antes dizer que é um privilégio passar meus dias assim: analisando pesquisas, sondando especialistas e conversando com centenas de trabalhadores que compartilhavam suas histórias comigo. Isso mudou minha vida.
Eis aqui o que aprendi de melhor.
Você pode pedir quase tudo, ao que parece. Mas pode não conseguir. Porém, se fizer direito, não sairá machucado. Sempre tenha o que William Ury — coautor da bíblia de negociação “Getting to Yes” (disponível em português como “Chegando ao Sim: Negociando Acordos Sem Ceder”) — chama de “BATNA: best alternative to a negotiated agreement”, ou a melhor alternativa para uma negociação. Em outras palavras, tenha um plano B sólido antes de pedir algo.
Se a resposta for não, você vai sair, se concentrar em outro projeto ou arrumar um bico extra? Quão bom é o plano B em comparação com o que você está pedindo? Quanto mais atraente for a alternativa, mais poder você terá na negociação.
Pense criativamente. Você precisa de um aumento, ou precisa de um horário mais flexível ou de um ano sabático não remunerado? Não são exigências; você está iniciando uma conversa.
Fale sobre seu salário com seus colegas. Pergunte quanto eles ganham. Sutilmente, com cuidado, com jeitinho.
Claro, pode ser estranho, para não dizer arriscado. Você pode ouvir um não de cara. Mas essa ainda é a melhor arma que conheço para compreender os processos de pagamento corporativo e ganhar o que você merece.
Os colegas que sempre invejei eram aqueles que projetaram uma confiança e uma leveza naturais e arrasavam em seus empregos. Eles provavelmente só responderão ao seu e-mail sem urgência amanhã. Estão ocupados fazendo as coisas que importam. Menos estressados, eles projetam um certo otimismo e fazem o trabalho parecer… divertido?
Eu acredito no trabalho duro, mas não acho que você chegará a algum lugar simplesmente trabalhando. É preciso se gabar, de si mesmo e dos outros. Teste alguns princípios de “produtividade lenta”, como alternar períodos de trabalho intensos com um tempo silencioso para recarregar as baterias.
E livre-se da insegurança, a voz em sua cabeça que diz que você é uma farsa. As empresas funcionam com super-realizadores inseguros que priorizam o trabalho acima de tudo. Muitas vezes, isso acaba servindo apenas à empresa.
Eu gostaria que alguém tivesse me dito, na época em que eu estava sendo rejeitada no primeiro grande trabalho de jornalismo para o qual me candidatei, que o fracasso faz parte de ter uma carreira — uma carreira interessante, pelo menos. Mesmo os prodígios entre nós, as pessoas que encontraram o elevador que vai direto para o topo, falham às vezes. E elas seguem em frente.
Se você percorre ordenadamente um caminho apenas ouvindo sim, provavelmente não está mirando alto o suficiente. Ou um acidente está para acontecer. Não há mais garantias na maioria dos setores.
Talvez seja porque passei anos tentando desesperadamente ser uma mãe que trabalha, mas acho que ter duas coisas que você ama em sua vida é ótimo.
“É como espalhar seus ovos existenciais de alguma forma”, disse-me Yael Schonbrun, psicóloga clínica, para uma coluna sobre conflitos entre vida profissional e pessoal.
Não quero sugerir que equilibrar filhos e trabalho seja fácil, ou que não haja coisas que empresas e governos possam fazer para melhorar essa situação. Mas isso pode trazer perspectiva e profundidade para sua vida, diminuindo o desgaste em ambas. Uma reunião desastrosa no trabalho parece menos o fim do mundo quando você chega em casa e seu filho está sorridente — e uma criança gritando parece menos o fim do mundo quando você brilhou na reunião de trabalho. O mesmo vale para a dedicação a um hobby ou para a construção de relacionamentos pessoais de todos os tipos.
Nos meus dias mais estressantes de mãe trabalhadora, penso em um dos meus piores dias no trabalho, quando fiz uma matéria sobre creches no local de trabalho enquanto passava por um ciclo fracassado de fertilização in vitro. Eu queria muito me juntar às mães e pais que estava entrevistando, falando sobre as dificuldades para cuidar dos filhos e tudo mais.
Finalmente tive minha chance, e foi uma dádiva.
Se você tirar uma licença parental, ou um ano sabático, ou mesmo longas férias, volte ao trabalho em uma quarta-feira. Você consegue enfrentar três dias.
Você deve trazer todo o seu eu para o trabalho? Provavelmente não. Mas, lamentei muito o ciclo de fertilização in vitro mencionado acima com os colegas. Se você tem colegas e chefes maravilhosos, compartilhar é bom. Se não, pense cuidadosamente antes de mencionar sua infertilidade ou questões de saúde mental. Ainda há preconceito em muitos locais de trabalho.
Ao dar conselhos, tentava equilibrar o modo como gostaria que fossem os locais de trabalho com a realidade em que realmente vivemos. Muitas vezes penso em algo que Jeffrey Pfeffer, professor da escola de administração da Universidade de Stanford, me disse sobre ser assertiva no trabalho, especialmente se você for mulher ou uma pessoa de cor.
“Claro que você vai irritar as pessoas”, disse ele. Isso não significa que não valha a pena. Espero que os leitores ultrapassem barreiras quando puderem, para tornar as coisas melhores para todos nós.
Escrever uma coluna de conselhos me ensinou que muitas vezes não há uma resposta mágica, apenas maneiras melhores de pensar sobre um problema. Quando me ofereceram este emprego em junho de 2020, a cabeça girando com a combinação de uma criança de um ano, outra de dois anos e uma pandemia, quase recusei.
“Diga-me o que fazer!”, implorei ao meu marido, à minha melhor amiga e a quem quisesse ouvir. Uma mentora foi muito útil. “Imagine seu emprego dos sonhos”, ela me disse. “Essa posição se aproxima ou se afasta dele?”
Me aproximava muito. Durante anos, escrever esta coluna foi um sonho que se tornou realidade. Mas metas não são estáticas. Agora sonho em escrever livros e estar mais presente para minha família. Estou animada e com medo de ter tido a chance de tentar.
Seu sonho do momento pode ser um novo cargo, uma semana de trabalho de quatro dias ou uma pausa restauradora. E quando isso acontecer, me conta tudo.
Escreva para Rachel Feintzeig em [email protected]
]]>O presidente Biden estará presente na cúpula do Rio, embora não esteja claro o valor que ele trará. No fórum da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico em Lima, Peru, na semana passada, o americano, que está no fim de seu mandato, foi ofuscado pelo ditador chinês Xi Jinping e pelo recém-inaugurado porto de Chancay, no Peru — 60% de propriedade da Cosco Shipping da China, financiado por empréstimos bancários chineses e a 80 km ao norte da capital Lima — que foi o assunto da cidade. Na medida em que os Estados Unidos ainda são um ator na região, os membros da APEC e do G20 sabem que eles precisam conversar é com o presidente eleito Donald Trump.
Entre as duas conferências, Biden fez uma parada na Amazônia para enfatizar o alarmismo climático que definiu sua presidência. Isso poderia ter sido feito de casa por muito menos dinheiro, mas visitar a floresta tropical está na lista de desejos de todos.
A democracia latino-americana está em péssimo estado. A crescente influência da China na região está longe de ser o único problema. O maior desafio é a erosão do capitalismo democrático, que em muitos países está sendo substituído pelo nacionalismo e pelo autoritarismo.
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A presidente do México, Claudia Sheinbaum, que assumiu o cargo em 1º de outubro, já deu os últimos retoques em uma tomada de poder iniciada por seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador. As emendas constitucionais aprovadas por um Congresso controlado pelo partido Movimento Regeneração Nacional (Morena), da presidente, eliminaram a independência do Judiciário e dos órgãos reguladores de controle que deveriam verificar o alcance do Executivo. O crime organizado tomou conta de grande parte do país. A iminente escassez de eletricidade restringiu o boom do near-shoring americano que antes parecia inevitável. O peso não anda bem.
Venezuela, Bolívia, Honduras, Nicarágua e Cuba são paraísos do tráfico de drogas que também anularam a independência institucional. Em El Salvador, a troca que os cidadãos fizeram — da democracia pela segurança pessoal — é racional, mas provavelmente será dolorosa no longo prazo. O Estado de Direito da Colômbia é muito fraco, assim como sua economia.
O Brasil há muito tempo deseja substituir os EUA como hegemonia regional no continente sul-americano. Mas assumir esse papel requer autoridade moral e peso econômico. Lula arrisca ambos.
