Mentorias oferecidas por empresários famosos e que obtiveram sucesso no mundo dos negócios podem custar até R$ 250 mil – e têm atraído uma fila de pessoas dispostas a pagar pelo serviço. Em geral, recorrem a essa ajuda proprietários de empresas que faturam pelo menos R$ 4 milhões por ano e que querem aperfeiçoar habilidades como vendas, gestão e finanças.
O objetivo, além obter um intercâmbio de informações com personalidades que fizeram história no mundo dos negócios e que já enfrentaram diversos percalços pelo caminho, é encontrar soluções para os problemas do dia dia.
Mas ter um espaço na concorrida agenda desse pessoal não é para qualquer um. Além do rigoroso processo de seleção para participar dos encontros, que leva em conta faturamento e a maturidade do negócio, o valor de investimento é bastante elevado.
Cases de sucesso viram mentoria
Para se ter ideia, a mentoria oferecida pela FirstClass, fundada em novembro do ano passado pelo fundador da escola de idiomas Wise Up, Flávio Augusto, pelo especialista em vendas diretas Caio Carneiro e pelo ex-nadador e treinador Joel Jota, custa nada menos do que R$ 250 mil por ano.
Flávio Augusto é tido como um sucesso no mundo do empreendedorismo. Um dos feitos conhecidos do empresário foi a recompra, em 2015, da Wise Up pela metade do preço que ele mesmo havia vendido dois anos antes.
“Estar conectado com empresários bem-sucedidos, com resultados comprovadamente positivos ao longo do tempo, pode contribuir de maneira imensurável para empreendedores que desejam alcançar os mesmos resultados em sua jornada”, explica o empresário.
Outro exemplo é a Sales Clube, focada na organização do processo comercial de empresas. A consultoria foi fundada pelo influenciador e especialista em vendas Thiago Concer, pelo fundador da aceleradora de franquias 300 Franchising, Leonardo Castelo, além de outros dois sócios.
Mas qual é, de fato, o papel de um mentor? Alessandra Andrade, gerente do Faap Business Hub, área de empreendedorismo e inovação da Faap, reitera que o mentor é aquele que entende as dores vividas pelo empreendedor, porque já as vivenciou.
“O que ele faz é ajudar o mentorado a fazer os questionamentos certos e guiá-lo na busca das respostas”.
Claro que estar ao lado de personalidades que obtiveram sucesso no mundo do empreendedorismo é um chamariz, mas para a docente da Faap o mais importante é que o mentorado admire e reconheça o mentor como bem-sucedido – não importa se é ou não uma personalidade conhecida.
Nas próprias palavras de Alessandra, pode ser inclusive um amigo ou vizinho que tenha dado certo no próprio negócio. “O importante é ser uma pessoa que passou pela experiência que o mentorado está vivendo, entenda o processo e saiba orientá-lo”, acrescenta.
Como funcionam as mentorias
Flávio Augusto explica que a riqueza do processo de mentoria não se limita as suas próprias experiências e a dos demais mentores. Isso porque os encontros são feitos em grupos e reúnem diferentes tipos de empreendedores e CEOs de empresas.
“Os membros do FirstClass são empresários bem-sucedidos. Todos buscam vender mais, implantar melhores práticas de gestão, encontrar novas estratégias de marketing, novas tecnologias e novas oportunidades para expandir seus negócios. Um grupo de pessoas comprometidas entre si e com know how elevado em suas áreas tem muito a contribuir”, afirma.
O programa da FirstClass é voltado para negócios que têm um lucro operacional anual de no mínimo R$ 4 milhões, mas que buscam novas ferramentas para crescerem. “Levantamos o histórico de cada um, para agregar ao grupo pessoas de reputação ilibada e com negócios em crescimento”, explicou Flávio.
A mentoria inclui 15 encontros anuais – três deles presenciais e que ocorrem durante um fim de semana e 12 por videoconferência. O o espaçamento entre os encontros ocorre à medida que o empresário consegue implementar as estratégias assimiladas.
Os conteúdos envolvem estratégia, vendas, gestão, marketing, finanças, equity (valorização do negócio) e as boas práticas que estão dando certo em cada empresa dos membros.
Nas reuniões mensais online, há atividades de direcionamento e troca de experiências com os demais membros. Já as presenciais incluem networking e estudos de caso, com a presença de convidados.
Já a Sales Clube atende, em geral, empresas familiares com faturamento entre R$ 7 milhões e R$ 50 milhões, e oferece dois tipos de programas. No mais acessível, os empreendedores desembolsam R$ 17 mil por uma mentoria de imersão de um final de semana.
Concer explica que, a partir de alguns questionamentos, os mentores conseguem levantar o quanto de dinheiro esses empreendedores estão perdendo por erros comerciais e pela falta de processos.
“Em geral, o que os empreendedores querem é organizar o processo comercial e ter um padrão no processo, porque em 99% dos casos, essas empresas não têm e não controlam as informações do departamento comercial”.
A empresa também oferece o “Programa Elite”, com duração de um ano, e que contém três encontros anuais, além de mentorias mensais com os fundadores. Nesse caso, o valor desembolsado chega a R$ 125 mil.
Quem opta pelo programa mais extenso tem acesso a uma consultoria que inclui treinamentos das equipes de vendas, apoio para montar a equipe comercial e desenvolver a cultura da empresa.
Equipes mais autônomas
Os empreendedores Tamires Repolês e Caio Martins, fundadores da Galpão Casa e Construção, localizada no Rio de Janeiro, estavam justamente em busca de respostas para o negócio, quando, em fevereiro do ano passado, decidiram desembolsar R$ 125 mil por uma mentoria com duração de um ano. O objetivo era ajudar a empresa a crescer de forma estruturada e tornar as equipes mais autônomas.
“Parecia que as coisas só funcionavam quando a gente estava na empresa. Não conseguíamos nem tirar férias”, explica Caio Martins.
As mentorias trataram de três pontos principais: criação de uma cultura de autoresponsabilidade, treinamentos da equipe de vendas e a busca de novas formas de receitas.
Martins explica que os mentores ajudaram na criação de rituais como, por exemplo, novos programas de estímulos aos funcionários, como o “Jantar dos Campeões” para os vendedores com as melhores performances do mês.
Também foi implementado um treinamento diário de 30 minutos para sanar dúvidas das equipes e tratar pontos de melhorias.
O resultado desse processo, que durou um ano, começou a ser sentido quando o casal conseguiu tirar 20 dias de férias, sem levar as preocupações da empresa na mala.
“Quando voltamos, as metas tinham sido batidas e a empresa tinha registrado crescimento de 40% no faturamento de um mês para o outro”, contou o empreendedor.
Depois de um ano de consultoria, o faturamento da Galpão Casa e Construção cresceu 30%. No período foram contratados 20 funcionários – hoje são 53 no total.
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