Em alguns aspectos, dirigir numa estrada na chuva pode ser comparado a fazer um investimento. A visibilidade é pouca, o asfalto fica mais escorregadio e prejudica as manobras mais ousadas. E também as distrações do dia a dia, como crianças gritando no banco de trás, aumentam o risco de acidentes.
Diante da incerteza, é normal que os motoristas se tornem mais cautelosos, correndo menos e evitando as ultrapassagens desnecessárias. E no caso de investidores, buscando menos risco mesmo com um retorno menor. É mesmo o que acontece. Na chuva, a maioria dos motoristas costuma reduzir a velocidade entre 23% e 29%, segundo um estudo das Universidades do Wyoming e de Winsconsin-Madison.
Quanto aos investimentos, o forte interesse recente pela renda fixa aqui no Brasil, que atraiu 38% mais investimento entre abril de 2021 e março deste ano, de acordo com a B3, é um forte sinal de que estamos em um momento de forte aversão ao risco.
Mas não para algumas pessoas. Homens e mulheres mais jovens são mais ousados no trânsito quando chove do que pessoas mais velhas. Também é bem documentado que motoristas homens se arriscam mais do que as mulheres. Já um estudo iraniano com 680 motoristas, publicado no ano passado no Journal of Advanced Transportation, mostrou que homens e mulheres solteiros correm mais e ultrapassam pela direita na pista escorregadia do que homens e mulheres casados.
Um diploma universitário diminui em 2,5% a vontade de correr no trânsito. E mais ainda se a pessoa tiver concluído um mestrado. A velocidade na direção cai 5%. Seria, nestes últimos casos, consequência das maiores responsabilidades de quem tem uma família ou uma carreira para cuidar. O estudo, no entanto, traz também um dado curioso.
À primeira gota de chuva, motoristas de meia-idade passam a se comportar como naquele desenho clássico do Pateta. Não chegam ao posto de reis do risco, que continuam com os homens jovens, mas são o único grupo a adotar um comportamento mais arriscado na chuva do que em um belo dia ensolarado . Os mais jovens podem ser mais ousados, mas têm o mesmo comportamento, chova ou faça sol.
Não diferem de investidores jovens que, por exemplo, são mais propensos do que a média – 44% a 37% – a buscar mais risco para compensar o atual surto inflacionário, segundo relatório de 2021 da gestora Schroders Global. Tampouco faltam trabalhos mostrando que eles são mais propensos ao risco, além de fazer mais operações do que as mulheres. E em uma pesquisa da casa de análises britânica Magnify com investidores de diferentes idades, adivinhe quem tem a tendência mais forte a vender papéis em meio ao pânico?
São dados que ajudam a saber quem corre mais ou é mais ansioso nos investimentos. Mas a pergunta mais importante é: por quê? O estudo iraniano sugere que o problema é a avaliação de risco. As pessoas que se arriscam mais não necessariamente percebem estar correndo riscos desnecessários. Avaliando mal o perigo, acabam mais expostas às consequências negativas do que pensavam que estariam. Perdem mais dinheiro nos mercados ou expõem mais a própria vida nas estradas.
Já no caso dos motoristas de meia idade que se tornam mais ousados, os autores do estudo sugerem que está em curso o que cientistas chamam de “a maldição do especialista”. São mais experientes, conhecendo melhor o ofício de dirigir. O que faz que muitas vezes relaxem a atenção, cometendo erros. Ou seja, erram mais porque, sabendo mais, se tornam menos atentos ao risco.
Não diferem de investidores jovens que, por exemplo, são mais propensos do que a média – 44% a 37% – a buscar mais risco para compensar o atual surto inflacionário, segundo relatório de 2021 da gestora Schroders Global. Tampouco faltam trabalhos mostrando que eles são mais propensos ao risco, além de fazer mais operações do que as mulheres. E em uma pesquisa da casa de análises britânica Magnify com investidores de diferentes idades, adivinhe quem tem a tendência mais forte a vender papéis em meio ao pânico?
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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