Veja a proteção retórica que ele deu ao ditador venezuelano Nicolás Maduro. A vitória folgada do candidato da oposição Edmundo González Urrutia nas urnas foi documentada por observadores de pesquisas venezuelanos e reconhecida pela comunidade internacional. Mas quando a Organização dos Estados Americanos, que tem a missão de defender a democracia na região, realizou uma votação para reconhecer a vitória de González Urrutia, o Brasil se uniu à Colômbia e ao México para garantir que a votação não fosse aprovada. Assim como o apoio de Lula à ditadura cubana, essa é a manifestação do antiamericanismo, e não qualquer crença na legitimidade de Maduro.
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O dinossauro brasileiro da Guerra Fria está se apegando não tanto a ideais utópicos de socialismo, mas a uma ânsia pelo poder que um modelo corporativista altamente centralizado oferece. Ele prefere aliados que não insistam em um governo limitado, como os colegas do grupo Brics — Rússia, Índia, China e África do Sul. O grupo tem como objetivo reduzir o alcance do dólar e das instituições ocidentais nas finanças internacionais e minar as sanções criando seus próprios mecanismos de empréstimo e moedas alternativas.
Lula pode odiar o domínio do dólar, mas ele adora dólares. Sua cúpula no Rio defenderá uma proposta para impor um imposto global sobre a riqueza dos ricos buscando arrecadar cerca de US$ 250 bilhões por ano de 2.800 bilionários. Os recursos devem ser usados para combater as mudanças climáticas e a pobreza. Isso vindo de um político cujo Partido dos Trabalhadores supervisionou o maior esquema de corrupção da história da América Latina.
Enquanto isso, a política econômica de Lula está levando o país a um caminho familiar de república das bananas ao abandonar a austeridade fiscal. O ex-ministro da Economia Paulo Guedes (2019-22) colocou os gastos sob controle cortando a força de trabalho do governo e congelando salários nominais. Agora, “o déficit fiscal do setor público em geral”, informou o Goldman Sachs em 11 de novembro, “está sendo acompanhado por um amplo 9,34% do PIB (de um déficit de 7,5% há um ano)”.
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Essa imprudência está pressionando o real brasileiro. A inflação está em 4,6% no ano. Para mantê-la sob controle, o Banco Central teve de aumentar as taxas de juros para 11,25%. As grandes multinacionais tomam emprestado a taxas em dólar, mas as pequenas e médias empresas brasileiras enfrentam custos locais de crédito muito altos. Isso não é exatamente Lula cuidando dos pequenos.
O mandato de Roberto Campos Neto termina no próximo mês. Lula o está substituindo por Gabriel Galípolo. Os mercados estarão atentos para ver se a independência do Banco Central sobreviverá. Se isso não acontecer, os pobres serão os maiores prejudicados.
]]>De novas bactérias devoradoras de plástico e novas curas do câncer até robôs auxiliares e carros autônomos, a tecnologia da IA generativa — que ganhou destaque como o motor do ChatGPT — está pronta para mudar nossa vida de maneiras que fazem os bots falantes parecerem meras brincadeiras.
Embora tenhamos a tendência de equiparar o atual boom da inteligência artificial a computadores que conseguem escrever, falar, programar e fazer imagens, a maioria dessas formas de expressão é desenvolvida sobre uma tecnologia subjacente, chamada “transformador”, que tem aplicações muito mais amplas.
Anunciados pela primeira vez em um artigo de pesquisadores do Google de 2017, os transformadores são um tipo de algoritmo de IA que permitem que os computadores entendam a estrutura subjacente de qualquer pilha de dados — sejam palavras, dados de direção ou os aminoácidos em uma proteína — para que possam gerar seu próprio output.
Os transformadores abriram caminho para a OpenAI lançar o ChatGPT há dois anos, e várias empresas agora estão trabalhando em um modo de usar a inovação de maneiras diferentes, desde a Waymo em seus táxis-robôs até uma startup de biologia chamada EvolutionaryScale, cujos sistemas de IA estão projetando novas moléculas de proteína.
As aplicações dessa descoberta são tão amplas que, nos sete anos desde que a pesquisa do Google foi publicada, ela foi citada em outros artigos científicos mais de 140 mil vezes.
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Não é exagero dizer que essa coleção de algoritmos é a razão pela qual a Nvidia é agora a empresa mais valiosa do mundo, que os data centers estão surgindo por todos os EUA e pelo mundo, aumentando o consumo e o preço da eletricidade, e que os executivos-chefes de empresas de IA estão frequentemente — e talvez erroneamente — afirmando que a IA com capacidades humanas está logo aí.
Os humanos sempre agiram com base na convicção de que o universo tem uma ordem subjacente — mesmo quando debatem se a fonte dessa ordem é divina. A IA moderna é, em certo sentido, mais uma validação da ideia de que todos os cientistas desde Copérnico realmente estavam no caminho certo.
A IA moderna é competente no reconhecimento de padrões de informação. Mas as abordagens anteriores impunham sérios limites ao que mais ela poderia fazer. Com a linguagem, por exemplo, a maioria dos sistemas de IA só conseguia processar palavras uma de cada vez e avaliá-las apenas na sequência em que apareciam, o que limitava sua capacidade de entender o que significavam.
Os pesquisadores do Google que escreveram esse artigo seminal de 2017 estavam focados no processo de tradução de idiomas. Eles perceberam que um sistema de IA que pudesse digerir todas as palavras em um texto e colocar mais peso nos significados de algumas delas do que no de outras — quer dizer, lidas no contexto — conseguiria fazer traduções muito melhores.
Por exemplo, na frase “I arrived at the bank after crossing the river” (Cheguei à margem depois de atravessar o rio), uma IA baseada em transformador sabe que a frase termina em “rio” em vez de “rua”, e vai traduzir “bank” como margem, não como um lugar para depositar seu dinheiro.
Em outras palavras, os transformadores funcionam descobrindo como cada informação obtida pelo sistema se relaciona com todas as outras informações recebidas, diz Tim Dettmers, cientista pesquisador de IA do Instituto Allen para Inteligência Artificial, sem fins lucrativos.
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Esse nível de compreensão do contexto permite que os sistemas de IA baseados em transformadores não apenas reconheçam padrões, mas prevejam o que poderia vir a seguir, gerando assim suas próprias novas informações. E essa capacidade pode se estender a outros dados além de palavras.
“De certa forma, os modelos estão descobrindo a estrutura latente dos dados”, diz Alexander Rives, cientista-chefe da EvolutionaryScale, empresa que ele cofundou no ano passado depois de trabalhar em IA para a Meta Platforms, a controladora do Facebook.
A EvolutionaryScale está treinando sua IA nas publicações de sequências de todas as proteínas às quais seus pesquisadores conseguem ter acesso e em tudo o que sabemos sobre elas. Usando esses dados, e sem a ajuda de engenheiros humanos, sua IA é capaz de determinar a relação entre uma determinada sequência de blocos de construção molecular e como a proteína criada funciona no mundo.
Pesquisas anteriores relacionadas a esse tópico, que estavam mais focadas na estrutura das proteínas do que em sua função, são a razão pela qual o chefe de IA do Google, Demis Hassabis, compartilhou o Prêmio Nobel de Química de 2024. O sistema que ele e sua equipe desenvolveram, chamado AlphaFold, também é baseado em transformadores.
A EvolutionaryScale já criou uma molécula de prova de conceito. É uma proteína que funciona como aquela que faz a água-viva brilhar, mas a sequência proteica inventada pela IA é radicalmente diferente de qualquer coisa criada pela natureza.
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Seu objetivo final é permitir que todos os tipos de empresas — desde empresas farmacêuticas que produzem novos medicamentos até as de química sintética que trabalham em novas enzimas — criem substâncias que seriam impossíveis sem sua tecnologia. Isso pode incluir bactérias equipadas com novas enzimas que conseguem digerir plástico ou novos medicamentos adaptados a um tipo de câncer específico.
O objetivo de Karol Hausman é criar uma IA universal que possa fazer qualquer robô funcionar. “Queremos desenvolver um modelo que consiga fazer qualquer robô realizar qualquer tarefa, incluindo todos os robôs que existem hoje e aqueles que ainda nem foram desenvolvidos”, diz ele.
A startup de Hausman, com sede em San Francisco, a Physical Intelligence, tem menos de um ano, e o próprio Hausman trabalhou no setor de IA do Google, o DeepMind. Sua empresa começa com uma variante do mesmo grande modelo de linguagem que você usa quando acessa o ChatGPT. O mais novo desses modelos de linguagem também incorpora e pode trabalhar com imagens. Eles são fundamentais para a forma em que os robôs de Hausman operam.
