“Tá trabalhando no Cirque Du Soleil, Chalim?”. A reação, entre a zoeira e a admiração, foi ao vídeo que Chalim Savegnago mandou no grupo de WhatsApp dos dirigentes da Associação Paulista de Supermercados, a Apas. O presidente dos supermercados Savegnago fazia abdominais vigorosas – de ponta cabeça, com os pés presos a uma barra de ferro suspensa.

Aos 65 anos, Sebastião Edson Savegnago (lê-se savenhágo), o Chalim, já superou em um ano a idade em que seu pai, Aparecido Savegnago, escolheu se aposentar. Foi Aparecido quem fundou a rede de supermercados em 1976, na cidade de Sertãozinho, região de Ribeirão Preto (SP).

O negócio permaneceu na família, agora sob a liderança dos filhos. À frente do grupo estão os irmãos Chalim, presidente da rede e vice-presidente do conselho de administração, e Toninho, vice-presidente da rede e presidente do conselho. Parceiros na gestão e no legado, cada um possui 50% do negócio.

“Nós não temos dois lados”, conta Chalim ao InvestNews. “Tem um lado só da corda para puxar. Todo mundo puxa junto, né?”

Dono de 63 unidades do Savegnago Supermercados, de cinco do Paulistão Atacadista e de três mercados menores, os Savegnago Prático, o grupo deve fechar 2024 com faturamento de R$ 6,6 bilhões – a previsão para 2025 é de um bilhão a mais. A cifra deste ano já o coloca entre os 10 maiores do Estado de São Paulo e entre os 15 maiores do Brasil.

Incluindo ainda os centros de distribuição, manutenção, postos de combustível e a sede administrativa – ainda em Sertãozinho –, o Grupo Savegnago emprega mais de 12 mil pessoas.

E tudo isso se valendo de um estilo de gestão bem conservador.

Primeiro ganha, depois investe

“O dinheiro que eu invisto aqui é o dinheiro que eu ganho aqui. Tenho que ganhar primeiro para depois investir”, diz Chalim. Segundo ele, não faltam ao grupo propostas de empréstimos e de operações financeiras que poderiam acelerar a expansão da rede, mas os bancos e os gestores costumam sair frustrados das conversas com o presidente do Savegnago.

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O endividamento do grupo, diz Chalim, é praticamente zero. Também há pouco espaço para investidores externos. Além das holdings familiares dos dois irmãos e dos fornecedores do grupo, só lucram com o Savegnago os donos dos imóveis e dos terrenos nos quais operam os supermercados.

E eles são menos da metade da rede. Dos 68 prédios nos quais funcionam as unidades Savegnago e Paulistão Atacadista, 37 pertencem à empresa patrimonial do grupo, a Savegnago Empreendimentos e Participações (SEP), que recebe os alugueis pagos pelas unidades. O aluguel que o Savegnago deposita para o próprio Savegnago é o dinheiro que financia a expansão da empresa como um todo.

Chalim Savegnago, presidente do Grupo Savegnago. Créditos: divulgação

Não há distribuição dos lucros da SEP. Tudo é reinvestido na própria empresa, a fórmula do “endividamento quase zero” do grupo. Primeiro ganha, depois investe.

“Assim, fizemos o caminho da Anhanguera e da Bandeirantes sem quebrar”, diz Chalim, em referência às principais rodovias das regiões que concentram os investimentos do grupo, as de Campinas e de Ribeirão Preto. Já são 22 municípios, todos no interior de São Paulo, que juntos somam 6,7 milhões de habitantes

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‘Erre’ puxado

A identidade caipira é parte do modelo de negócios. Não à toa, o slogan da Savegnago Supermercados é “a rede forte do interior paulista”. Leia com sotaque: FoRte. InterioR; com o “erre” retroflexo, puxado – traduz melhor o espírito interiorano.

Diretor-geral da Apas – e um dos que se impressionou as abdominais de Chalim citadas ali no começo do texto –, Carlos Correa explica que redes de supermercado locais têm a vantagem de estar mais próximas do consumidor e conhecer melhor suas necessidades, o que costuma se traduzir em atendimento mais pessoal e na oferta de produtos específicos para a região.

“Além disso, nas cidades menores, o supermercado tem mais espaço de troca com a comunidade, patrocina até quermesse”, ri Correa. Mas há quermesses e quermesses.

“O Chalim patrocinou Os Independentes quando ninguém queria colocar dinheiro no rodeio”, conta o diretor da Apas. Os Independentes são o clube organizador da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, hoje considerado o maior rodeio da América Latina.

Orgulhosamente “pé-vermelho” e convictamente pé no chão, Chalim agora prepara a próxima geração dos Savegnago para tocar o negócio. Seus filhos, Murilo e Rodolfo, trabalham na empresa e terão a responsabilidade de consolidá-la no cenário supermercadista brasileiro.

Mas não tão cedo. Por ora, a ideia de largar o batente não seduz Chalim. Pelo contrário.

“Quando eu perder a vontade de trabalhar, as pernas não ajudarem mais, aí eu tenho de ser inteligente para passar o bastão, né?”, brinca Chalim, enquanto relembra: “Ontem corri 5 quilômetros em 39 minutos e 42 segundos.”

As pernas – e disposição de Chalim para liderar – ainda estão longe de pedir descanso.