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Traficantes invadem mina de ouro na Colômbia e saqueiam toneladas do metal

Mineiros estão saqueando uma das maiores jazidas de ouro da América Latina, liderados por homens armados que tomaram túneis de uma gigante da mineração chinesa

Por Juan Forero The wall street Journal
Publicado em
11 min
traduzido do inglês por investnews

A cerca de 700 metros de profundidade na mina de ouro mais rica da Colômbia, seguranças privados se agacham atrás de sacos de areia, presos em uma batalha inglória contra uma gangue de traficantes de drogas que ocupou quase 50 quilômetros de túneis que valem centenas de milhões de dólares.

O ar sob o solo é quente, úmido, às vezes tóxico, e o trabalho é perigoso — defender passagens claustrofóbicas contra explosivos e tiros de rifles AK-47. No ano passado, dois guardas foram mortos e vários outros ficaram feridos. Do outro lado, enfrentando seus próprios perigos, há cerca de dois mil mineiros ilegais.

A escala da pilhagem é impressionante. A proprietária da mina, a empresa estatal chinesa Zijin Mining Group, estimou que no ano passado perdeu mais de 3,2 toneladas de ouro no valor de cerca de US$ 200 milhões, o equivalente a 38% da produção total da mina. A mineração ilegal, um processo lento e trabalhoso que continua em grande parte sem policiamento pelas autoridades, é uma guerra que “está sendo perdida”, disse um oficial de segurança da Zijin.

Sistema de teleférico da Zijin em sua mina na Colômbia. Foto: Nicolas Enriquez/WSJ

Mineiros ilegais nas minas da Zijin e em outras partes da Colômbia obtêm acesso, proteção e equipamentos do Clã do Golfo, milícia armada de cerca de sete mil homens que transporta cocaína e migrantes ao longo de rotas que chegam aos Estados Unidos. O grupo garante acesso clandestino aos túneis da empresa em troca de uma parte do espólio. 

A mineração ilegal de ouro na América do Sul se expandiu nos últimos anos, segundo autoridades do governo, impulsionada pelo preço recorde do metal, que subiu 30% este ano, para cerca de US$ 2.600 a onça troy. Os garimpeiros trazem dragas e escavadeiras pelas selvas, provocando conflitos com grupos indígenas locais, e usam mercúrio para separar o ouro da rocha, poluindo áreas da floresta Amazônica em vários países.

Como mostra a história, a atração do ouro pode ser irresistível. Alguns dos mineiros invasores da Colômbia conseguem US$ 5 mil ou mais em ouro por mês, uma soma quase igual ao que executivos de negócios ganham. Desde 2019, cerca de 18 mineiros ilegais morreram em acidentes na mina Zijin, disseram funcionários da empresa.

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“Os salários são muito bons, mas você arrisca tudo”, disse Erik Dubier, mineiro ilegal de 22 anos. “Você pode ficar preso. Há deslizamentos de pedras e combates todos os dias.”

A Zijin Mining, que opera em todo o mundo, entrou com uma ação de US$ 430 milhões no Centro Internacional para a Resolução de Disputas sobre Investimentos do Banco Mundial, alegando que as autoridades colombianas não estão fazendo seu trabalho. A Zijin estima que os garimpeiros ilegais controlam mais de 60% de seus túneis de mineração nas montanhas ao redor de Buriticá, a duas horas de carro de Medellín.

A empresa comprou a mina em 2020 da canadense Continental Gold por US$ 1 bilhão, parte do esforço global de Pequim para ter acesso a metais preciosos. Leizhong Li, CEO da empresa, disse que as incursões violentas se tornaram uma ameaça diária — com pouca ajuda governamental. 

Um mineiro fazendo uma pausa na perfuração. Foto: Nicolas Enriquez/WSJ

“Tentamos falar com o governo durante todo o ano passado, mas não vimos muita disposição”, disse Li. A empresa estimou que a Colômbia perdeu o equivalente a US$ 100 milhões em impostos e royalties no ano passado.