Em uma demonstração recente, um par de braços robóticos da Physical Intelligence faz uma das tarefas mais difíceis de toda a robótica, acredite ou não: dobrar roupas. As roupas podem assumir qualquer forma e exigem flexibilidade e destreza surpreendentes para serem manuseadas, de modo que os especialistas não conseguem roteirizar a sequência de ações que darão a um robô, isto é, exatamente como mover seus membros para pegar e dobrar a roupa.
O sistema da Physical Intelligence pode remover roupas de uma secadora e dobrá-las ordenadamente usando um sistema que aprendeu a fazer essa tarefa por conta própria, sem nenhuma interferência de humanos além da oferta de uma montanha de dados. Essa demonstração, e outras semelhantes, foi impressionante o suficiente para que, no início deste mês, a empresa levantasse US$ 400 milhões de investidores, incluindo Jeff Bezos e a OpenAI.
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Em outubro, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) anunciaram que estão buscando uma estratégia semelhante baseada em transformadores para criar cérebros de robôs que possam receber grandes quantidades de dados de várias fontes, e então operar com flexibilidade em uma ampla gama de ambientes. Em um caso, eles fizeram vários filmes de um braço robótico comum colocando comida de cachorro em uma tigela, e depois usaram os vídeos para treinar outro robô com inteligência artificial para que fizesse o mesmo.
Como na robótica, pesquisadores e empresas que trabalham com carros autônomos estão descobrindo como usar “modelos de linguagem visual” baseados em transformadores, que podem receber e conectar não apenas a linguagem, mas também imagens.
A Nuro, com sede na Califórnia, e a Wayve, com sede em Londres, além da Waymo, de propriedade da Alphabet, empresa mãe do Google, estão entre as que trabalham com esses modelos.
Esse é um distanciamento das abordagens pré-transformadores para a direção autônoma, que usavam uma mistura de instruções escritas por humanos e tipos mais antigos de IA no processamento de dados de sensores para identificar objetos na rua. Os novos modelos baseados em transformadores são essencialmente um atalho para dar aos sistemas autônomos o tipo de conhecimento geral sobre o mundo que antes era muito difícil de garantir.
Pesquisadores da Waymo em um artigo recente, por exemplo, mostraram como o uso da própria IA comercial do Google, chamada Gemini, poderia dar ao seu sistema de direção autônoma a capacidade de identificar e dar preferência a objetos nos quais não havia sido treinado, como um cachorro atravessando a rua.
Por mais poderosos que sejam, esses sistemas ainda têm limites e imprevisibilidade, o que significa que não serão capazes de automatizar completamente o trabalho humano, diz Dettmer.
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A IA no coração do EvolutionaryScale, por exemplo, pode sugerir novas moléculas para os humanos experimentarem no laboratório, mas estes ainda precisam sintetizá-las e testá-las. E os modelos baseados em transformadores estão longe de ser confiáveis o suficiente para assumirem completamente um veículo autônomo.
Outra limitação é que eles são tão inteligentes quanto os dados com os quais são treinados. Grandes modelos de linguagem como os da OpenAI estão começando a se deparar com restrições do volume de palavras escritas úteis disponível ao mundo — e isso com a internet cheia de texto. Para que robôs ou carros autônomos aprendam dessa maneira, são necessárias enormes quantidades de dados sobre o que acontece quando tentam funcionar no mundo real — uma das razões pelas quais atualmente há uma corrida entre as empresas para adquirir esses dados.
Essas limitações são aparentes nos robôs da Physical Intelligence. Seu sistema aprendeu sozinho a dobrar a roupa, mas antes que consiga chegar à sua casa e assumir essa tarefa para você, ele teria que reaprender o processo da maneira específica de sua própria casa. Isso exigiria uma enorme quantidade de tempo dos engenheiros, além de dinheiro para treinar o modelo.
“Quero ter certeza de que fui capaz de definir expectativas”, diz Hausman, o CEO. “Por mais orgulho que tenhamos de nossa realização, ainda estamos no começo.”
Escreva para Christopher Mims em [email protected]
]]>A eleição ligou o foguete que os entusiastas de criptomoedas esperam possa levar os preços à lua. Eles estão antecipando que o presidente eleito Donald Trump cumprirá sua promessa de defenestrar Gary Gensler, o chefe anticripto da Comissão de Valores Mobiliários (SEC na sigla em inglês), de facilitar os regulamentos sobre listagens de empresas de criptomoedas, exchanges, finanças e mineração e de criar um estoque nacional de bitcoin.
Regulamentações mais fáceis devem, em princípio, aumentar os preços, facilitando a atração de compradores. Como as criptomoedas não são apoiadas por renda ou economia, na ausência de quaisquer fundamentos, elas são impulsionadas inteiramente pela oferta e pela demanda guiada pelo sentimento. O aumento do número de compradores significa um preço mais alto.
No entanto, caso nos aprofundemos no argumento, fica difícil ver por que o bitcoin deveria se beneficiar tanto. A mãe das criptomoedas é diferente da maioria das outras. Junto com a moeda número dois, o ethereum, ela sofre pouca pressão regulatória. É tratada como uma commodity, por isso evita a supervisão direta da SEC e tem futuros e — graças a ações judiciais contra a SEC — ETFs.
Outras criptomoedas poderiam se beneficiar muito se também fossem isentas das regras da SEC em relação a prospectos, enquanto o ethereum poderia se beneficiar de uma abordagem mais relaxada de finanças descentralizadas, mas nenhuma mudança ajudaria o bitcoin. De fato, mais demanda por outras moedas pode, na margem, tirar os compradores e seu dinheiro do bitcoin, que é de longe a maior.
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“Qualquer flexibilização regulatória que aconteça para a criptomoeda é mais benéfica para as altcoins [criptoativos além do bitcoin] do que para o próprio bitcoin, porque não há negócios regulatórios para o bitcoin”, diz Alex Thorn, chefe de pesquisa da Galaxy Digital, empresa de serviços financeiros de criptomoedas.
Então, por que o bitcoin subiu um terço desde sua baixa na noite da eleição, adicionando quase US$ 500 bilhões ao seu valor total em menos de duas semanas, enquanto as altcoins e o ether ficaram para trás? Há três argumentos comuns.
O primeiro é “dã”. O próximo presidente é, depois de uma mudança de opinião, declaradamente pró-cripto e cercado por conselheiros que gostam de cripto. O bitcoin é a maior criptomoeda. Ipso facto, compre bitcoin.
Dado que o valor depende puramente do sentimento — lembre-se, sem fundamentos — isso é plausível, embora profundamente insatisfatório; equivale a dizer que, como “bitcoin” e “cripto” são atualmente termos intercambiáveis para a maioria das pessoas, qualquer coisa boa para a cripto é boa para o bitcoin, mesmo quando não é.
A segunda é a promessa de campanha de Trump de criar um “estoque estratégico nacional de bitcoin”, começando por bloquear a venda de bitcoins anteriormente apreendidos por agências da lei. O que animou os irmãos do bitcoin é a ideia de que isso poderia se transformar em uma reserva estratégica de bitcoin para apoiar o dólar, algo proposto pela senadora Cynthia Lummis (republicana do Wyoming).
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Há rumores de que outros países poderiam apressar a compra de bitcoin para se antecipar a um programa de compra de Trump. No entanto, a ideia não faz sentido. As reservas cambiais estratégicas são para países que têm divisas vacilantes devido à falta de confiança em sua moeda ou para aqueles que precisam reciclar excedentes comerciais em ativos no exterior. Nenhum dos casos se aplica aos EUA. Mesmo que se aplicassem, Trump realmente gostaria de desviar os recursos americanos de gastos ou cortes de impostos para a compra de bitcoin?
“Se o Tesouro ou o Fed dissessem que vão comprar bitcoin para ajudar a recuperar o dólar, seria muito ruim para o dólar da mesma forma que se eles dissessem que iriam comprar pirulitos ou pasta de dente para apoiar o dólar”, diz Thorn. E ele gosta de bitcoin. “O dólar é apoiado pela plena fé e pelo crédito dos EUA.”
Mesmo assim, é difícil prever o que o novo governo fará. Com certeza, qualquer sinal de que o governo estivesse comprando bitcoin aumentaria o preço, por mais louca que seja a ideia.
O terceiro argumento gira em torno da ameaça de inflação, para a qual alguns compradores de bitcoin continuam pensando que a criptomoeda oferece proteção. O mercado de títulos tem apostado que as políticas de Trump levarão a uma inflação mais alta, graças a tarifas e cortes de impostos. No entanto, o bitcoin nunca foi uma boa proteção para a inflação e está muito mais perto de ações especulativas do que de hedges de inflação, como ouro (agora em baixa desde a eleição) ou títulos vinculados à inflação.
