Os investimentos em títulos de renda fixa são, de longe, o maior mercado de valores mobiliários do mundo.
Visto como um meio de obter rendimento e, ao mesmo tempo, preservar o capital, os títulos de renda fixa evoluíram para um mercado global de US$ 138,6 trilhões em circulação em todo o mundo, segundo dados da sifma research, oferecendo muitos benefícios potenciais às carteiras de investimento, incluindo retornos atrativos.
No Brasil, os investimentos em renda fixa assumem uma importância ainda maior, dada a instabilidade do mercado, as médias historicamente altas da taxa de juros reais e o monopólio da B3, que sufoca o desenvolvimento do mercado de renda variável.
Conforme estudo realizado pela própria bolsa de valores brasileira, 64% dos investidores alocam seus recursos financeiros em títulos de renda fixa.
Antes de enfrentarmos as complexidades que envolvem esta categoria de investimento, é importante relembrarmos o que é um título de renda fixa e os principais conceitos que envolvem os investimentos no segmento.
O que é um título de renda fixa
Um título de renda fixa representa um empréstimo que o comprador do título faz ao emissor. Governos e empresas emitem estes papeis quando precisam de capital.
Se um investidor compra um título do governo, ele está emprestando dinheiro ao governo. Se um investidor compra um título de uma empresa, ele está emprestando dinheiro à empresa.
Assim como um empréstimo comum, um título paga juros periodicamente e reembolsa o valor inicial investido, em um prazo determinado.
14 conceitos básicos do mercado de renda fixa
Os títulos de renda fixa são um componente importante de uma carteira de investimentos diversificada. Podem ser úteis para preservação do capital e a geração de rendimentos. Mas, como todos os investimentos, estão sujeitos aos riscos de mercado, crédito e liquidez.
Mas a falta de conhecimento e movimentos precipitados podem levar a perda dos recursos investidos e comprometer os rendimentos contratados.
Veja abaixo alguns conceitos básicos que podem auxiliar na escolha e negociação dos títulos de renda fixa.
1. Oferta primária: quando o emissor vende novos títulos aos investidores e os recursos dessa venda vão diretamente para o seu caixa.
2. Oferta secundária: quando não há emissão de novos títulos – apenas a negociação entre compradores e vendedores.
3. Mercado primário: onde os títulos são emitidos e é realizada a primeira venda para investidores. Os recursos captados no mercado primário são destinados ao emissor.
4. Mercado secundário ou de balcão: após a emissão, os títulos podem ser negociados no mercado secundário, onde instituições financeiras atuam como intermediárias, entre as partes compradoras e vendedoras.
5. Valor de face ou nominal: é definido pelo emissor e normalmente impresso no próprio título. Representa o valor que o emissor pagará ao investidor, quando o título atingir o vencimento.
6. Preço de mercado: é o que o investidor paga para comprar o título no mercado secundário. Os preços no mercado secundário podem variar do valor de face conforme as condições do mercado. Portanto, os juros não são a única forma de rendimento de um título renda fixa. O preço de mercado de um título pode mudar com o tempo. Se um título vencer ou for vendido antes de seu vencimento a um preço diferente do preço de compra, você realizará um ganho ou uma perda.
7. Taxa cupom: cupom é a taxa de juros paga pelos emissores dos títulos sobre o valor de face do título. A taxa de cupom é fixada no momento da sua emissão, não sofre variações e é normalmente impressa no certificado de investimento.
8. Taxa de mercado ou vigente: é a taxa determinada pelo preço de um título de renda fixa, que varia conforme as negociações no mercado secundário e pela taxa cupom fixada no momento da sua emissão.
9. Rendimento: expressa o retorno real que um investidor pode esperar se o título for mantido até o vencimento. Ele é determinado é baseado no preço de compra, bem como no cupom.
10. Vencimento: refere-se à data em que o valor de face de um título é reembolsado ao investidor. Essa data de vencimento é normalmente impressa no certificado do investimento e é definida no momento da sua emissão.
11. Risco de crédito ou rating: cada título acarreta algum risco de que o emissor não consiga reembolsar o montante aplicado ao investidor. Muitos produtos de renda fixa são avaliados por agências de classificação independentes que medem a qualidade de crédito do emissor ou a capacidade de efetuar pagamentos de juros e reembolsar o valor investido. Um emissor com uma classificação de crédito alta pagará uma taxa de juros mais baixa do que outro com uma classificação de crédito baixa.