Daniela Gómez, vice-ministra da Defesa, disse que o país não tem capacidade para expulsar os mineiros clandestinos do “teatro subterrâneo de operações”. O governo, segundo ela, quer evitar confrontos violentos que possam colocar civis em perigo.

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“As exigências feitas pela empresa não são realistas”, disse Gómez. A Zijin comprou a operação da mina de ouro “sabendo que havia extração ilegal de minérios”, disse ela.

Nos últimos quatro anos, os mineiros ilegais construíram uma rede de túneis tão vasta que os engenheiros da Zijin disseram que a montanha começou a se parecer com queijo suíço, entrecortada por passagens improvisadas e túneis que partem de cerca de 380 entradas acima do solo. O Clã do Golfo oferece cama, cozinha, banheiro e segurança.

A gangue também providencia profissionais do sexo, maconha e outras drogas aos mineiros durante temporadas de uma semana. “Tem de tudo lá”, contou Dubier.

Guerra de trincheiras

Mineiros ilegais entram na mina Zijin a partir de uma série de pequenas casas em uma montanha que abriga uma das maiores jazidas de ouro da América Latina. 

Eles usam cargas explosivas e brocas para abrir o chão do banheiro e perfurar centenas de metros de pedra e argila. Centímetro por centímetro, escavam passagens para chegar aos túneis da Zijin.

O chefe da segurança privada da Zijin falando com um dos guardas armados da empresa em uma barricada construída para impedir a entrada de mineradores ilegais. Foto: Nicolas Enriquez/WSJ

Combatentes da milícia forçam a retirada das forças de segurança da empresa com explosivos e tiros, cenário que um trabalhador da empresa descreveu como guerra de trincheiras. A Zijin disse que não consegue manter a posse dos túneis, um recuo que põe em risco o futuro de sua concessão da mina de ouro.

“Isso acontece todos os dias”, disse Li sobre os confrontos subterrâneos. A empresa estimou que teve que abandonar cerca de 40 toneladas de ouro nas áreas tomadas pelo Clã do Golfo e pelos mineradores ilegais.

Gómez, a vice-ministra da Defesa, descreveu os obstáculos legais para revistar casas e prender mineiros. “Posso ir a Buriticá amanhã e prender 300 pessoas”, disse ela. “O juiz vai liberá-las à noite.”

Em uma recente visita aos túneis subterrâneos, o oficial sênior de segurança da Zijin na mina mostrou a parede de sacos de areia que separava as operações da empresa dos invasores, que trabalhavam a menos de cem metros de distância. As vozes dos mineiros cortavam a escuridão.

Guardas armados da segurança privada da Zijin vigiando atrás de uma barricada de sacos de areia. Foto: Nicolas Enriquez/WSJ

“Toda a mineração daqui para lá foi perdida”, disse ele, apontando para as luzes distantes onde os mineiros ilegais trabalhavam. “Eles avançam progressivamente e se apropriam das áreas.”

Os mineiros costumam tomar os túneis da Zijin primeiro jogando explosivos e atirando nos guardas, disse o oficial de segurança. Eles usam brocas e promovem até 250 detonações por dia para romper a rocha. Seu avanço custou à Zijin duas das três seções da mina.

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A parte mais rica e profunda da mina de ouro permanece nas mãos da empresa. A Zijin tem cerca de 4.500 trabalhadores lá e em centros de processamento. A empresa escava cerca de quatro mil toneladas de rocha por dia, o que rende uma média de 24 quilos de ouro.

“É um problema tremendo”, disse Javier Sarmiento, investigador que monitora problemas nas minas de Buriticá para o Gabinete do Inspetor-Geral da Colômbia, uma agência estatal.

“Falta de controle”

Executivos da Zijin disseram que a batalha clandestina piorou após a eleição do presidente esquerdista Gustavo Petro em 2022. Governos anteriores receberam bem as empresas de mineração estrangeiras, incluindo a Zijin. Mas Petro e seus ministros criticam a mineração em grande escala, dizendo que querem mudar a economia para indústrias sustentáveis como o cultivo de abacate e o turismo. 