Dito de outra forma: o bitcoin tem a ver com espíritos animais, não com análise econômica monótona. Não é de admirar que goste de Trump.
Escreva para James Mackintosh em [email protected]
]]>O líder chinês Xi Jinping desembarcou nesta semana em uma região onde a China está a frente dos EUA como parceira comercial dominante na maioria das grandes economias, com exceção do México e da Colômbia. Pequim incluiu a maior parte da América Latina e do Caribe em um programa de infraestrutura que exclui os EUA. E no Peru, Xi inaugurou um megaporto para acelerar o comércio com a Ásia.
A China é uma compradora voraz do lítio argentino, do petróleo bruto venezuelano e do minério de ferro e da soja brasileiros. Os US$ 286,1 bilhões em projetos chineses na região — que incluem linhas de metrô em Bogotá e Cidade do México e barragens hidrelétricas no Equador — estão se aproximando do valor do trabalho desenvolvido pela China na África, mas com um modelo de empréstimo renovado e menor reação. Os valores foram contabilizados pelo laboratório de pesquisa AidData da Universidade William & Mary em Williamsburg, na Virgínia.
Xi está visitando a América do Sul para participar de cúpulas de liderança, incluindo um fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico esta semana em Lima, no Peru, e uma cúpula do G-20 na semana que vem no Rio de Janeiro. Essas reuniões provavelmente exemplificarão o que alguns chamam da “marginalização econômica dos EUA pela China” na região. Embora a presença do presidente Biden também seja aguardada, sua estatura ficará muito diminuída após a vitória eleitoral de Donald Trump — e Xi, como líder chinês, visitou a região mais do que os dois americanos.
Poucos veem a América Latina como o quintal dos EUA.
As nações da região são geralmente sinceras em seu desejo de manter relações calorosas com os EUA, mas muitas vezes são vistas como uma prioridade secundária em Washington. Os diplomatas e executivos de Pequim, por sua vez, se envolvem ativamente com os governos locais e nacionais, quase que independentemente de suas inclinações políticas.
“É muito frustrante porque esta região tem tudo aquilo que você acha que as empresas americanas gostariam”, disse Ryan Berg, diretor do programa das Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington.
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Além de aprofundar os vínculos econômicos, Xi promove um modelo de governança que rompe com a ordem do pós-guerra liderada pelos EUA, que para ele é uma relíquia ultrapassada do colonialismo. A atenção sustentada de Xi à região “é simbólica, e os países do Sul Global precisam desse reconhecimento”, disse Alvaro Mendez, diretor de uma unidade da London School of Economics and Political Science que estuda a influência da China.
Trump, que em seu primeiro mandato se concentrou principalmente na região como fonte de imigração indesejada, agora pode forçar alguns de seus países a escolhas difíceis se os pressionar a limitar seus vínculos com a China. “Muitos latino-americanos estão apreensivos com o que lhes acontecerá nos próximos quatro anos nesta questão crítica”, disse Michael Shifter, estudioso da América Latina no grupo de políticas do Diálogo Interamericano em Washington. Ao mesmo tempo, o aumento de tarifas proposto por Trump pode levar algumas nações mais para perto de Pequim.
O comércio e o investimento chineses cresceram em aproximadamente 40 nações da América Latina e do Caribe, lar de mais de 660 milhões de pessoas em uma área que se estende do México ao Chile e Argentina, além de nações insulares como Jamaica e Cuba.
A construção de infraestrutura pela China, incluindo portos para transportar commodities, reflete como, em toda a Ásia e África, a China sob Xi consolidou sua presença construindo pontes, usinas de energia e estádios. A China também tem uma reputação mais leniente em relação às dívidas na América Latina do que em outras partes em desenvolvimento do mundo. Principalmente porque Pequim desacelerou os compromissos de novos projetos e ajustou a forma de financiamento de alguns deles.
A generosidade de Pequim nem sempre é benéfica, e suas exportações de bens de capital e de consumo, além de produtos químicos e máquinas, em particular para o México, dão à China um superávit comercial com a região em geral.
A China vem ocupando espaço com exportações de produtos manufaturados, como o hardware de telecomunicações da Huawei Technologies e os veículos elétricos da BYD, que assumiu uma ex-fábrica da Ford no Brasil. Um influxo de aço chinês recentemente forçou o fechamento de uma grande usina chilena. Alguns países já estão aumentando as tarifas sobre produtos chineses, e outros veem ameaças nos grandes participantes chineses em setores tradicionais, como a pesca. A imagem da China também foi manchada por construções de má qualidade, como em um projeto hidrelétrico no Equador, e pelo descaso com o meio ambiente e povos indígenas, como no entorno de minas de cobre no Peru.
A China é atraída pelas mesmas características que deveriam deixar as multinacionais americanas ansiosas para competir na região amplamente democrática: recursos naturais abundantes, incluindo minérios críticos, capital humano para a fabricação de produtos como os farmacêuticos, bases crescentes de consumidores e estado de direito.
O comércio deu um impulso à influência mais ampla de Pequim em uma região que tradicionalmente se alia aos EUA. O Brasil recentemente se juntou à China na apresentação de uma proposta para encerrar a guerra na Ucrânia e enfatizou a visão de um Sul Global para desafiar a ordem tradicional liderada pelos EUA. A Argentina permite que a China opere uma estação de rastreamento por satélite para seu programa espacial, uma entre várias de ligações quase militares. E os inimigos de Washington na região — Cuba e Venezuela — consideram a China amiga e protetora.
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Washington teme que a crescente influência econômica chinesa proporcione a Pequim uma profunda influência sobre os governos latino-americanos. A comandante do Comando Sul dos EUA, Gal. Laura Richardson, alertou repetidamente sobre a difusão de Pequim na região. Em resposta aos avanços da China, a Casa Branca tem procurado estabelecer instituições duradouras nos países em desenvolvimento para atrair investimentos.
O governo Biden “se concentrou muito em tentar levar investimentos do setor privado para o exterior” e causar impacto por meio de altos padrões que contribuem para “a estabilidade de longo prazo ou a estabilidade fiscal de longo prazo dos países”, disse um alto funcionário do governo, acrescentando que a China desacelerou seus compromissos em meio a ventos contrários em casa e problemas com alguns projetos no exterior.
Uma das principais motivações para a atenção de Xi à América Latina e ao Caribe é isolar a ilha democraticamente governada de Taiwan. Sete das 11 nações em todo o mundo que mantêm relações diplomáticas com Taipei estão na região, incluindo Guatemala, Paraguai e Haiti. Cinco que mudaram o reconhecimento para Pequim sob a supervisão de Xi, incluindo Honduras e Panamá, foram inundados com negócios chineses.
Provavelmente com Taiwan em mente, Pequim fechou acordos de compra de minérios e alimentos, de operações portuárias em países como o Peru e de comercialização em yuan, para fortalecer as linhas de suprimentos contra os riscos de que o militarismo chinês um dia desencadeie entre as potências ocidentais uma pressão para impor um embargo. Nesse cenário, pode-se esperar que Pequim ofereça incentivos a nações do G-20 como o Brasil para neutralizar o tipo de pressão que a Rússia enfrentou depois de invadir a Ucrânia, de acordo com um novo relatório do Rhodium Group e do Atlantic Council.
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Nem tudo é do jeito que Pequim quer. Pouco antes da viagem de Xi, o Brasil pareceu rejeitar suas propostas de aderir formalmente à iniciativa da Nova Rota da Seda, um golpe para um programa que, segundo cálculos do think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), inclui 22 das 26 nações elegíveis da América Latina e do Caribe e um sinal de descontentamento da maior economia da região sobre o acesso recíproco limitado ao mercado chinês.
Já se passaram 110 anos desde que os Estados Unidos concluíram o Canal do Panamá e mais de meio século desde que Washington procurou conter a disseminação do comunismo durante a Guerra Fria, intrometendo-se nas democracias da América Latina. Hoje, a formulação de políticas dos EUA para a região está fortemente inclinada para a imigração ilegal e os narcóticos, e não em como a estabilidade política e a crescente classe média poderiam funcionar a favor dos Estados Unidos.
O pouco envolvimento de Washington proporcionou espaço para a China ganhar reconhecimento regional, dada sua ousadia. Quando duas das nações pró-comércio da região, Uruguai e Equador, não conseguiram acordos de livre comércio com os EUA por volta do início do governo Biden, ambas se voltaram para Pequim. No ano passado, o Uruguai e a China disseram estar buscando um acordo, enquanto o Equador concluiu outro, o quinto de Pequim na região em comparação com os 11 dos EUA.
