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Vagas de emprego em tecnologia estão sumindo – e não voltam tão cedo

Caem as ofertas para engenheiros de software, enquanto aumenta procura por inteligência artificial

Por Katherine Bindley The wall street Journal
Publicado em
11 min
traduzido do inglês por investnews

Procurar um emprego em tecnologia de forma digital, em áreas de recrutamento online, não deu em nada. Glenn Kugelman, então, recorreu a outra tática: papel e fita adesiva.

Kugelman, demitido de um cargo de marketing online no eBay, cobriu os postes de Manhattan com 150 panfletos ao longo de quase três meses no primeiro semestre deste ano. “RECENTEMENTE DEMITIDO”, diziam os cartazes. “PROCURO UM NOVO EMPREGO.”

O jovem de 30 anos afixou os cartazes em frente aos escritórios do Google, do Facebook e de outras empresas de tecnologia, esperando que gerentes de contratação os vissem entre as mensagens de “gato perdido”. Um código QR no panfleto direcionava os interessados para seu perfil no LinkedIn.

“Achei que isso me destacaria”, diz ele. “O mercado de trabalho agora está definitivamente mais difícil do que há alguns anos.” 

Glenn Kugelman afixa cartazes em Manhattan, Nova York, com seu perfil no Linkedin/ Foto: Cam Pollack/WSJ

Antes fortemente cortejado e disputado pelas empresas, os talentos de tecnologia agora lutam por postos de trabalho mais escassos. Essa mudança da sorte para um grupo que nunca teve esse tipo de problema sinaliza mais do que um desconforto temporário. É o redesenho de uma indústria que está readequando suas necessidades de mão de obra e demitindo trabalhadores.

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As postagens oferecendo empregos de desenvolvimento de software caíram mais de 30% desde fevereiro de 2020, de acordo com a Indeed.com. As demissões no setor continuaram este ano, com as empresas de tecnologia cortando cerca de 137 mil empregos desde janeiro, de acordo com o Layoffs.fyi. Muitos trabalhadores de tecnologia, jovens demais para terem vivido o estouro da bolha das pontocom no início dos anos 2000, agora enfrentam pela primeira vez as dificuldades de encontrar trabalho. 

Estratégias das empresas

As estratégias das empresas também estão mudando. Em vez de crescimento a todo custo e investimento em grandes projetos, elas se concentraram em produtos e serviços geradores de receita. Reduziram as contratações de novatos, cortaram equipes de recrutamento e descartaram projetos e empregos em áreas que não eram grandes geradoras de dinheiro, incluindo realidade virtual e dispositivos. 

Ao mesmo tempo, começaram a investir enormes recursos em Inteligência Artificial. O lançamento do ChatGPT no final de 2022 deu uma ideia da capacidade da IA generativa de criar conteúdo semelhante ao humano e potencialmente transformar as indústrias. Isso desencadeou um frenesi de investimentos e uma corrida para desenvolver sistemas de IA mais avançados. Trabalhadores com experiência na área estão entre as poucas categorias fortes. 

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“Faço isso há algum tempo. E conheço bem os ciclos de crescimento e contração [de demanda da indústria de tecnologia]”, diz Chris Volz, de 47 anos, gerente de engenharia que mora em Oakland, na Califórnia. Ele trabalha com tecnologia desde o fim dos anos 1990 e foi demitido em agosto de 2023 de uma empresa imobiliária que tem a tecnologia como diferencial (real estate tech company). “Desta vez foi bem diferente.” 

Na maioria de seus empregos anteriores, Volz foi contatado por um recrutador ou conseguiu um cargo por meio de uma indicação. Desta vez, descobriu que praticamente todos em sua rede também haviam sido demitidos e teve que enviar currículos pela primeira vez em sua carreira. “Os contatos secaram”, diz ele. “Eu me candidatei a, sei lá, uns 120 cargos diferentes e só tive três retornos.”

Ele se preocupava com os pagamentos do financiamento imobiliário de sua casa. Finalmente, há alguns meses conseguiu um emprego, mas teve que aceitar um salário 5% menor.

