Empresas que têm custo ou dívida em dólar, mas contabilizam sua receita em reais, são imediatamente afetadas. Esse é o caso de companhias aéreas e algumas varejistas e indústrias.
O BTG Pactual analisou a situação das principais empresas que compõem o Ibovespa. E mostrou que Gol e Azul estão entre as mais atingidas pela desvalorização do real: enquanto essas empresas recebem de seus clientes pagamentos na moeda local, mais da metade de seus custos é definida em dólar, com grande peso dos combustíveis. Situação semelhante é a da indústria de alimentos M.Dias Branco, que vende praticamente toda a sua produção no Brasil, mas tem cerca de 60% de seus custos em dólar, com grande peso do trigo.
Renner, C&A e Hering também estão na lista das empresas que são mais atingidas. Cerca de 30% dos custos dessas varejistas de moda são definidos pelo dólar (por conta da importação de peças), mas toda a venda é feita no Brasil, em reais. Um descasamento que deve levar a uma piora da margem das companhias, que já vinham enfrentando problemas por causa dos juros altos e concorrência de sites asiáticos.
Não é difícil de entender que o outro lado da moeda são as companhias que exportam e, portanto, recebem de seus clientes pagamentos em dólar. Segundo o BTG, Suzano e Vale são destaques nessa modalidade: elas têm praticamente 100% de suas receitas em moeda americana, e custos atrelados ao dólar bem menores, entre 35% e 60%, respectivamente.
Petrobras tem 80% de suas vendas em dólares (poderia ter 100% se os preços seguissem o mercado internacional, o que não tem acontecido nos últimos meses). Quando se olha para os custos da petroleira, 50% está atrelado ao dólar – uma proporção alta, mas largamente compensada pela receita em moeda forte.
A alta do dólar também poderia beneficiar a Embraer, que tem 93% das vendas em dólares – e 83% dos custos.
Os balanços relativos ao segundo trimestre vão mostrar esse impacto. Mas o efeito do câmbio extrapola a questão contábil. O movimento abrupto de desvalorização cambial desorganiza a vida das empresas, já que elas precisam trabalhar com planejamentos de longo prazo.
Isso leva muita gente a adiar projetos de investimento em expansão, por exemplo. E quando esse movimento é causado pela perda da confiança dos agentes no cenário fiscal, como está acontecendo neste momento, pior ainda.
A desvalorização do real também torna as empresas brasileiras menores diante do investidor estrangeiro que faz as contas em dólar – mesmo que o faturamento em reais aumente, a desvalorização da moeda, por si só, faz a receita cair aos olhos gringos. E como analisar e estudar empresas é algo que custa dinheiro e energia, muitas empresas simplesmente saem do radar desses agentes. E isso pode adiar ainda mais a perspectiva da volta dos IPOs na bolsa brasileira.