A prioridade do Equador continua sendo estabelecer um acordo comercial com os EUA, mas em reconhecimento ao atual clima político de Washington, “o país “está priorizando estratégias alternativas para aumentar as exportações para os EUA”, de acordo com o embaixador do país em Washington, Cristian Espinosa Cañizares.
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A China aproveitou oportunidades incontestáveis, disse Jorge Guajardo, ex-embaixador mexicano na China agora na empresa de consultoria DGA Group, em Washington. Como ele explica, “os EUA veem a América Latina como ‘nossa para ignorar’”.
A indiferença vai contra uma pesquisa do Centro de Pesquisa Pew publicada em julho, que mostrou que os EUA têm uma classificação de favorabilidade mais alta do que a China nas economias da Argentina, Brasil, Chile, México e Peru.
Guajardo disse que o dinamismo econômico dos EUA faz deles o mercado de exportação mais atraente para as nações latino-americanas e caribenhas diante da desaceleração da demanda de importação chinesa e da cautela de Pequim no financiamento de projetos em comparação com a última visita de Xi, em 2019.
Uma das ferramentas de Washington para combater as incursões chinesas é o financiamento da Corporação Internacional de Financiamento do Desenvolvimento. A agência americana divulgou como sucesso US$ 30 milhões em financiamento para um projeto de mineração de cobalto e níquel no Brasil para apoiar a produção de baterias de íons de lítio. Mas nas Américas, sob o mandato atual da agência, todos, exceto Bolívia, Honduras, Nicarágua e Haiti, são ricos demais para se qualificar para a maior parte de seu apoio a projetos; o financiamento da mina no Brasil foi aprovado somente após uma revisão especial do governo dos EUA.
Mais característica é a situação na Guiana, que buscava financiamento para expandir um porto para o petróleo produzido pela Exxon Mobil e a Hess, mas que não se qualificou para o apoio dos EUA, porque suas reservas de petróleo faziam dela um país muito rico. Isso abriu as portas para empreiteiros chineses. “Os EUA estão fazendo todo o bombeamento de petróleo, mas a China faz grande parte da infraestrutura”, disse Berg, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
Uma autoridade da Corporação Internacional de Financiamento do Desenvolvimento não abordou questões sobre nações específicas, mas disse que uma prioridade da agência é obter uma nova autorização de financiamento no Congresso.
Quando John Feeley chegou ao Panamá como embaixador dos EUA no início de 2016, havia planos em andamento para uma quarta ponte sobre o Canal do Panamá, e ele queria a participação de uma empresa americana. “Foi o canal que nos uniu”, explicou ele.
No entanto, Feeley contou que seus telegramas para Washington não conseguiram chamar muita atenção para o projeto da ponte. Ele disse que até ligou para a gigante da engenharia Bechtel, em Reston, na Virgínia, para despertar seu interesse. “Eu estava tentando chamar a atenção para isso e a resposta foi um silêncio retumbante”, disse Feeley. A Bechtel não respondeu às perguntas.
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Em 2018, o Panamá deu o projeto de US$ 1,42 bilhão a um consórcio de empresas pertencentes e operadas pelo governo da China. O interesse de Pequim seguiu-se à decisão do Panamá no ano anterior de romper relações com Taiwan, e a mídia estatal chinesa alardeou o acordo como a maior vitória do país nas Américas.
Os EUA, disse Feeley, “olham para a América Latina como um problema, não como uma oportunidade”.
Escreva para James T. Areddy em [email protected], Ryan Dubé em [email protected] e Roque Ruiz em [email protected]
]]>Mais estudos sugerem que a tática pode ajudar na perda de peso, mas provavelmente não é uma bala de prata para outras melhorias de saúde, como a redução de níveis de inflamação ou o prolongamento da vida. E algumas evidências sugerem que pode dificultar a formação e a retenção muscular.
“As pessoas esperavam que fosse mágico e que fizesse coisas incríveis”, diz Krista Varady, professora de nutrição da Universidade de Illinois Chicago, que estuda o jejum intermitente há 20 anos. “Ele só ajuda a comer menos.”
A popularidade do jejum intermitente explodiu a partir do final da década de 2010. O tipo mais popular é a alimentação com restrição de tempo, que envolve fazer refeições dentro de um período limitado todos os dias. É o método mais fácil para a maioria das pessoas, dizem os pesquisadores, e pode ser tão simples quanto pular o café da manhã.
Pesquisas iniciais em animais sugeriram que poderia reduzir o risco de desenvolver doenças cardíacas e certos tipos de câncer e, potencialmente, até prolongar a vida. Mas pesquisas limitadas em humanos e resultados mornos acabaram com algumas esperanças.
A alimentação com restrição de tempo elimina em média entre 200 e 500 calorias por dia, sugerem alguns estudos. A maioria dos participantes da pesquisa perde algum peso — de menos de 1% até cerca de 8%.
Um ensaio clínico de seis meses cujos resultados foram publicados no ano passado comparou pessoas que seguiram algum tipo de jejum intermitente com outras que comiam normalmente. As do grupo de jejum perderam cerca de 8% do peso corporal, em média. Mas, além de uma pequena melhora no processamento de glicose pelo corpo, os jejuadores não mostraram benefícios nos marcadores de saúde e longevidade, como níveis de inflamação.
Ao mesmo tempo, alguns médicos e adeptos do jejum intermitente dizem que pular refeições pode dificultar a ingestão suficiente de proteína ou a manutenção da massa muscular. Comedores com restrição de tempo perderam cerca de duas vezes mais massa magra — o peso do corpo que não inclui a gordura — do que massa gorda em comparação com um grupo de controle, de acordo com descobertas auxiliares em um estudo de alguns anos atrás. Outras pesquisas não chegaram à mesma conclusão.
Especialistas em saúde dizem que o jejum intermitente pode ser uma ferramenta útil para perder peso para alguns, mas para outros, a fome durante os períodos de jejum pode fazer com que “belisquem” mais durante os períodos de alimentação. E quando se trata de saúde geral, o que as pessoas comem ainda é mais importante do que quando comem, dizem eles.
Vários grandes nomes da saúde e bem-estar controlaram ou abandonaram seus regimes de jejum nos últimos anos, em parte citando preocupações com proteínas e massa muscular. Alguns costumavam fazer jejuns prolongados, o que certos pesquisadores acreditam poder estimular um processo de reciclagem celular chamado autofagia, que diminui com a idade.
O dr. Peter Attia, médico, escritor e apresentador de podcast, costumava jejuar três dias por mês e até dez dias a cada três meses, disse ele em uma entrevista no ano passado ao Wall Street Journal. Attia, de 51 anos, abandonou esse hábito e agora está cético em relação aos benefícios de jejuns prolongados por causa da perda de massa magra e da falta de compreensão científica sobre como medir os benefícios.
O dr. Brad Stanfield, médico de cuidados primários de 32 anos da Nova Zelândia que administra um canal no YouTube sobre medicina preventiva, parou de comer com restrição de tempo depois de revisar estudos cujas descobertas sugeriram uma falta de benefício além da restrição calórica. Ele também parou com o jejum prolongado depois de perceber a perda muscular.
Nas redes sociais, Jake Boone, ex-ciclista competitivo que mora em Austin, no Texas, costumava ver influenciadores de saúde divulgarem os supostos benefícios do jejum para a saúde mental e física. No ano passado, depois de reduzir os exercícios e ganhar algum peso enquanto sua esposa estava grávida, decidiu tentar e começou a pular o café da manhã.
Em seu primeiro mês, Boone, de 31 anos, perdeu cerca de seis quilos e o exercício começou a parecer mais fácil e eficiente. Mas então, começou a se sentir mais fraco e irritado, e teve várias contusões em rápida sucessão. A fixação que desenvolveu durante o período de seis meses com jejum intermitente parecia um distúrbio alimentar.
“Eu estava ficando muito mal-humorado e um pouco bravo com as pessoas”, diz ele, acrescentando que desistiu da prática depois que sua esposa conversou com ele sobre seu mau humor e sobre hábitos alimentares. “Tomo café da manhã agora e sou uma pessoa melhor por isso.”
A ciência sobre o jejum intermitente ainda está em desenvolvimento. Ela começou com estudos de restrição calórica em animais. Os estudos em humanos são poucos, de curto prazo e muitas vezes limitados a grupos específicos de pessoas, como as diabéticas ou obesas.
Um estudo do Instituto Nacional do Envelhecimento (NIA na sigla em inglês) publicado há vários anos mostrou que o jejum ajudou os ratos a viverem de 11% a 14% mais, mesmo quando suas calorias não eram restritas. Isso alimentou a esperança de que o jejum pudesse ter benefícios para a longevidade, mesmo para pessoas que não restringiam calorias. Mas o que é verdade para os animais pode não ser verdade para os humanos, adverte Rafael de Cabo, pesquisador sênior do NIA que liderou o estudo com camundongos.
