O último Copom antes do 1º turno da eleição deve manter a Selic em 13,75% e encerrar o longo ciclo de aperto monetário iniciado em março de 2021, segundo a maioria dos analistas. Uma minoria do mercado espera que o juro suba para 14% esta semana, enquanto a expectativa de um comunicado duro, sinalizando que os juros permanecerão altos por muito tempo, é praticamente consensual.
Entre 35 economistas pesquisados pela Bloomberg, 30 esperam que a Selic permaneça inalterada na reunião que termina na quarta-feira, enquanto cinco preveem que o BC anunciará a 13ª alta da taxa.
O mercado de juros projeta elevação de cerca de 8 pontos básicos para a Selic, enquanto as opções na B3 indicam 60% de chances de Selic estável e 40% de nova alta.
A queda da inflação, favorecida pelos cortes de impostos e preços dos combustíveis, e o recuo das commodities no exterior reforçam as expectativas de pausa no aperto monetário. Já a resiliência da atividade e a pressão mostrada pelos núcleos e preços de serviços, em meio ao ambiente de alta dos juros externos e incertezas fiscais para 2023, endossa as análises mais conservadoras.
Os operadores reduziram as apostas em juro estável neste Copom e no início dos cortes no 1º trimestre de 2023 em razão da mensagem mais recente do Banco Central. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse no início do mês que continuava válida a mensagem de que o comitê avaliaria a necessidade de nova uma alta em setembro. Segundo ele, a autoridade não pensava, naquele momento, em queda dos juros como estava esperando o mercado.
A mensagem dura de Campos Neto foi reforçada pelo diretor Bruno Serra. “Fomos tão surpreendidos nesse ciclo (inflacionário) que temos que ter muita cautela em um eventual encerramento do ciclo” de aperto monetário, afirmou.
Veja o que dizem os analistas:
Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú
- Melhora marginal no cenário de inflação para o horizonte relevante deve fazer o BC indicar a interrupção do aperto monetário nesta semana com Selic em 13,75%
- Projeções para 2023 e 2024 devem permanecer estáveis
- “Apesar da redução da inflação de itens voláteis, ressaltamos que as medidas de inflação subjacente seguem elevadas e que o ritmo de desinflação adiante será lento, o que reforça a necessidade de uma política monetária contracionista ainda por algum tempo”, diz em relatório
- Banco vê afrouxamento no segundo semestre de 2023, para 11% no fim do ano, a depender de sinalizações sobre o rumo das contas públicas, especialmente sobre o teto de gastos
Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco
- BC deve manter juro em 13,75%, com um comunicado sugerindo que os juros já foram elevados de maneira importante
- Copom deve dizer que apenas a manutenção em patamar elevado por um período prolongado será capaz de fazer a inflação convergir para a meta no horizonte relevante
Cassiana Fernandez, economista do JPMorgan, e equipe
- Mantém previsão fora do consenso de alta final de 0,25pp
- “É muito cedo para declarar vitória contra a inflação”
- Condições monetárias estão apertadas e o impacto defasado vai aumentar nos próximos trimestre
- Apesar disso, os dados econômicos recentes favorecem a estratégia de evitar o risco de fazer muito pouco na busca de trazer a inflação para a trajetória de metas rapidamente
Mauricio Oreng, superintendente de pesquisa macroeconômica do Santander
- Banco recentemente revisou projeção de Selic terminal de 14,25% para 13,75%, encerrando o ciclo
- No comunicado, BC deve anunciar explicitamente uma pausa no aperto e reiterar a mensagem de que permanecerá “vigilante” sobre os próximos passos, reafirmando o plano de manter os juros estáveis por um período suficientemente longo
- BC deve também reforçar a mensagem de que cortes da Selic são improváveis no futuro próximo
- Uma maneira de sinalizar isso seria apontar um balanço de risco inclinado para aumento dos riscos inflacionários
Solange Srour e economistas do Credit Suisse
- BC dele elevar Selic para 14% depois de dizer no comunicado da última reunião que iria avaliar ajuste residual
- Comparado com Copom anterior, cenário para inflação ainda requer cuidado dado que projeção para 2023 estão muito acima da meta, apesar das revisões para baixo de 2022, e as projeções para 2024 têm crescido
- Ociosidade da economia tem diminuído e cenário externo está mais desafiador
- Arcabouço fiscal para os próximos anos é altamente incerto
Roberto Secemski, economista do Barclays
- Membros do BC recentemente enviaram sinais hawkish, mas estava provavelmente apenas mostrando desconforto com a precificação prematura de cortes da Selic em 2023
- Apesar dos dados que sugerem uma economia resiliente com emprego forte e estímulos, o ciclo já deve ter terminado com Selic a 13,75%
- Prazo dos cortes será determinado por uma queda consistente do núcleo da inflação, evolução fiscal pós-eleição e comportamento das expectativas inflacionárias, particularmente as de 2014
Gustavo Arruda, diretor de pesquisas para América Latina do BNP Paribas
- Diante da situação local e internacional, parece mais conservador subir mais 0,25pp, o que ajudaria a passar a mensagem de que o BC está combatendo a inflação
- O BC parar e ter que ser hawkish seria um pouco mais difícil de explicar
- “Tem mais chance de todo o mercado não entender direito exatamente o que ele está querendo dizer”
- Melhora no ambiente para a inflação é muito recente
Tatiana Nogueira, economista da XP
- Copom deu um sinal claro de que já era iminente a pausa deste ciclo de aperto monetário, e, de lá para cá, as expectativas de inflação se estabilizaram, até tiveram queda
- BC deve ter como objetivo deixar claro que é uma pausa para fazer uma avaliação do cenário
- Cenário de desinflação já está ocorrendo, não vai ter necessidade de fazer uma elevação adicional e o mercado vai entender isso
Alexandre de Azara, economista do UBS
- Com as expectativas de inflação para 2023 já recuando no Focus, o Copom deve optar pela manutenção da Selic em 13,5%
- Esse patamar é suficiente para convergência da inflação em 2023 e 2024, desde que a Selic fique estável até meados do ano que vem
- Banco antecipa a primeira queda para junho de 2023
- Copom deve retirar a possibilidade de um ajuste residual e não se comprometer com o prazo em que deixará os juros em 13,75%
- Ao mesmo tempo, deve manter comunicação em relação ao balanço dos riscos
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator
- A inflação projetada teve queda muito leve recentente e o risco fiscal parece ter aumentado desde a reunião anterior do Copom
- A extensão do valor do Auxílio para 2023, bem como a expectativa sobre o sucessor do teto de gastos, turva o horizonte
- Resta ao Copom usar a “reserva residual” de 0,25 pp de alta na Selic e reafirmar as defasagens “variáveis” dos efeitos da política monetária
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