Comemorado este ano entre 1º de abril e 1º de maio, o Ramadã é um mês sagrado para os muçulmanos. Os praticantes da religião fazem jejum diariamente entre o nascer e o pôr do sol, seguindo a tradição de que neste período, no século 7, o profeta Maomé teria recebido revelações divinas.
Para os islâmicos do mundo todo, é um importante período de auto-aperfeiçoamento espiritual e moral, assim como de penitência para alguns, que irá influenciar a forma como vão viver os meses seguintes. Mas, em meio a este processo de renascimento, também acaba sendo uma grande oportunidade para os investidores nos mercados de ações.
É o que demonstra uma série de estudos, especialmente o trabalho de Jedrzej Bialkowski, um economista que é também é professor e diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Canterbury (Nova Zelândia), que na última década e meia pesquisou o que ele batizou de “Efeito Ramadã”.
Entre 1999 e 2018 e, pelo que se sabe, até hoje, as bolsas de 14 países onde pelo menos 50% da população pratica a religião muçulmana, como a Indonésia, Arábia Saudita e Paquistão se comportaram em contradição com alguns livros de economia. Se toda informação está contida nos preços, para cima ou para baixo, a oscilação é o estado natural da maioria dos papéis à medida que incorporam as novas informações.
Mas, durante o Ramadã, os mercados não registram grandes oscilações negativas. O impacto das notícias negativas é menor do que nos outros meses, assim como a aversão dos investidores ao risco. E há os ganhos. Em 59 Ramadãs, o retorno das ações ficou 300% acima da rentabilidade média de índices da MSCI (Morgan Stanley Capital International) e da Standard & Poor ‘s para os países pesquisados.
Em números exatos, o retorno médio, a cada ano, foi de 40,77% durante o mês sagrado, enquanto nos outros 11 meses, na média, a alta do mercado de ações foi muito mais modesta, de 11,87%.
A primeira observação termina em 2007. Levantou questionamentos sobre se o problema seria de liquidez. Com muitos investidores envolvidos em suas obrigações religiosas, o volume cairia e o mercado tenderia a certa acomodação. Um segundo estudo, em parceria com Mona Yaghoubi, colega de Jedrzej Bialkowski em Canterbury, foi publicado no ano passado, abrangendo mais 11 anos de dados, responde ao questionamento.
O trabalho confirmou que o Efeito Ramadã continuou ocorrendo na década seguinte. E não dava para botar a culpa no baixo volume. A liquidez dos negócios era normal na comparação com o resto do ano. A explicação mais provável está na natureza do Ramadã, um período de renúncia às tentações mundanas e à ganância que aparentemente influencia o comportamento dos muçulmanos.
Há mais otimismo no ar e sentimentos de solidariedade ficam mais evidentes, assim como a sensação de pertencer a um grupo. E uma visão mais positiva do futuro dos negócios, levando à alta dos mercados. Mas as conclusões não se restringem à religião de Maomé. Em sentido amplo, os estudos demonstram que a prática religiosa dos investidores muda o comportamento do mercado. O que, dependendo da motivação, vale para qualquer prática religiosa.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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