Alguns cientistas ainda acreditam que o jejum pode ter benefícios além da perda de peso. Courtney Peterson, pesquisadora da Universidade do Alabama em Birmingham que estuda a alimentação com restrição de tempo, realizou um estudo acompanhando homens pré-diabéticos que comiam a mesma quantidade de comida em horários regulares versus horários de jejum intermitente. O grupo de jejum não perdeu mais peso do que o grupo de controle, mas teve mais melhorias no processamento de glicose e na pressão arterial.
No entanto, os homens em jejum naquele teste comiam no início do dia e paravam às 15h.
Provavelmente há mais benefícios em manter a janela de alimentação mais cedo, não mais tarde, diz ela. “Estamos testando o velho ditado de tomar café da manhã como um rei, almoçar como um príncipe e jantar como um mendigo.”
Escreva para Alex Janin em [email protected]
]]>É importante garantir o conforto, o desempenho e o estilo de um calçado. Mas essas marcas também se inspiraram em um aspecto do manual das marcas de luxo, sendo exigentes sobre onde disponibilizam seus produtos e sobre o ritmo do crescimento.
A Deckers Outdoor, proprietária da Hoka e da Ugg, teve um crescimento saudável em ambas as marcas. As vendas da Ugg, sua maior marca, aumentaram 16% no último ano fiscal e devem crescer mais 7,4% no atual ano fiscal. A receita da Hoka, sua segunda maior marca, conseguiu uma impressionante taxa composta de crescimento anual de aproximadamente 50% nos últimos quatro anos, enquanto sua concorrente, a On, teve um crescimento composto médio de mais de 65% no mesmo período. Espera-se que as receitas da On e da Hoka cresçam cerca de 25% este ano. A marca de sandálias Birkenstock deve aumentar a receita em uma porcentagem de dois dígitos em cada um dos próximos anos.
Analistas do setor dizem que a Deckers se destaca pela maneira meticulosa como aloca o estoque. A empresa aprendeu a lição com as botas Ugg, que eram populares no início dos anos 2000, mas que acabaram decaindo. Em 2016, a empresa tomou a decisão de parar de distribuir por meio de certos varejistas, saindo de cerca de 200 lojas. Deu então preferência de estreitar sua distribuição por meio de parceiros maiores, como Amazon e Macy’s. Esse esforço, juntamente com os badalados lançamentos de oferta limitada de alguns estilos — como as Ultra Mini Platforms — ajudou a aumentar o prestígio da marca.
A Deckers aplicou esses métodos à Hoka, que adquiriu em 2012. A empresa tem apresentado os calçados Hoka aos parceiros de varejo em um “ritmo lento e deliberado” e tem sido exigente quanto às lojas com as quais trabalha, de acordo com Joseph Civello, analista de ações da Truist Securities. A marca também direciona estilos por loja: por exemplo, coloca tênis de desempenho em lojas especializadas em corridas, ao mesmo tempo em que prioriza calçados de estilo moderno em locais como a Foot Locker para atrair os sneakerheads, ou colecionadores de tênis, de acordo com Civello.
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Rival da Hoka, a On, também optou por uma estratégia seletiva, embora tenha cometido alguns erros ao longo do caminho. A empresa parou de vender na ponta de estoque americana de calçados DSW e em lojas que classifica como varejistas de calçados “confortáveis” na Europa, onde a marca não estava atingindo o público certo. Seus atuais parceiros de varejo incluem lojas especializadas em corrida, como Fleet Feet e a loja de departamentos de luxo Nordstrom.
A Birkenstock é outro exemplo: a marca normalmente envia aos varejistas cerca de 75% do que eles gostariam de encomendar, de acordo com uma nota de pesquisa da Evercore. Em uma conferência do setor em setembro, o presidente da Birkenstock Americas, David Kahan, disse que o modelo de escassez impulsiona a “urgência da compra” dos consumidores. “Ninguém está comprando o produto e comparando o preço — [perguntando]: posso comprá-lo mais barato em outro lugar?”, disse ele.
A estratégia seletiva está claramente aparecendo nos resultados financeiros dessas empresas: Deckers Outdoor, On e Birkenstock possuem margens brutas superiores a 55%. As margens brutas de 60% da On estão mais próximas das da gigante de luxo LVMH do que das da Nike.
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Acertar a quantidade de estoque é importante, mas também é importante obter a combinação certa de locais de vendas. Essas marcas teriam mais lucro se começassem a canalizar mais vendas por meio de suas próprias lojas e sites. Mas, como a Nike descobriu da maneira mais difícil, as empresas também podem dar um tiro no pé tentando abandonar os intermediários de modo muito rápido. Startups de tênis como a Hoka provavelmente se beneficiaram da decisão da Nike de sair abruptamente das lojas de varejo, observa Paul Lejuez, analista de ações do Citi. Deckers Outdoor, On e Birkenstock estão aumentando a participação de calçados vendidos diretamente, mas fazem isso aos poucos. Os parceiros de varejo ainda respondem por cerca de 60% das vendas nas três empresas.
O varejo está repleto de casos em que o desejo das marcas por um crescimento rápido saiu pela culatra. A Under Armour, por exemplo, foi alvo de uma investigação contábil há alguns anos, depois de ter sido acusada de tentar inflar os números de vendas trimestrais, pedindo aos varejistas que aceitassem os produtos com antecedência e redirecionando as mercadorias para redes de preços baixos como a T.J. Maxx nos últimos dias de um trimestre. A empresa resolveu essas questões sem admitir ou negar irregularidades. Quer as alegações fossem verdadeiras ou não, a superexposição da Under Armour a vendedores populares barateou a imagem da marca, que ainda está tentando se recuperar.
A VF, que adquiriu a popular marca de streetwear Supreme em 2020, não conseguiu manter a credibilidade desta nas ruas, possivelmente porque disponibilizou produtos demais. Ela vendeu a Supreme para a EssilorLuxottica no início deste ano.
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As empresas de capital aberto têm a tendência de pensar no curto prazo porque estão em dívida com investidores que desejam ver o crescimento trimestre a trimestre. Esse não é o caso dos conglomerados de luxo europeus, que são negociados publicamente, mas ainda são controlados pela família e, portanto, podem frear o crescimento da receita de curto prazo em favor do prestígio de longo prazo.
Para manter a sequência de sucesso, os investidores dessas marcas de calçados populares podem precisar adotar a paciência das famílias de conglomerados de luxo.
Escreva para Jinjoo Lee em [email protected]
]]>Muitos dos partidários de Trump falam em eliminar a burocracia do “estado dentro do estado”, começando por mudar o contrato dos funcionários públicos seniores de acordo com a vontade do presidente. O serviço público certamente precisa de uma reforma — como Paul Volcker, ex-presidente do Federal Reserve, defendeu durante décadas — para estabelecer a responsabilidade de cima para baixo. A questão, entretanto, não é aterrorizar os funcionários públicos, mas sim incutir a confiança de que todos serão tratados da mesma forma. Uma prestação de contas quase nula é como despejar ácido sobre a cultura pública, corroendo a confiança e o orgulho.
O instinto de Trump de expurgar os burocratas recalcitrantes é compreensível e, às vezes, justificado, mas a nova estrutura do serviço público deve ser projetada para inspirar responsabilidade e agilidade. Isso exigirá que o presidente e seu novo departamento não apenas reduzam a burocracia, mas também protejam os funcionários de acusações quando tomarem decisões que inevitavelmente ofendam algum grupo. O medo é uma receita para a paralisia, não para os resultados.
O maior ganho da reforma viria da eliminação da máquina enferrujada que tritura as escolhas públicas durante anos de reuniões e verificações. O que essa máquina geralmente produz são compromissos fracos, e a ineficiência e o desperdício são notórios. A aquisição de sistemas de defesa e de tecnologia da informação nos termos da Lei Federal de Governança, por exemplo, é ridiculamente ineficaz e cara. Michael Mazarr, da RAND, documentou como a aquisição de defesa é “atormentada por dezenas de requisitos de programas que impõem anos de atraso”. Os custos excedentes atuais são estimados em meio trilhão de dólares.
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A modernização da infraestrutura requer anos de revisão e reuniões entre agências, muitas vezes seguidas de anos de litígio. Os projetos que sobrevivem a esse desafio custam mais do que o dobro e, muitas vezes, são redesenhados de forma a agradar às partes interessadas. Um exemplo: Em 2021, o Congresso alocou US$ 42,5 bilhões para fornecer cobertura de banda larga para “áreas não atendidas”. Três anos depois, nenhum projeto foi construído.
