Uma seleção semanal do jornalismo mais prestigiado do mundo
Presented by

Glencore se mantém no carvão e sinaliza inflexão ESG

CEO da mineradora diz que “dinheiro é rei”, agora que acionistas pressionam para manter o combustível fóssil

Por Joe Wallace The wall street Journal
Publicado em
6 min
traduzido do inglês por investnews

A Glencore abandonou um plano de desmembrar seu negócio de carvão depois que os acionistas a encorajaram a continuar minerando o combustível fóssil no mais recente sinal de que a mania de investimento sustentável do mundo financeiro está fracassando.

A Glencore, listada em Londres, uma das maiores produtoras mundiais de carvão térmico gerador de eletricidade, disse que pediu a opinião sobre a cisão aos investidores com dois terços das ações com direito a voto. Daqueles que expressaram preferência, mais de 95% queriam que a Glencore mantivesse sua unidade de carvão na empresa principal.

Não foi divulgado quantos acionistas foram ouvidos ou se o ex-presidente-executivo Ivan Glasenberg, o maior acionista da empresa e defensor de longa data do carvão, estava incluído.

LEIA MAIS: Rio Tinto vai começar a explorar a mina de minério de ferro de Simandou – um desafio à Vale

As ações da Glencore, que registraram prejuízo líquido de US$ 233 milhões no primeiro semestre de 2024, subiram 2,4%. A medida de lucro preferida da empresa, que exclui degradação e outros fatores pontuais, mostrou lucros de US$ 6,3 bilhões, uma queda de um terço em relação ao mesmo período de 2023, refletindo uma queda no preço da commodity.

O carvão sempre foi um pilar dos negócios da Glencore, mas a empresa sinalizou que acabaria se livrando de suas minas e dobrando o fornecimento de metais e minerais necessários para veículos elétricos.

A reviravolta mostra como o investimento em práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) perdeu força desde que decolou nos primeiros dias da pandemia de Covid-19, quando bilhões de dólares foram despejados em fundos que direcionavam dinheiro com base em credenciais de sustentabilidade, e os executivos-chefes exibiam sua ética.

No final do ano passado, os acionistas da Glencore apoiaram o plano de dividir a unidade de carvão da empresa e listar suas ações em Nova York. Explicando a mudança de planos na quarta-feira (7), o CEO Gary Nagle mencionou a politização do investimento ESG nos EUA, além da diferença na atitude sobre o ritmo de mudança de combustíveis fósseis para fontes de energia mais limpas.

O “pêndulo ESG foi para outro lado nos últimos nove ou 12 meses”, disse Nagle. “Você viu como alguns dos estados dos EUA reagiram a algumas das narrativas ESG.” Enquanto isso, disse ele, há uma percepção crescente de que os combustíveis fósseis continuarão alimentando o mundo durante a transição energética.

Além disso, acrescentou, os acionistas “ainda reconhecem que o dinheiro é rei, além do fato de que esses negócios geram enormes quantias de dinheiro”.

Uma reação política contra o ESG, liderada por republicanos como o governador da Flórida, Ron DeSantis, que classificou o movimento como “capital woke”, levou a uma reconsideração em Wall Street e nas salas de reuniões. O fato de as altas taxas de juros terem afetado as ações de empresas de energia limpa dependentes de financiamento barato não ajudou, enquanto os combustíveis fósseis produziram dinheiro quando a invasão da Ucrânia elevou os preços do petróleo, gás natural e carvão.

O CEO da BlackRock, Larry Fink, tendo feito uma cruzada para que fundos de investimento e empresas levassem em consideração fatores ESG ao tomar decisões, tornou-se alvo de críticas e excluiu a sigla de seu vocabulário.

Apesar dos esforços internacionais para afastar a economia mundial do carvão, o combustível fóssil mais poluente, ele foi mais usado do que nunca no ano passado, liderado pelo crescimento na China e na Índia. No primeiro semestre deste ano, a Glencore garantiu mais de US$ 10 bilhões em receita de suas operações de mineração de carvão e mais de US$ 62 bilhões através de sua comercialização. Do lado comercial, isso foi maior do que os US$ 41 bilhões em receita de metais e minerais.

LEIA MAIS: China, pressão do governo e indenizações: entenda as pedras no sapato da Vale

Durante anos, a Glencore se destacou por argumentar que era do interesse de seus acionistas e do planeta que a empresa exaurisse suas minas de carvão sem vendê-las. Em contraste, a rival Anglo American desmembrou seu negócio de carvão na África do Sul em 2021. Em um sinal de seu compromisso com o carvão, a Glencore contratou Nagle, que começou na divisão de carvão, para substituir Glasenberg, que se aposentou como CEO naquele ano.

A Glencore mudou de rumo em 2023 quando fez uma oferta pela mineradora canadense Teck Resources. Na época, a Teck havia embarcado na venda de sua unidade de carvão siderúrgico e não queria expor seus acionistas ao enorme negócio de carvão térmico da Glencore. Para tentar fechar o negócio, a Glencore disse que se uniria à Teck e criaria duas empresas separadas, uma para metais e outra para carvão.

A Glencore falhou em sua proposta com a Teck. Mas conseguiu uma participação de 77% na unidade de carvão da empresa canadense por US$ 6,9 bilhões em um acordo fechado em novembro passado. Na época, a Glencore disse que ainda planejava vender o negócio combinado de carvão. Em março, porém, a mineradora com sede na Suíça declarou que consultaria os acionistas sobre a decisão, o que fez recentemente.

A Glencore não está apenas perseverando no carvão, mas também pode comprar mais — mas da variedade siderúrgica, não térmica. Nagle descreveu o combustível como uma “commodity que permite a transição” visto como um “mineral crítico” em partes do mundo. “Não há razão para não considerarmos aquisições adicionais de carvão siderúrgico”, garantiu ele.

Escreva para Joe Wallace em [email protected]

traduzido do inglês por investnews