Nada de tapete vermelho

Durante a pandemia, quando os consumidores mudavam grande parte de sua vida e gastos online, as empresas de tecnologia continuaram contratando, e muito. Os recrutadores atraíram funcionários em potencial com generosos pacotes de remuneração, promessas de flexibilidade perpétua, locais luxuosos e até mesmo uma fazenda de bem-estar. A disputa por talentos foi tão acirrada que as empresas acumularam trabalhadores para mantê-los longe de seus concorrentes – alguns funcionários dizem que foram efetivamente contratados para não fazerem nada.

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Na sequência, à medida que a inflação e as taxas de juros mais altas esfriaram a economia, veio a desaceleração. Alguns dos maiores empregadores de tecnologia, que nunca haviam feito demissões em grande escala, começaram a cortar dezenas de milhares de empregos

A empresa de serviços de folha de pagamento ADP começou a monitorar o emprego de desenvolvedores de software entre seus clientes em janeiro de 2018, observando uma subida constante até atingir um pico em outubro de 2019. 

O aumento das contratações durante a pandemia desacelerou a tendência geral de queda, mas não a reverteu, de acordo com Nela Richardson, chefe da ADP Research. Uma das causas é a trajetória natural de uma indústria baseada em inovação. “Você não está abrindo tanto novos caminhos no espaço digital como em períodos anteriores”, diz ela, acrescentando que, cada vez mais, “existe uma solução tecnológica em vez de sempre ser uma solução de pessoal”. 

Alguns candidatos a emprego dizem que não se sentem mais paparicados. Alguns meses atrás, um ex-gerente de produto em San Francisco, que foi demitido da Meta Platforms, estava indo para uma entrevista a cerca de uma hora de distância quando recebeu um e-mail da empresa dizendo que deveria fazer um teste de redação em três partes quando chegasse. Quando ele chegou ao escritório, não havia ninguém lá, exceto um recepcionista. Seus entrevistadores apareceram cerca de três horas depois, mas apenas disseram a ele para terminar o teste de redação e não o entrevistaram. 

A tendência de salários maiores e títulos elaborados que não correspondem à experiência se inverteu, de acordo com Kaitlyn Knopp, CEO da startup de planejamento de remuneração Pequity. “Vemos que os níveis estão sendo redefinidos”, diz ela. “As pessoas estão alinhando de forma mais adequada sua experiência ao escopo.”

O crescimento salarial ficou praticamente estagnado em 2024, de acordo com dados da Pequity, do software de mesmo nome que as empresas usam para desenvolver faixas salariais e rodar ciclos de remuneração. Os salários aumentaram em média apenas 0,95% em comparação com o ano passado [abaixo da inflação no período]. O capital destinado a funções de nível básico em empresas de software prestadoras de serviço diminuiu 55% em média desde 2019, descobriu a Pequity.

As empresas agora buscam um conjunto muito mais amplo de habilidades em seus engenheiros. Para fazer mais com menos, buscam pessoas que possuam habilidades sociais e colaborativas para um trabalho de equipe, além de um conhecimento prático dos rumos que a empresa precisa seguir com sua estratégia de IA, diz Ryan Sutton, diretor executivo da área que atende empresas de tecnologia da empresa de recrutamento Robert Half. “Elas querem pessoas mais versáteis.”

Alguns trabalhadores de tecnologia começaram a tentar ampliar suas habilidades, inscrevendo-se em boot camps de IA ou outros cursos. 

Michael Moore, engenheiro de software em Atlanta que foi demitido em janeiro de uma empresa de desenvolvimento de aplicativos e web, decidiu se matricular em uma faculdade online depois que sua busca de emprego de sete meses não deu em nada. Moore, que aprendeu a programar em cursos online, diz que não ter um diploma universitário não o impedia de arrumar emprego há seis anos. 

Agora, com mais concorrência de trabalhadores que foram demitidos, bem como daqueles que estão entrando no mercado de trabalho, ele diz que espera mostrar aos empregadores em potencial que está a caminho de obter um diploma. E também pode fazer uma aula de IA se a escola oferecer. 