A supervisão regulatória em áreas como segurança do trabalho e privacidade da saúde tem como objetivo a conformidade irracional, não evitar danos ao público. A segurança do trabalhador é mais bem alcançada por meio do treinamento dos funcionários e da promoção de uma cultura de segurança no local de trabalho, e não por meio de uma documentação perfeita ou da conformidade com milhares de regulamentações, muitas vezes tangenciais. O trabalho dos prestadores de serviços de saúde deve se concentrar no atendimento ao paciente, não na burocracia da privacidade.
O governo é uma máquina gigantesca da Era Industrial com novas extrusoras legais adicionadas todos os anos – neste momento, composta por cerca de 150 milhões de palavras de leis e regulamentações obrigatórias. As reformas recentes que limitam o tempo e a duração dos processos de revisão ambiental não funcionam porque entram em conflito com inúmeras exigências – por exemplo, minimizar os danos a espécies ameaçadas e edifícios históricos, consultar nativos americanos a milhares de quilômetros de distância, dar preferência a empresas de propriedade de minorias e muito mais.
Essa máquina produz as decisões ruins que ela foi ostensivamente projetada para evitar. A solução não é lubrificar a máquina ou reorganizar suas peças, mas substituí-la por uma estrutura do século XXI que permita decisões flexíveis e transparentes.
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A burocracia deve dar lugar à responsabilidade humana. Estruturas mais simples permitiriam que os funcionários fizessem concessões inevitáveis necessárias para atingir as metas públicas. Isso não é radical – é assim que qualquer empreendimento humano bem-sucedido funciona. Tampouco exige que se confie nos funcionários para que façam a coisa certa. A única condição necessária é que todos na hierarquia devem ser responsáveis.
Desde a década de 1980, a linha de batalha partidária tem sido entre desregulamentação e mais regulamentação. Mas as falhas do governo moderno são principalmente falhas de implementação. Em vez de ficar atolado em brigas sobre o escopo da regulamentação, a oportunidade para uma comissão de eficiência é consertar o que Marc Dunkelman, da Brown University, chama de estruturas operacionais “autenticamente incompetentes” de Washington.
O imperativo não é apenas evitar o desperdício e a ineficiência. Consertar o governo pode ser a chave para o nosso futuro. Os Estados Unidos não podem ser fortes no exterior se não forem capazes de modernizar a infraestrutura, adquirir os navios e a tecnologia necessários em tempo hábil, consertar escolas quebradas ou reduzir a burocracia que sufoca a iniciativa americana. Esse deveria ser o mandato dos Srs. Musk e Ramaswamy: não para prejudicar o governo, mas para fazê-lo funcionar novamente.
]]>Muitos governos veem a eficiência energética como uma estratégia-chave para a descarbonização da economia. De fato, sob o acordo climático de Paris, alguns cenários assumem que a eficiência pode reduzir as emissões em até 40%.
Para os formuladores de políticas, a suposição é clara: melhorar a eficiência reduzirá o consumo de energia, o que, por sua vez, reduz as emissões de gases de efeito estufa. E muitas organizações proeminentes apoiam essa suposição.
Porém, é possível que as estratégias que dependam fortemente da eficiência energética para reduzir as emissões sejam apostas ruins. Dados históricos mostram que o aumento da eficiência energética andou de mãos dadas com o aumento do consumo de energia no longo prazo, e não com a diminuição. Por isso, eu diria que qualquer abordagem de descarbonização que não leve isso em consideração corre o risco de dar errado.
A ideia de que mais eficiência pode gerar mais consumo em vez de menos é conhecida como Paradoxo de Jevons. Batizado em homenagem ao economista britânico William Stanley Jevons — que descreveu o dilema, em seu livro de 1865 “The Coal Question” —, o paradoxo desafia a crença intuitiva de que os ganhos de eficiência levam automaticamente à economia de energia.
Os críticos que descartam a ideia de Jevons geralmente se concentram no comportamento do consumidor. Por exemplo, é difícil imaginar que um motorista dirigiria 50% mais quilômetros se comprasse um carro que gasta 50% menos combustível por quilômetro. Eles podem dirigir um pouco mais, mas não seria o suficiente para fazer a diferença.
Contudo, quando você analisa a economia global, vê que a indústria reage de maneira muito diferente ao aumento da eficiência. Empresas mais eficientes geram maiores lucros, o que leva a mais investimento, mais produção e, crucialmente, maior consumo de energia para apoiar a ampliação da produção de alimentos e da população. A eficiência torna economicamente viável extrair e consumir recursos energéticos mais difíceis de alcançar, como o petróleo da fratura hidráulica ou o vento de áreas onde venta pouco, o que alimenta a produção de mais máquinas, veículos e processos industriais.
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Considere estas duas perguntas:
Primeira: desenvolvemos continuamente máquinas e processos mais eficientes em termos de energia? A resposta é sim.
Segunda: o consumo global de energia continuou a aumentar junto com esse aumento na eficiência? Novamente, a resposta é sim, inequivocamente nos últimos dois séculos.
Esses dois pontos geralmente ajudam os céticos a entender o paradoxo. Embora a eficiência não seja a única impulsionadora do crescimento econômico, ela tem um papel significativo.
O verdadeiro desafio surge quando a eficiência energética é a única proposta apresentada como uma solução climática para toda a economia. Quando os formuladores de políticas usam a eficiência como pedra fundamental da política ambiental sem reconhecer seu impacto econômico mais amplo, eles constroem suas estratégias com base em suposições imperfeitas.
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Felizmente, pesquisas recentes estão começando a avaliar adequadamente a relação entre energia, eficiência e crescimento. Estudos mostram que “efeitos rebote em toda a economia” podem corroer mais da metade da economia de energia prevista com melhorias de eficiência, prejudicando sua eficácia como estratégia de mitigação climática. Minha própria pesquisa mostra que leva cerca de seis anos, em média, para que as melhorias na eficiência energética levem a um maior consumo geral de energia. Além disso, um crescente corpo de trabalho sugere que a “produtividade” econômica pode ser explicada em grande parte por ganhos na eficiência energética.
Se o crescimento é o objetivo e você deseja estimulá-lo, continue promovendo o investimento em eficiência energética sem outras políticas para restringir os lucros e o investimento. Mas se o objetivo é equilibrar o crescimento com menores emissões de gases de efeito estufa, você precisa direcionar os investimentos para tecnologias de pouca emissão e para longe de tecnologias alta emissão, penalizando as emissões. Afinal, uma razão para os governos incentivarem a captura e armazenamento de carbono em usinas de combustíveis fósseis é que o processo químico de captura indefinida de CO2 direciona parte da energia para longe da geração de eletricidade, reduzindo assim a eficiência.
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A eficiência energética é uma tática valiosa para melhorar o bem-estar, expandindo o acesso aos serviços de energia. No entanto, devemos enfrentar suas consequências não intencionais. Ao não levarmos em conta o efeito rebote, corremos o risco de “nos surpreendermos” com o fato de que a eficiência acaba gerando mais emissões. As conclusões de Jevons, com mais de 150 anos, ainda são válidas hoje. É hora de incorporá-las em estratégias climáticas que reduzam genuinamente as emissões — antes que outros 150 anos passem.
Escreva para [email protected].
]]>O ar sob o solo é quente, úmido, às vezes tóxico, e o trabalho é perigoso — defender passagens claustrofóbicas contra explosivos e tiros de rifles AK-47. No ano passado, dois guardas foram mortos e vários outros ficaram feridos. Do outro lado, enfrentando seus próprios perigos, há cerca de dois mil mineiros ilegais.
A escala da pilhagem é impressionante. A proprietária da mina, a empresa estatal chinesa Zijin Mining Group, estimou que no ano passado perdeu mais de 3,2 toneladas de ouro no valor de cerca de US$ 200 milhões, o equivalente a 38% da produção total da mina. A mineração ilegal, um processo lento e trabalhoso que continua em grande parte sem policiamento pelas autoridades, é uma guerra que “está sendo perdida”, disse um oficial de segurança da Zijin.
Mineiros ilegais nas minas da Zijin e em outras partes da Colômbia obtêm acesso, proteção e equipamentos do Clã do Golfo, milícia armada de cerca de sete mil homens que transporta cocaína e migrantes ao longo de rotas que chegam aos Estados Unidos. O grupo garante acesso clandestino aos túneis da empresa em troca de uma parte do espólio.
A mineração ilegal de ouro na América do Sul se expandiu nos últimos anos, segundo autoridades do governo, impulsionada pelo preço recorde do metal, que subiu 30% este ano, para cerca de US$ 2.600 a onça troy. Os garimpeiros trazem dragas e escavadeiras pelas selvas, provocando conflitos com grupos indígenas locais, e usam mercúrio para separar o ouro da rocha, poluindo áreas da floresta Amazônica em vários países.
