A união entre a Arezzo (ARZZ3) e o Grupo Soma (SOMA3) agitou o mercado financeiro na semana passada, mas ainda gera dúvidas no mercado. No dia da divulgação sobre uma possível fusão, na quarta-feira (31), as ações de ambas as empresas dispararam na B3, chegando a entrar em leilão, e fecharam em alta de mais de 10%, cada.
O anúncio oficial da união, divulgado neste fim de semana, cria uma gigante única do varejo de moda de alta renda. Em uma operação que envolve mais de 30 marcas e de duas mil lojas físicas, ainda há dúvidas sobre se o acordo faz sentido, apesar dos números expressivos.
A nova empresa resultante deve ter um valor de mercado de aproximadamente R$ 13 bilhões, criando uma das maiores empresas de moda da América Latina. Para se ter uma ideia, a Lojas Renner, uma das maiores varejistas de vestuário no Brasil, possui um valor de mercado de R$ 15,2 bilhões.
Prós e contras
Relatórios de analistas do mercado financeiro apontaram méritos na transação, ainda que com alguns desafios no radar, tornando o negócio uma relação de ganhos e perdas. Do lado da Arezzo, os especialistas destacam o fortalecimento da estratégia de “house of brands”, além da maior participação no segmento de vestuário.
Já o Grupo Soma deve ganhar com o know-how da Arezzo no canal de franquias de marcas, o que poderia acelerar o turnaround da Hering. Isso sem falar na possível melhora nas negociações com fornecedores e dos custos fixos, o que se contrapõe à sobreposição de centros de distribuição, equipe e tecnologia.
Portanto, a avaliação leva em conta uma leitura separada, dos prós e contras para cada empresa. Como a transação deve ocorrer por meio de troca de ações entre os acionistas controladores, o mercado passou a ‘precificar’ as sinergias relacionadas a despesas fixas e com vendas, mostrando uma visão mais cética em relação aos ganhos de receita.
Sem sinergia
Mas é aí que parece estar o problema. Segundo o chefe de análise de investimentos da Levante, Flavio Conde, a fusão entre Arezzo e Grupo Soma não deve ser vista pela ótica do ganho de sinergia, visando reduzir custos. Isso porque as marcas de cada uma dessas empresas, como Schutz, Anacapri e Maria Filó, entre outras, são independentes.
“É mais um negócio de ficar maior mesmo via a combinação de segmentos complementares e gestão de marcas”
Flavio Conde, chefe de análise de investimentos da Levante
Segundo Conde, essa característica de crescer pela combinação de negócios já é algo que está “no DNA” de ambos os grupos. “O que se vê é um modelo de cross-selling, com uma complementaridade de venda de produtos de vestuário, calçados e acessórios”, acrescenta o analista.
Gênios do varejo
Sabe-se do desafio de vender peças de roupas, por exemplo, na hora do cliente que quer comprar um salto alto. Porém, Conde destaca a expertise de Roberto Jatahy, do grupo Soma, que seria o presidente da unidade de negócios de vestuário feminino, somada à experiência de Alexandre Birman, da Arezzo, no portfólio e gestão de marcas.
“São dois gênios do varejo de alta renda mais personalizado que vão consolidar o negócio”, destaca o chefe de análise da Levante. Por isso, ele avalia que a concorrência no e-commerce não preocupa os donos das marcas, com as lojas de departamentos como C&A (CEAB3), Riachuelo e Renner (LREN3) sofrendo mais com as varejistas asiáticas.
Isso porque a expansão da nova empresa combinada deve se dar por meio de lojas físicas, com o negócio online não passando de 20% do resultado financeiro, estima Conde. Para ele, deve haver um aumento das unidades das marcas que o Grupo Soma e a Arezzo representam espalhadas nos shoppings do país, em especial do público de alta renda.
Além disso, o analista vislumbra espaços conjuntos nesses locais, com uma loja da Vans ao lado da Farm, por exemplo. No caso específico da Hering, a expectativa é de que, aí assim, ocorra uma otimização de recursos e eficiência na gestão, mantendo as lojas próprias, onde os números são mais positivos e sendo criterioso em relação às franquias.
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