Fotos de dentistas, médicos e pilotos de avião estampam contas de Instagram de escritórios que trabalham com imigração nos Estados Unidos e indicam que há um novo perfil de profissionais brasileiros que decidem deixar tudo para trás e começar uma nova vida no país.
O novo perfil de imigração brasileira nos EUA é de profissionais qualificados e bem-sucedidos na carreira. O número de vistos de trabalho para profissionais brasileiros de elite explodiu nos últimos dois anos, de acordo com dados do Serviço de Imigração e Cidadania dos EUA (USCIS, na sigla em inglês) compilados pela Bicalho Consultoria.
O visto do tipo EB-2, para quem tem formação acadêmica avançada, carreira consolidada ou “habilidade excepcional” nas áreas de negócios, ciências ou artes, saltou de 212 concessões em 2017 para 1.988 no ano passado (alta de 837,7%). Veja aqui:
No Gondim Law Corp, escritório de direito imigratório sediado em Los Angeles, cerca de 75% dos brasileiros que buscam serviços de vistos de trabalho temporário ou “green card” para morar nos Estados Unidos hoje tem ao menos uma graduação completa (bacharelado). Dos clientes do escritório, 40% têm entre 30 e 45 anos e 60% são casados e com filhos pequenos ou adolescentes. Os EUA concentram a maior comunidade brasileira fora do território nacional – são 1,9 milhão de pessoas.
“O brasileiro, quando vai aos Estados Unidos, percebe que pode exercer sua atividade fora do país sem que tenha de enfrentar alguns problemas que nós temos no Brasil, como a segurança”, diz Vinicius Bicalho, advogado e fundador da Bicalho.
O advogado confirma que a maior demanda por orientação para tirar o visto americano vem de profissionais com carreiras já estabelecidas no Brasil, em especial das áreas STEM (sigla em inglês que significa Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), que recebem estímulos do governo americano por estarem diretamente ligadas ao crescimento econômico.
Mais: pelo menos 30% dos clientes da consultoria têm seu próprio negócio. “São empreendedores que não querem apenas migrar. Querem desenvolver o seu negócio nos Estados Unidos, porque entendem que estão em um mercado que possui legislação madura e relações jurídicas mais sólidas”, diz.
Renda 30% maior
A mineira Letícia Ruiz, de 47 anos, faz parte da estatística. Fonoaudióloga, especializada em crianças autistas, ela encontrou em Orlando, na Flórida, um mercado cheio de oportunidades.
“Tem muitos brasileiros vindo morar aqui. É importante que as terapias sejam na língua-mãe das crianças, e há poucos profissionais qualificados que falam português para atender essa demanda, que é gigantesca”.
A jornada de Ruiz começou em dezembro de 2019, quando ela tirou o visto de estudante para aperfeiçoar a língua inglesa. Foi nessa época que a brasileira percebeu haver espaço para explorar sua profissão na terra do Mickey.
A fonoaudióloga conseguiu uma autorização de trabalho de 90 dias, mas paralelamente decidiu correr atrás da emissão do visto EB-2. Para isso, reuniu documentos pessoais e cartas de recomendação. O “green card” saiu em agosto de 2022. Hoje, ela mora com as duas filhas no país.
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Ruiz, que tinha sua própria clínica no Brasil, conta que sua renda aumentou em 30%, após a ida para os EUA. Nem por isso tem sido fácil. “É uma mudança de vida em todos os aspectos. Por mais que eu fale inglês fluentemente, por mais que eu esteja ativa no mercado de trabalho, contribuindo para a economia, sempre vou ser imigrante”.
Tipos de vistos
O EB-2 é um visto employment based, ou seja, ligado ao exercício de uma atividade profissional. Ele é indicado para quem possui uma carreira sólida; alguém que, de alguma maneira, agregará valor aos EUA. Pela terminologia do Serviço de Imigração deles, isso significa encaixar-se em alguma dessas duas categorias:
- Profissional com uma formação avançada (mestrado para cima), ou que só tenha o bacharelado, mas conte com ao menos cinco anos de “experiência progressiva” na profissão, ou seja, que tenha galgado degraus na carreira.
- “Pessoas com habilidade excepcionais” em negócios, ciência ou artes. Significa, nas palavras das autoridades gringas, “ter um grau de perícia [expertise] significantemente superior ao da média”.
Já o visto EB-1 é para as “Pessoas com habilidade extraordinária“. Note a diferença. O EB-2 é “só” para pessoas “excepcionais” – e este é para gente com algo a mais do que isso.
Bom, seja em inglês, seja em português, “excepcional” e “extraordinário” são sinônimos completos. Mas, como o Serviço de Imigração tem uma opinião diferente, quem somos nós para corrigir?
Na prática, trata-se de um visto para profissionais acima de qualquer suspeita (por exemplo, que já venceu prêmios internacionais de alta relevância – Pulitzer, Nobel, medalhas olímpicas…). Mas não é preciso tanto. Gerentes e executivos de multinacionais, por exemplo, podem requerer um visto EB-1, contanto que a empresa tenha um escritório nos EUA.