Como mostra a história, a atração do ouro pode ser irresistível. Alguns dos mineiros invasores da Colômbia conseguem US$ 5 mil ou mais em ouro por mês, uma soma quase igual ao que executivos de negócios ganham. Desde 2019, cerca de 18 mineiros ilegais morreram em acidentes na mina Zijin, disseram funcionários da empresa.
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“Os salários são muito bons, mas você arrisca tudo”, disse Erik Dubier, mineiro ilegal de 22 anos. “Você pode ficar preso. Há deslizamentos de pedras e combates todos os dias.”
A Zijin Mining, que opera em todo o mundo, entrou com uma ação de US$ 430 milhões no Centro Internacional para a Resolução de Disputas sobre Investimentos do Banco Mundial, alegando que as autoridades colombianas não estão fazendo seu trabalho. A Zijin estima que os garimpeiros ilegais controlam mais de 60% de seus túneis de mineração nas montanhas ao redor de Buriticá, a duas horas de carro de Medellín.
A empresa comprou a mina em 2020 da canadense Continental Gold por US$ 1 bilhão, parte do esforço global de Pequim para ter acesso a metais preciosos. Leizhong Li, CEO da empresa, disse que as incursões violentas se tornaram uma ameaça diária — com pouca ajuda governamental.
“Tentamos falar com o governo durante todo o ano passado, mas não vimos muita disposição”, disse Li. A empresa estimou que a Colômbia perdeu o equivalente a US$ 100 milhões em impostos e royalties no ano passado.
Daniela Gómez, vice-ministra da Defesa, disse que o país não tem capacidade para expulsar os mineiros clandestinos do “teatro subterrâneo de operações”. O governo, segundo ela, quer evitar confrontos violentos que possam colocar civis em perigo.
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“As exigências feitas pela empresa não são realistas”, disse Gómez. A Zijin comprou a operação da mina de ouro “sabendo que havia extração ilegal de minérios”, disse ela.
Nos últimos quatro anos, os mineiros ilegais construíram uma rede de túneis tão vasta que os engenheiros da Zijin disseram que a montanha começou a se parecer com queijo suíço, entrecortada por passagens improvisadas e túneis que partem de cerca de 380 entradas acima do solo. O Clã do Golfo oferece cama, cozinha, banheiro e segurança.
A gangue também providencia profissionais do sexo, maconha e outras drogas aos mineiros durante temporadas de uma semana. “Tem de tudo lá”, contou Dubier.
Mineiros ilegais entram na mina Zijin a partir de uma série de pequenas casas em uma montanha que abriga uma das maiores jazidas de ouro da América Latina.
Eles usam cargas explosivas e brocas para abrir o chão do banheiro e perfurar centenas de metros de pedra e argila. Centímetro por centímetro, escavam passagens para chegar aos túneis da Zijin.
Combatentes da milícia forçam a retirada das forças de segurança da empresa com explosivos e tiros, cenário que um trabalhador da empresa descreveu como guerra de trincheiras. A Zijin disse que não consegue manter a posse dos túneis, um recuo que põe em risco o futuro de sua concessão da mina de ouro.
“Isso acontece todos os dias”, disse Li sobre os confrontos subterrâneos. A empresa estimou que teve que abandonar cerca de 40 toneladas de ouro nas áreas tomadas pelo Clã do Golfo e pelos mineradores ilegais.
Gómez, a vice-ministra da Defesa, descreveu os obstáculos legais para revistar casas e prender mineiros. “Posso ir a Buriticá amanhã e prender 300 pessoas”, disse ela. “O juiz vai liberá-las à noite.”
Em uma recente visita aos túneis subterrâneos, o oficial sênior de segurança da Zijin na mina mostrou a parede de sacos de areia que separava as operações da empresa dos invasores, que trabalhavam a menos de cem metros de distância. As vozes dos mineiros cortavam a escuridão.
“Toda a mineração daqui para lá foi perdida”, disse ele, apontando para as luzes distantes onde os mineiros ilegais trabalhavam. “Eles avançam progressivamente e se apropriam das áreas.”
Os mineiros costumam tomar os túneis da Zijin primeiro jogando explosivos e atirando nos guardas, disse o oficial de segurança. Eles usam brocas e promovem até 250 detonações por dia para romper a rocha. Seu avanço custou à Zijin duas das três seções da mina.
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A parte mais rica e profunda da mina de ouro permanece nas mãos da empresa. A Zijin tem cerca de 4.500 trabalhadores lá e em centros de processamento. A empresa escava cerca de quatro mil toneladas de rocha por dia, o que rende uma média de 24 quilos de ouro.
“É um problema tremendo”, disse Javier Sarmiento, investigador que monitora problemas nas minas de Buriticá para o Gabinete do Inspetor-Geral da Colômbia, uma agência estatal.
Executivos da Zijin disseram que a batalha clandestina piorou após a eleição do presidente esquerdista Gustavo Petro em 2022. Governos anteriores receberam bem as empresas de mineração estrangeiras, incluindo a Zijin. Mas Petro e seus ministros criticam a mineração em grande escala, dizendo que querem mudar a economia para indústrias sustentáveis como o cultivo de abacate e o turismo.
O governo da Colômbia diz que o país precisa transformar a economia de Buriticá para que os cidadãos tenham a opção de melhores empregos. As autoridades dizem que querem abrir caminho para que os mineiros ilegais formem cooperativas legais para administrar pequenas minas. Algumas autoridades sugeriram que a Zijin abrisse mão de partes de suas propriedades em nome dos invasores, em uma tentativa de paz.
“Em algumas áreas dessa concessão não há exploração, não há atividade”, disse Luis Álvaro Pardo, presidente da Agência Nacional de Mineração. “Então, dizemos: ‘Zijin, ceda algumas partes.”
O governo anterior tinha políticas mais agressivas contra grupos armados, afirmou Li, o CEO da empresa. Em 2016, a Colômbia lançou a Operação Creta, que fechou mais de 250 passagens ilegais para a mina ao longo de quatro anos.
A Zijin disse que a Colômbia precisa fechar novamente as rotas usadas por criminosos que roubam o ouro da empresa. “Achamos que a política não é favorável à mineração e às multinacionais”, disse Li. “Como as autoridades podem ignorar a situação e não agir?”
O Gabinete do Inspetor-Geral do Estado pediu ao governo que desenvolva um plano de ação para impedir o roubo, disse Sarmiento. O pedido não foi atendido. “Tem muito a ver com política”, disse ele. “A chegada deste novo governo parece não ter sido favorável à situação.”
O brigadeiro-general William Castaño, que supervisiona uma equipe policial designada para a mina, disse que suas forças confrontam regularmente mineiros ilegais. “Há intervenções quase todos os dias”, afirmou ele.
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Sarmiento e os executivos da Zijin disseram que o Estado deveria tentar cortar a eletricidade que alimenta as perfuradoras usadas pelos ilegais. Eles disseram que a polícia e as tropas destacadas em Buriticá poderiam inspecionar os veículos que trafegam na única estrada que leva à mina. Os veículos transportam equipamentos e suprimentos e saem carregados com minério de ouro roubado, de acordo com executivos da Zijin.
“Isso é pura falta de controle das autoridades”, disse Sarmiento.
Milhares de mineiros vieram de outras partes da Colômbia e da vizinha Venezuela em busca de fortuna. Alguns saíram dos túneis da Zijin para depósitos de ouro em La Centena, mina a poucos quilômetros de distância. Esses mineiros negam a alegação da Zijin de que estariam roubando ouro da empresa.
Recentemente, Andres Rave, mineiro mais velho de La Centena, caminhava pela água e pela lama acumulados no chão de um dos túneis de La Centena. Ele e um punhado de outros colegas abriram passagens que se estendem por centenas de mentros montanha adentro.
Com a luz de seu capacete iluminando rochas coloridas e escarpadas, Rave passou a mão ao longo de uma camada distinta de minerais. “Este veio que corre aqui”, disse ele, “é o que contém o ouro”.
Partículas de poeira flutuavam no ar. Rochas caíam das paredes e do teto dos túneis. Duber Antonio Quiros não prestou muita atenção nisso. Ele e outros mineiros trabalhavam para reforçar túneis da altura de um homem com vigas de madeira. Os mineiros comerciais usam equipamentos de perfuração para construir túneis escorados em aço e concreto. Alguns são grandes o suficiente para caminhões.
“Nós, pequenos mineradores, não temos a tecnologia das grandes empresas”, disse Quiros. “Mas isso entra no seu sangue e se torna sua paixão.”
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