O seu peso é saudável? O IMC sozinho não pode responder a essa pergunta
Os médicos estão repensando o uso do famoso índice que você provavelmente já calculou
O índice de massa corporal (IMC) é o cálculo mais usado para avaliar se o peso corporal está saudável e ajuda a determinar se a pessoa necessitaria utilizar os tão procurados medicamentos para perda de peso GLP-1, como o Ozempic. Mas esse índice é impreciso — na melhor das hipóteses –, e enganoso na pior, afirmam os médicos.
O IMC é uma relação entre altura e peso usada para classificar as pessoas como tendo um peso saudável, sobrepeso ou obesidade. Uma de suas maiores falhas é que ele não distingue entre dois tipos de gordura — subcutânea e visceral — nem identifica onde nossa gordura está localizada. Essa informação é essencial para entender não apenas o tamanho de alguém, mas principalmente a sua saúde.
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A gordura visceral, que tende a se concentrar profundamente na região abdominal ao redor de órgãos importantes e que leva ao ganho de peso ao redor da barriga, é o tipo de gordura mais preocupante. Ela influencia o risco de desenvolver problemas como aumento da glicose no sangue e da pressão arterial, que aumentam as chances de doenças cardíacas e diabetes tipo 2. A gordura subcutânea, que é a gordura que você pode beliscar logo abaixo da pele, é menos prejudicial à sua saúde.
O IMC também não distingue entre músculo e gordura, nem leva em conta as diferenças entre pessoas de diferentes gêneros, raças e idades.
“Só porque alguém é mais leve não significa que seja saudável”, diz Fatima Cody Stanford, professora associada de medicina e pediatria na Escola de Medicina de Harvard e médica da obesidade no Centro do Peso do Hospital Geral de Massachusetts. “E só porque alguém é mais pesado não significa que não seja saudável.”
Os limites do IMC
O IMC originou-se em 1800, quando um cientista belga usou dados de homens europeus para chegar a pesos corporais médios. Em 1972, Ancel Keys, fisiologista americano que estudou o impacto da dieta na saúde, avaliou o IMC e várias outras fórmulas e concluiu que o índice era o melhor entre eles, diz George Bray, pesquisador de obesidade e professor emérito do Centro de Pesquisa Biomédica Pennington em Baton Rouge, na Louisiana.
A métrica foi criada para dados em nível populacional, dizem médicos e pesquisadores, pois é útil para rastrear a obesidade em grandes grupos de pessoas.
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Para os indivíduos, porém, o IMC é mais útil quando analisado em combinação com outras métricas, como pressão arterial, níveis de açúcar no sangue e colesterol, dizem os médicos.
“É um único número e nenhum número único vai abranger a situação total de saúde de uma pessoa”, afirma Wajahat Mehal, professor da Escola de Medicina de Yale e diretor do Programa de Perda de Peso de Yale. “As pessoas dão muita ênfase a ele.”
Outras métodos
Existem alguns testes mais sofisticados e precisos que podem medir a porcentagem de gordura corporal e dizer quanta gordura visceral versus subcutânea você tem. Essas ferramentas incluem ressonância magnética e DEXA — exame de composição corporal. Mas esses testes não são práticos para uso amplo porque são caros, e o DEXA expõem as pessoas a pequenas quantidades de radiação.
Alguns consultórios médicos também possuem balanças de bioimpedância elétrica, que medem a composição corporal enviando uma pequena corrente elétrica pelo corpo. Mas sua confiabilidade varia e mais estudos são necessários antes de serem amplamente utilizados, afirmam os médicos.
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Uma maneira melhor e mais realista de avaliar a saúde do peso é usar uma fórmula que leve em consideração a circunferência da cintura. Isso dá uma noção melhor dos níveis de gordura visceral, porque esta tende a se acumular na região abdominal.
Alguns médicos propuseram o uso de uma proporção de circunferência cintura-quadril como alternativa. Esse cálculo pode prever melhor a saúde metabólica do que o IMC, mas sua desvantagem é que é difícil medir com precisão, diz Mitchell Lazar, diretor do Instituto de Diabetes, Obesidade e Metabolismo da Universidade da Pensilvânia.
A melhor maneira de medir a obesidade é um cálculo comumente usado na Inglaterra, uma relação entre a circunferência da cintura e a altura, diz Bray. Se esse número for maior que 0,5, isso significa que você aumentou a gordura central e corre maior risco de problemas de saúde.
Alguns pesquisadores também propuseram o chamado índice de redondeza corporal (BRI), que leva em consideração a circunferência da cintura.
Diferenças de raça e gênero
A utilidade do IMC pode variar dependendo da sua raça e sexo, observa Gitanjali Srivastava, professora e codiretora do Centro de Perda de Peso Vanderbilt em Nashville, no Tennessee.
Por exemplo, os asiáticos nascem com mais gordura visceral. À medida que envelhecem, enfrentam riscos de doenças cardiometabólicas em um limiar de IMC mais baixo em comparação com pessoas de outras raças, diz ela.
“Um adulto do sul da Ásia com um IMC de 25 não é equivalente ao IMC de 25 de um caucasiano de gênero, sexo, altura e peso semelhantes, porque a sua [gordura visceral] é significativamente maior”, diz Srivastava, o que aumenta o risco de doenças cardíacas e diabetes.
As mulheres têm cerca de 10% mais gordura corporal do que os homens, mas têm menos gordura visceral até atingirem a menopausa. Quando os níveis de estrogênio caem durante a menopausa, os níveis de gordura visceral aumentam e elas tendem a ganhar peso na barriga, tornando seus riscos à saúde equivalentes aos dos homens, dizem os médicos. Uma mulher cujo IMC permaneceu o mesmo depois de passar pela menopausa ainda pode ser menos saudável do que antes se mais de sua gordura for visceral.
“Não se trata apenas de nossa aparência, mas de nossa saúde”, diz Stanford.
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traduzido do inglês por investnews