O que você precisa para não checar o celular o tempo todo? Uma bolsa com cadeado
A Yondr vende bolsas para trancar telefones em escolas, shows ou qualquer lugar em que uma espiadinha é irresistível
Chegou a este ponto: não temos força de vontade para ficar longe de nosso telefone e precisamos de barreiras físicas para nos impedir de usá-lo. Entra a Yondr, fabricante de bolsas para trancar celular.
Em escolas, clubes de comédia, shows e outros locais, as bolsinhas servem como uma barreira entre as pessoas e a tela, sem que seja preciso entregar o celular na entrada.
As escolas têm dificuldades com as crianças que não conseguem largar o TikTok e o YouTube, e que não têm habilidades sociais presenciais. Os músicos querem que o público se concentre neles. Os comediantes querem acabar com o roubo de piadas ou, pior ainda, com a possibilidade de uma piada ruim viralizar.
Cerca de 25 mil pessoas trancaram seus telefones em bolsas Yondr em shows no ano de 2015, pouco após o lançamento, diz a empresa. Em 2022, foram seis milhões. Neste ano, o número de usuários deve ultrapassar os dez milhões.
Veja como funciona: assim que as pessoas chegam a um show e apresentam seu ingresso, funcionários da Yondr ou do local pedem que silenciem seus telefones e os coloquem em bolsas Yondr. Os funcionários fecham as bolsas e as pessoas as levam para dentro.
Os dispositivos ainda podem receber chamadas e mensagens, mas para verificá-las, as pessoas precisam sair do local ou ir a uma área isolada para o uso do telefone para que a bolsa seja aberta. Após o evento, os funcionários abrem e recolhem rapidamente as bolsas à medida que as pessoas vão saindo.
A abordagem é uma mudança na plateia dos shows — uma multidão de pequenas luzes de celular em um estádio escuro — já que muitas estrelas, como Taylor Swift, permitem que os fãs usem seus telefones. Vídeos de fãs postados on-line aumentam a divulgação de seus shows.
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Andy Derer, dono de uma loja de discos de 40 anos em Westmont, em Illinois, fica irritado quando vai a shows onde todos estão usando o celular o tempo todo. Ele prefere quando as pessoas tiram uma ou duas fotos e depois o guardam.
Quando foi a um show alternativo sem telefone há alguns anos e os dispositivos de todos estavam escondidos em bolsas Yondr, a experiência foi agradável.
“Definitivamente houve um período em que pareceu um pouco estranho, mas aos 30 minutos do show eu diria que esqueci totalmente disso”, diz Derer. “Na verdade, você não precisa ter suas fotos, seu próprio vídeo, coisas assim.”
Duas escolas em Torrington, em Connecticut, começaram a usar bolsas Yondr há alguns anos, pagando US$ 60 mil para usá-las com cerca de dois mil alunos.
“Achamos que o retorno do investimento vale a pena”, diz o superintendente Michael Wilson. Mais alunos conversam entre si no refeitório e nos corredores, já que não podem se refugiar nas redes sociais ou na música durante os momentos de inatividade, explicou ele.
Zonas sem telefone
Quando Graham Dugoni fundou a Yondr há uma década, a Oxford University Press tinha acabado de eleger “selfie” como a palavra do ano. O Instagram ainda não tinha o Reels e o TikTok não existia.
Dugoni estava na casa dos 20 anos, entre empregos e morando em San Francisco, quando notou quantas pessoas estavam grudadas no celular durante apresentações ao vivo. Ele temia que as gerações futuras não soubessem como existir sem seus dispositivos móveis e queria fazer algo a respeito.
“Qual seria a experiência para os jovens, andando pelo mundo com um computador no bolso?”, diz Dugoni, hoje com 37 anos.
Ele passou seis meses adaptando uma bolsa que dificultaria o acesso ao celular, mas que fosse fácil de trancar e destrancar. Optou por um material semelhante ao Neoprene, com um mecanismo de travamento controlado por ímã. Escolheu esse nome, diz, porque evoca uma sensação de viver o momento: “As pessoas perguntam: ‘O que está acontecendo ali (yonder)?’. Bem, você tem que estar lá para saber.”
Dugoni viajou pela Califórnia pedindo a escolas e casas de shows para experimentar as bolsas. Seu primeiro cliente foi um bar de motociclistas em Oakland que queria impedir que os clientes gravassem um show de comédia.
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Preservando as piadas
O comediante Dave Chappelle, em 2015, se tornou o primeiro grande artista a usar as bolsas Yondr. Os músicos podem tocar suas músicas repetidamente, mas os comediantes não podem continuar contando piadas antigas. Eles não querem que suas piadas se desgastem nas redes sociais. Além disso, os clubes de comédia são onde eles testam novos materiais que podem não ser engraçados.