Aos 40 anos, ele diz que consegue cerca de duas a três entrevistas para cada cem vagas a que se candidata, acrescentando: “Não é uma boa proporção”.

A dificuldade para iniciantes

Os estágios de tecnologia já pagaram salários equivalentes a seis dígitos por ano e muitas vezes levaram a empregos em tempo integral, diz Jason Greenberg, professor associado de administração da Universidade Cornell. Mais recentemente, as empresas reduziram o número de estágios que oferecem e passaram a abrir menos vagas para o nível básico. “Não estamos mais em 2012. Não é o mercado em alta para quem tem grau universitário”, diz Greenberg.

Myron Lucan, jovem de 31 anos de Dallas, recentemente começou um curso de programação para fazer a transição de sua carreira na Força Aérea para um emprego na indústria de tecnologia. Desde que se formou em maio, todas as listas de empregos de nível básico que vê exigem alguns anos de experiência. Ele acha que se conseguir uma entrevista, poderá explicar como suas habilidades de trabalho com os sistemas de computador de aviões podem ser transferidas para um trabalho de criação de bancos de dados para empresas. Mas depois de tentar por quase dois meses, não conseguiu nenhuma entrevista. 

“Tenho esperança de conseguir um emprego, sei que posso”, diz ele. “É realmente chato esperar que alguém me veja.” 

Alguns trabalhadores não técnicos do setor, incluindo marketing, recursos humanos e recrutadores, foram demitidos várias vezes.

James Arnold passou os últimos 18 anos trabalhando como recrutador em tecnologia e foi demitido duas vezes em menos de dois anos. Durante a pandemia, estava trabalhando como descobridor de talentos para a Meta, trazendo novas contratações em um ritmo rápido. Ele foi demitido em novembro de 2022 e passou quase um ano procurando emprego antes de assumir um cargo em outro setor. 

Quando surgiu uma nova oportunidade em uma empresa de veículos elétricos no início deste ano, Arnold ficou tão nervoso com a possibilidade de não dar certo que manteve o outro emprego por vários meses e trabalhou secretamente para as duas empresas ao mesmo tempo. Ele finalmente pediu demissão do primeiro emprego, mas acabou sendo demitido pela startup de EV um mês depois.  

“Eu tinha dois empregos e agora não tenho nada e provavelmente poderia ter pelo menos um”, lamenta.

Arnold diz que a maioria dos empregos para os quais está se candidatando paga um terço a menos que de costume. O que o irrita é que as empresas de tecnologia se recuperaram financeiramente, mas algumas delas estão contando com mais consultores e terceirizando funções. “A Covid provou que o trabalho remoto funciona e agora abriu o mercado de trabalho para a globalização nesse sentido”, acredita ele. 

Um lado bom da indústria: pessoas que trabalharam com grandes modelos de linguagem que alimentam produtos como o ChatGPT podem facilmente encontrar emprego e ganhar mais de US$ 1 milhão por ano. 

Knopp, a CEO da Pequity, diz que os engenheiros de IA estão recebendo de duas a quatro vezes o salário de um engenheiro regular. “É um investimento extremo por conta de uma tecnologia desconhecida”, diz ela. “Eles não podem se dar ao luxo de investir em outros talentos por causa disso.”

Empresas fora do setor de tecnologia também estão trazendo novos talentos especializados em IA. “Cinco anos atrás, não tínhamos um conselho perguntando a um CEO: Qual é a estratégia de IA? O que estamos fazendo pela IA?”, diz Martha Heller, que trabalha com busca de executivos há décadas. Se o CIO tiver apenas um conhecimento superficial, acrescentou, “o conselho não terá uma boa experiência”. 

Kugelman, por sua vez, afixou seu último panfleto em maio. Acabou aceitando um contrato de merchandising de seis meses com uma empresa de tecnologia — depois que um recrutador o encontrou no LinkedIn. Ele espera que o trabalho se transforme em um emprego de tempo integral.

Escreva para Katherine Bindley em [email protected] e Joseph Pisani em [email protected]

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