Aumento das commodities reflete melhora da economia, mas pressiona inflação
Escalada dos preços das matérias-primas pode atrasar plano do Fed de cortar taxa de juros nos EUA
Um aumento nos preços das matérias-primas que alimentam a indústria e o transporte mostra que os investidores estão apostando em uma expansão prolongada — e uma possível retomada da inflação.
O índice de preços globais de commodities, o S&P GSCI, avançou 11% este ano, superando a alta de 9,2% do S&P 500. O cobre e o petróleo subiram mais de 10% e 16%, respectivamente. Até mesmo o ouro está registrando novos recordes, subindo 14% e atingindo uma nova máxima de US$ 2.343,50 a onça troy.
O aumento está enraizado nas expectativas de que o crescimento econômico aumentará a demanda dos EUA e da China, segundo analistas. Dois relatórios na semana passada mostrando recuperações nos setores manufatureiros de ambos os países ajudou a desencadear uma nova onda de compras. Isso ampliou uma alta que impulsionou ações de empresas de energia e de materiais, ao mesmo tempo em que ameaçou elevar o preço da gasolina pouco antes do verão do Hemisfério Norte.
E muitos acreditam que a escalada pode continuar por algum tempo. O crescimento da renda real provocou uma reaceleração na demanda global de bens, que provavelmente impulsionará ainda mais os preços das commodities, segundo relatório da equipe de estratégia de commodities do Macquarie Group.
Performance de preços futuros (gráfico em inglês)
Isso pode complicar a luta do Federal Reserve contra a inflação, quando os investidores já começam a duvidar se o banco central conseguirá reduzir as taxas de juros mais para frente neste ano. A perspectiva de que os custos dos empréstimos cairiam em breve ajudou a estimular um aquecimento do mercado de ações, que levou os principais índices a bater recordes.
“As commodities são potencialmente um fator que pode interferir nos cortes do Fed”, disse Francisco Blanch, chefe de pesquisa global de commodities e derivativos do Bank of America.
O aumento reverte uma queda de 18 meses em relação às máximas alcançadas depois que a invasão da Ucrânia pela Rússia fez os preços do petróleo, do gás natural, dos grãos e dos metais industriais dispararem. Uma perspectiva econômica sombria nos EUA, incluindo uma esperada recessão, taxas de juros mais altas e a economia chinesa lutando para se recuperar dos lockdowns da era da Covid, tudo isso afetou os índices futuros nos meses subsequentes.
Atividade manufatureira por região
Contudo, a recessão nunca veio. A economia dos EUA permaneceu robusta mesmo com o arrefecimento da inflação. O mercado de trabalho superou repetidamente as expectativas. Um modelo do Federal Reserve de Atlanta elevou na semana passada sua estimativa ajustada pela inflação do crescimento dos EUA para o primeiro trimestre em meio ponto percentual, para 2,8%.
Agora, uma ação recente no mercado de petróleo mostra como a crescente demanda global se juntou a fatores idiossincráticos para impulsionar os custos das principais commodities.
Ataques de drones na Rússia e conflitos no Oriente Médio ajudaram a aumentar o preço do petróleo. Os futuros do petróleo Brent, a referência global dessa commodity, superaram recentemente os US$ 90 por barril, o nível mais alto desde as consequências do ataque do Hamas a Israel em outubro. A oferta está apertada ultimamente pela desaceleração do crescimento da produção dos EUA e pelos cortes de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, segundo Bjarne Schieldrop, analista-chefe de commodities da SEB, em nota na semana passada.
Ao mesmo tempo, uma perspectiva econômica otimista fez com que analistas da Agência Internacional de Energia aumentassem suas previsões para a demanda global de petróleo deste ano.
“Um mercado apertado e um otimismo macro crescente estão elevando os preços do petróleo bruto”, escreveu Schieldrop.
Performance dos índices S&P 500 e de commodities
O aumento do preço faz subir o valor das ações dos produtores de petróleo. O setor de energia é o segundo com melhor desempenho no índice S&P 500 este ano, com alta de 16%. As ações da Exxon Mobil atingiram um recorde na sexta-feira. A forte demanda por gasolina, diesel e combustível de aviação também levou as ações de refinarias, incluindo Valero Energy, Marathon Petroleum e Phillips 66, a máximas recordes recentemente.
Ocorrências semelhantes garantiram uma recente escalada nos preços do cobre — um barômetro popular da saúde econômica, dado seu uso na construção e na eletrônica. Os futuros saltaram 16% nos últimos dois meses, para US$ 4,29 a libra-peso, seu nível mais alto desde junho de 2022. O Goldman Sachs informou que a demanda da China, que é mais da metade do total mundial, foi 12% maior do que a do ano passado.
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Alguns analistas disseram que o aumento do preço das commodities também foi intensificado por especuladores. As apostas na alta do cobre na Bolsa de Metais de Londres atingiram seu nível mais alto desde 2021, de acordo com a TD Securities. O recente aumento do petróleo foi amplificado por fundos de hedge macro que lutam para desfazer apostas de que os preços cairiam, disse Bob Elliott, CEO da Unlimited, cuja empresa usa IA para rastrear a atividade de negociação em tempo real.
“O posicionamento dos fundos de hedge começa a ficar espremido, o que adiciona mais movimento de alta no preço”, disse ele.
Como os preços das commodities são um importante motor de preços em toda a economia, os investidores geralmente compram futuros como uma proteção contra a inflação. Isso ajudou a levar a última etapa da corrida do ouro aos recordes.
Dana Grigg, presidente da empresa de gestão de fortunas Camelotta Advisors, disse que sua empresa mudou para uma “orientação de ciclo de crescimento inicial” no começo deste ano. Ele coloca uma fração do dinheiro de seus clientes em petróleo e ouro como proteção contra a inflação e para apostar no crescimento econômico. Essa fração cresceu com o aumento dos preços, mas ele não está vendendo para se reequilibrar.
“Queremos pegar a onda”, disse Grigg. “Não é bom sair muito cedo.”
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traduzido do inglês por investnews