As duas principais agências de classificação de crédito são a S&P e a Moody’s. Um rebaixamento da nota de crédito por estas agências pode fazer com que o preço de mercado de um título caia. Da mesma forma, uma atualização positiva pode fazer com que o preço aumente. Um título é considerado com nota de investimento se apresentar um risco de inadimplência relativamente baixo e possuir uma classificação de crédito acima de um determinado limite.
12. Duration ou volatilidade de título: medida utilizada para determinar quanto tempo o investidor poderá recuperar o capital investido, dada a possibilidade de variação de preço dos títulos. De outra forma, a duration estima a volatilidade dos preços dos títulos de renda fixa e indica seus reflexos sobre o seu rendimento dos títulos.
13. Marcação na curva: apresenta a rentabilidade de um título corrigido dia a dia pela taxa acordada, sem considerar as variações de preço posteriores a compra no mercado secundário.
14. Marcação a mercado: informa quanto determinado título valeria se fosse vendido ou comprado naquele instante no mercado secundário.
Medindo o risco dos títulos de renda fixa
Compreender a relação inversa entre o preço e o rendimento dos títulos de renda fixa é um dos maiores desafios dos investidores em geral e o maior indutor de perdas neste tipo de alocação.
Quando as taxas de juros do mercado sobem, os preços dos títulos caem. Por outro lado, quando as taxas de juro do mercado caem, os preços dos títulos sobem. Ou seja, os preços dos títulos negociados no mercado secundário movem-se na direção oposta às taxas de juros.
A melhor maneira de compreender a relação entre os preços dos títulos e as taxas de juros é através de um exemplo:
Suponha que você comprou um título de renda fixa, no início do ano passado, com taxa cupom de 10%. Agora, imagine que as taxas de juros tenham caído ao longo do ano passado e um título semelhante seja emitido no início do ano vigente, mas com uma taxa cupom de 8%.
Os títulos que você possui se tornaram mais atraentes porque você está recebendo um pagamento de cupom mais alto, do que um investidor que comprou o título emitido este ano.
Como a taxa cupom de 10% é superior a taxa de mercado, o preço do seu título aumentará.
Para medir a sensibilidade do preço dos títulos de renda fixa às variações dos juros, o mercado utiliza o conceito de duration.
A duration mede a rapidez com que um título responde às alterações nas taxas de juro e a quantidade de tempo necessária para um investidor recuperar o seu investimento original.
Veja abaixo de forma simplificada, dois investimentos, sem considerar a composição dos rendimentos e os reinvestimentos:
Investidor 1
Compra de um título no mercado secundário por R$ 1 mil, uma taxa cupom de 10% ao ano e prazo de 20 anos.
- Duration = 10 anos, 10% de R$ 1 mil = R$ 100 => em 10 anos o investidor terá o capital investido de volta.
Investidor 2
Compra de título no mercado secundário por R$ 1,2 mil
Características do título: valor de face R$ 1 mil, taxa cupom de 10% ao ano, prazo de 20 anos.
- Duration = 12 anos, 10% de R$ 1mil = R$ 100 => em 12 anos o investidor terá o capital investido de volta.
Comparando os dois investimentos, feitos em títulos com as mesmas características, mas preços diferentes, o investidor 1 receberá o capital originalmente investido, em menos tempo e estará exposto a menor risco do que o investidor 2.
Portanto, a duration estima o prazo de retorno do capital investido, permitindo a comparação entre diferentes títulos disponíveis para compra no mercado.
Estratégias de investimento em títulos de renda fixa
Os investidores em títulos de renda fixa podem escolher entre estratégias passivas e ativas, dependendo do objetivo que os títulos irão desempenhar nas suas carteiras de investimento.
As estratégias de investimento passivo incluem comprar e manter títulos até o vencimento.
As abordagens passivas podem ser adequadas aos investidores que procuram a preservação do capital, rendimento e diversificação, mas sem intenção de especular sobre as variações de preços decorrentes das mudanças da taxa de juros, alterações na qualidade de crédito ou do ambiente de mercado.
Estratégias passivas eficientes costumam optar pela diversificação dos prazos de vencimento, geralmente com intervalos de um ou dois anos. À medida que os títulos vencem, o dinheiro é reinvestido mantendo um fluxo constante.
As estratégias de investimento ativas tentam superar a rentabilidade contratada, através da compra e venda dos títulos procurando se valer do movimentos de preços.
Os investidores ativos tentam comprar títulos de renda fixa subvalorizados, na expectativa de que uma alta dos preços, possa levar retorno superior à taxa cupom.
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