A privatização da Sabesp (SBSP3) avançou um pouco mais nesta quarta-feira (6). A aprovação da proposta pelos deputados estaduais aliados, em votação sem a presença da oposição após um tumulto na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), alimenta as expectativas de conclusão do processo até o fim do primeiro semestre de 2024. 

Com isso, o potencial de valorização das ações da empresa paulista de saneamento é elevado. Mas tudo vai depender do andamento do processo ao longo dos próximos meses. Daí porque os investidores devem seguir atentos às movimentações políticas, uma vez que o resultado da véspera na Alesp já estava, em grande parte, precificado. 

“O verdadeiro valor a ser destravado pela empresa advém da materialização da sua privatização”, resume, em comentário, o analista do setor da Genial Investimentos, Vitor Sousa.

Sabesp
Divulgação

Ou seja, um desfecho positivo para a votação de quarta já era aguardado. Tanto que essa expectativa favoreceu a alta de quase 20% de SBSP3 desde o início de novembro. Por volta de 11h desta quinta-feira (7), o papel da companhia recuava em torno de 0,40%.

Próximos passos

O próximo passo, agora, é converter o projeto em lei pela sanção do governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Depois, o texto ainda precisa passar pela Câmara Municipal, uma vez que a desestatização da companhia paulista de saneamento prevê que a Prefeitura da capital volte a assumir o serviço de água e esgoto na cidade.

O governo estadual também precisará fazer reuniões com os 375 municípios paulistas atendidos pela Sabesp para elaborar documentos sobre a situação de cada contrato, em caso de privatização, para a renovação da concessão até 2059. Neste caso, cabe aos vereadores a aprovação de uma nova lei regulatória sobre o assunto.

A estruturação deste procedimento será feita em conjunto com a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) para definir o modelo tarifário vigente a partir da privatização. Não se sabe ainda se o cálculo será alterado da atual metodologia prospectiva ou para a retrospectiva – semelhante à do setor elétrico.

As cidades negociam para assinar tais contratos até março do ano que vem. Vale lembrar que 2024 é ano de eleições municipais, com disputa para os cargos nas prefeituras e câmaras. Daí porque a expectativa é de que todo o processo em torno da Sabesp esteja concluído até junho ou, no mais tardar, agosto – dois meses antes do pleito.

É a política

Apesar do trâmite político, o mercado financeiro segue confiante quanto à aprovação da transferência do controle acionário da Sabesp ao setor privado. Para a Guide Investimentos, o placar da votação na Alesp, com 62 votos a favor e apenas um contra, favorece maior aderência e poder de barganha nas próximas negociações políticas do processo.

“O desfecho deste capítulo [na Alesp] com elevado nível de apoio demarca a extinção de alguns riscos e confere maior percepção de apelo político ao projeto”

Eduardo Siqueira, analista da Guide Investimentos, em relatório.

A aprovação na Alesp foi, portanto, um evento relevante no cronograma de privatização da Sabesp, na visão de analistas. “Foi um indicador importante para mostrar o quanto o governo está comprometido e que a privatização está andando dentro do previsto”, afirmam os analistas Vladimir Pinto e Maíra Maldonado, da XP Investimentos, em relatório.

Com isso, os prazos desafiadores e as próximas etapas parecem ser mais exequíveis. Passada a tramitação na esfera política, será preciso definir ainda as regras de governança corporativa da Sabesp privatizada e da oferta de ações no mercado secundário. Atualmente, o valor de mercado da empresa gira em torno de R$ 45 bilhões.

Qual seria, então, o valor de uma Sabesp privatizada? Cálculos do Bradesco BBI apontam um potencial de valorização entre 45% e 60%, em caso de privatização. Assim, o valor da empresa (EV) com base nos ativos regulatórios (RAB) pode elevar o preço da ação para até R$ 110, de menos de R$ 70 no fechamento de quarta. 

Operação de dragagem: escavadeira em água turva bombeia por tubos para sacos de filtragem grandes na margem barrenta.
Máquina da Sabesp trabalha ao lado de bombas da hidrelétrica Jaguari durante estiagem em Bragança Paulista
12/02/2015
REUTERS/Paulo Whitaker

“Ainda existem várias incógnitas para construir uma avaliação definitiva sobre o impacto positivo”, alerta o banco de investimentos, em relatório. Na outra ponta, caso a Sabesp continue sendo uma empresa estatal, há um risco de depreciação de quase 40%. 

No entanto, a Ativa Investimentos vê muito espaço para que a ação consolide a sua valorização, caso a privatização de fato seja executada ao longo dos próximos meses. Na visão do analista Ilan Arbetman, tal fato se tornou mais verossímil com a “passagem exitosa” do processo na Alesp. 

Queda de braço

Porém, não se pode descartar o risco de ‘judicialização’ do processo, com os deputados contrários podendo contestar judicialmente a realização da sessão de quarta na Alesp. A repressão policial a manifestantes com bombas de gás e spray de pimenta dentro da Casa legislativa levou a oposição a deixar o plenário. 

Além disso, a oposição avalia a possibilidade de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) sob a alegação de que a privatização da Sabesp não pode ser feita via Projeto de Lei (PL), mas sim por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que requer três quintos dos votos para ser aprovada. 

“Naturalmente, espera-se ver vários processos judiciais, liminares etc., como em qualquer outro processo de privatização”, afirma o BTG, em relatório

O banco de investimentos lembra que o próprio presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União), tem criticado o formato da privatização e se manifestado abertamente sobre o recebimento de parte dos recursos arrecadados com o processo. Isso porque a cidade de São Paulo representa quase 45% da receita da Sabesp.

“Portanto, deve-se esperar mais resistência e discussões mais acaloradas”, emenda o BTG. Ainda assim, o banco de investimentos não descarta que, ao final, haverá “um resultado favorável”.

Na mesma linha, Arbetman, da Ativa, avalia que o máximo que a oposição irá conseguir é atrasar o processo de privatização. “A larga diferença de votos mostra que a matéria dispõe de força suficiente na Alesp para ser apreciada com folga quantas vezes forem necessárias”, afirma, em comentário.