O governo da Colômbia diz que o país precisa transformar a economia de Buriticá para que os cidadãos tenham a opção de melhores empregos. As autoridades dizem que querem abrir caminho para que os mineiros ilegais formem cooperativas legais para administrar pequenas minas. Algumas autoridades sugeriram que a Zijin abrisse mão de partes de suas propriedades em nome dos invasores, em uma tentativa de paz. 

Um mineiro organizando cargas explosivas durante uma operação de mineração. Foto: Nicolas Enriquez/WSJ

“Em algumas áreas dessa concessão não há exploração, não há atividade”, disse Luis Álvaro Pardo, presidente da Agência Nacional de Mineração. “Então, dizemos: ‘Zijin, ceda algumas partes.”

O governo anterior tinha políticas mais agressivas contra grupos armados, afirmou Li, o CEO da empresa. Em 2016, a Colômbia lançou a Operação Creta, que fechou mais de 250 passagens ilegais para a mina ao longo de quatro anos.

A Zijin disse que a Colômbia precisa fechar novamente as rotas usadas por criminosos que roubam o ouro da empresa. “Achamos que a política não é favorável à mineração e às multinacionais”, disse Li. “Como as autoridades podem ignorar a situação e não agir?”

O Gabinete do Inspetor-Geral do Estado pediu ao governo que desenvolva um plano de ação para impedir o roubo, disse Sarmiento. O pedido não foi atendido. “Tem muito a ver com política”, disse ele. “A chegada deste novo governo parece não ter sido favorável à situação.”

O brigadeiro-general William Castaño, que supervisiona uma equipe policial designada para a mina, disse que suas forças confrontam regularmente mineiros ilegais. “Há intervenções quase todos os dias”, afirmou ele.

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Sarmiento e os executivos da Zijin disseram que o Estado deveria tentar cortar a eletricidade que alimenta as perfuradoras usadas pelos ilegais. Eles disseram que a polícia e as tropas destacadas em Buriticá poderiam inspecionar os veículos que trafegam na única estrada que leva à mina. Os veículos transportam equipamentos e suprimentos e saem carregados com minério de ouro roubado, de acordo com executivos da Zijin.

“Isso é pura falta de controle das autoridades”, disse Sarmiento.

Mulas em fila para serem carregadas com equipamentos e suprimentos para levar aos mineiros ilegais que trabalham nos túneis de Zijin. Foto: Nicolas Enriquez/WSJ

Milhares de mineiros vieram de outras partes da Colômbia e da vizinha Venezuela em busca de fortuna. Alguns saíram dos túneis da Zijin para depósitos de ouro em La Centena, mina a poucos quilômetros de distância. Esses mineiros negam a alegação da Zijin de que estariam roubando ouro da empresa.  

Recentemente, Andres Rave, mineiro mais velho de La Centena, caminhava pela água e pela lama acumulados no chão de um dos túneis de La Centena. Ele e um punhado de outros colegas abriram passagens que se estendem por centenas de mentros montanha adentro.

Com a luz de seu capacete iluminando rochas coloridas e escarpadas, Rave passou a mão ao longo de uma camada distinta de minerais. “Este veio que corre aqui”, disse ele, “é o que contém o ouro”.

Partículas de poeira flutuavam no ar. Rochas caíam das paredes e do teto dos túneis. Duber Antonio Quiros não prestou muita atenção nisso. Ele e outros mineiros trabalhavam para reforçar túneis da altura de um homem com vigas de madeira. Os mineiros comerciais usam equipamentos de perfuração para construir túneis escorados em aço e concreto. Alguns são grandes o suficiente para caminhões.

“Nós, pequenos mineradores, não temos a tecnologia das grandes empresas”, disse Quiros. “Mas isso entra no seu sangue e se torna sua paixão.”

Escreva para Juan Forero em [email protected]

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