Alguns participantes dos primeiros shows de Chappelle em que as bolsas foram usadas tinham sua própria opinião: um fã foi flagrado com o celular após contrabandeá-lo na cueca e acabou sendo levado para fora, conta Dugoni.
Satisfeito com o sucesso das bolsas, Chappelle continua a usá-las em todos os seus shows, afirmou Carla Sims, porta-voz do comediante.
O diretor de segurança da comediante Wanda Sykes, Dontae R. Cunningham, tem um ditado sobre celulares durante os shows: “Se brilhar, vai para fora.” Os funcionários da Yondr trancam os telefones da audiência nos shows de Sykes há cinco anos. As explicações dadas incluem: “ela está trabalhando em material novo” ou “você será o primeiro a ver o que ela está preparando para filmar na Netflix”.
Os preços variam: as escolas pagam US$ 30 por aluno no primeiro ano e podem comprar material adicional conforme necessário; artistas, como Sykes ou Chappelle, e casas de shows podem alugar as bolsas e reservar funcionários da Yondr para eventos.
Cerca de 40% da receita da Yondr veio das escolas em 2023, e espera-se que chegue a 70% até o final deste ano, diz uma porta-voz. No final de 2023, mais de um milhão de alunos estavam usando bolsas Yondr em 21 países, diz a empresa.
A concorrência não é acirrada, embora, fora dos EUA, negócios semelhantes estejam prosperando. A Phone Locker, fundada na Austrália em 2020, ganhou um impulso quando seu país de origem proibiu dispositivos móveis em escolas públicas no final do ano passado. A empresa diz que vendeu 50 mil bolsas na Austrália nos seis meses até março e opera em outros oito países — mas não nos EUA.
Apertando botões
Algumas pessoas acham que trancar seus dispositivos pode causar uma sensação de ansiedade. Chris Marshall gastou mais de US$ 2 mil em voos e ingressos VIP para assistir a um show de Garth Brooks no Caesars Palace, em Las Vegas, há um ano, antes de saber que o evento não permitiria celulares.
Sua esposa, que tem diabetes tipo 1, usa o celular para monitorar o açúcar no sangue.
“Eu diria que há menos de 33% de chance de termos ido nessa viagem se soubéssemos de antemão que não poderíamos levar nosso telefone para o show”, diz Marshall, de 52 anos.
Durante o show, Marshall várias vezes verificou sua esposa para se certificar de que ela estava bem. O barulho dificultou ouvir se o telefone estava recebendo algum alerta crucial. Tudo deu certo no final, mas o casal de Churchill, no Tennessee, ficou aliviado quando desbloquearam as bolsas após o show.
As políticas de shows sem telefone aparecem no topo da página do evento da Ticketmaster, disse um representante da Caesars Entertainment.
Vídeos on-line mostram aos alunos como contornar as fechaduras da Yondr com tesouras ou ímãs.
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A empresa diz que está sempre procurando melhorar o design e a durabilidade das bolsas. Também visa educar pais e alunos sobre as expectativas de uso do celular das escolas para criar um ambiente onde as crianças não quebrem as regras.
Alguns lugares preferem proibir o uso do telefone à moda antiga: o sistema de honra. A rede de cinemas Alamo Drafthouse proibiu mensagens de texto em 2007 e ainda aplica a regra.
“Isso se tornou cada vez mais difundido com o advento do iPhone”, diz Tim League, cofundador da rede. As telas eram mais brilhantes e distraíam outros espectadores, acrescentou.
A pessoa recebe uma advertência verbal para guardar o telefone antes de ser expulsa. Mesmo com o mau comportamento nos cinemas se tornando mais difundido, League diz que a Alamo não planeja usar bolsas com fechadura.
Uma nova realidade
Antes de um tribunal de Wichita, no Kansas, começar a usar a Yondr em junho passado, alguns réus enviavam mensagens, às vezes ameaçadoras, durante as sessões, diz Nathan Emmorey, administrador judicial.
A cidade aluga cem bolsas Yondr e exige que autores, réus, testemunhas e observadores tranquem seus dispositivos ao entrar em uma sala de audiência. Emmorey esperava resistência, mas os presentes respeitosamente concordaram.
“As pessoas seguram o celular como meus filhos seguram seu brinquedo preferido”, diz Emmorey. “Você vê as pessoas segurando o aparelho quase como um dispositivo de segurança, como um ursinho de pelúcia ou um cobertorzinho.”
Dugoni, da Yondr, está animado com a expansão para os tribunais, mas diz que o foco da empresa são os jovens. Os pais dizem a ele que o tempo livre de telefone de seus filhos na escola os estimulou a usar menos o telefone em geral.
“Esse é o nosso objetivo, ajudar os jovens a estabelecer o que isso significa para eles — não contando a eles, mas mostrando”, diz Dugoni. “Então, podem fazer suas próprias escolhas.”
Escreva para Cordilia James em [email protected]
traduzido do inglês por investnews